Em tua palavra lançarei a rede.
(S. Lucas 5, 5)
Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria.
O Evangelho de hoje contém uma quantidade imensa de lições e de pontos interessantes para refletir. As multidões seguem Nosso Senhor e o rodeiam para ouvir sua doutrina. Quem era este homem que prende a atenção de uma multidão, que falava e jamais era interrompido, por causa das coisas extraordinárias que falava?
Vemos depois dois barcos. O que podem significar estes dois barcos, um dos quais era de São Pedro? Além disso, é justamente nele que Nosso Senhor entrará, justamente na barca de Pedro. O que simboliza o fato dos pescadores limparem suas redes? Não poderíamos ver aí a obrigação que os padres, pescadores de homens, têm de recolherem-se periodicamente e de limpar os intrumentos que usam para conquistar almas para Nosso Senhor, estudando, aprofundando a Teologia de Santo Tomás, o Doutor dos doutores da Igreja, de revisar o modo como confessam e rezam a Santa Missa e administram os outros Sacramentos, limpando-os dos defeitos e falhas que costumam surgir com o tempo?
Nosso Senhor pede que a barca na qual está se afaste um pouco da terra para que ele possa ensinar. Não devemos ver aqui o distanciamento que devemos ter das criaturas para poder receber os ensinamentos de Deus com frutos, mas um certo distanciamento, que não equivale a um desprezo por aquilo que é obra de Deus.
Nesta barca Nosso Senhor ensinará sentado, como os mestres que tinham autoridade faziam naquela época, e ensinará na barca de Pedro. Quem não vê aqui que é na Igreja de Pedro que só se pode encontrar o ensinamento que vem de Cristo com autoridade?
Cristo, depois, pede para São Pedro ir mais para dentro do mar e lançar as redes. Mais uma vez São Pedro! Como Nosso Senhor tem uma atenção especial por São Pedro nos Evangelhos! Afinal de contas, é sobre ele que Cristo fundará a sua Igreja, é ele que deverá apascentar, governar e dar de comer às suas ovelhas.
Após uma noite toda de trabalhos infrutuosos São Pedro obedecerá ao pedido de Nosso Senhor. Ele poderia, sob certo aspecto, negar este pedido, argumentando que era ele, Simão, que sabia bem pescar, que tinha experiência nestas coisas, que já fazia isso há anos e que não trabalharia uma segunda vez em vão. Mas Simão fez o que Cristo mandou fazer, contra toda esperança humana. E como Nosso Senhor havia instruído a multidão a partir da barca de Pedro, não o deixou sem recompensa e lhe deu dois benefícios: deu-lhe uma multidão de peixes e depois fez dele seu discípulo.
Os peixes apanhados foram tantos que São Pedro se viu obrigado a chamar outros companheiros para ajudá-los. Chamava-os por sinais, porque seu espanto era tão grande que não podia falar. Até agora os milagres de Cristo não o atingiam pessoalmente. Mas esta pesca milagrosa foi para ele, dirigida para São Pedro. Além disso, a quantidade de peixes quase fez o barco afundar, e Nosso Senhor fez assim para deixar claro que era um milagre, uma pesca que fugia do normal.
E que lição devemos tirar desta humildade de São Pedro depois da pesca milagrosa? “Senhor, afastai-vos de mim, pois sou um pecador!” Não devemos aprender que quanto mais bens Deus nos dá, menos presunçosos devemos ser? Que agrada a Deus o fato de sabermos distinguir entre o bom e o mau, entre o que é santo e o que é impuro, de não afirmarmos que o mau é bom, e que o bom é mau?
Ao dizer aos Apóstolos que não devem temer, porque serão pescadores de homens, não devemos concluir que Nosso Senhor dará aos sacerdotes todos os auxílios necessários ao apostolado que farão? Se Nosso Senhor se preocupou em abarrotar a barca de Pedro com meros peixes, porventura ele não se preocupará em encher a barca da Igreja com filhos de Deus, que valem mais do que peixes?
Mas se os padres querem trabalhar por Cristo e encher a Igreja com filhos de Deus, então o Evangelho ensina claramente como devem proceder: “Em tua palavra lançarei a rede“.
É afirmando a doutrina revelada pelo Verbo de Deus, sem mistura de falsos princípios do mundo, que pescam-se filhos de Deus. É possível, mantendo o bom senso, querer ensinar algo melhor do que aquilo que nos ensinou a Sabedoria de Deus encarnada?
Dizer, aos que vivem em concubinato e aos que são divorciados e se juntaram com outra pessoa, que eles podem fazer muitas coisas na Igreja, que eles podem ajudar em tal ou tal organização da paróquia, etc, escondendo o fundamental, isto é, que eles encontram-se em estado de pecado grave, é pescá-los com arpão, é transpassá-los cruelmente, é afundá-los talvez de modo irremediável no erro grave em que estão. É necessário, com a prudência católica e com caridade, sem duvida alguma, dizer que se a morte os encontra neste estado a salvação eterna deles estará definitivamente perdida, para sempre, sem retorno, que a existência deles foi uma existência finalmente fracassada.
Como diz Santo Inácio de Loyola nos seus Exercícios Espirituais, com gente que vive em pecado mortal, o mau espírito prende o pecador e o empurra mais e mais ao pecado. Faz-lhe que veja os prazeres mais vivos, os deleites mais sensíveis. Apresenta-lhe estes objetos de pecado como se fossem a maior felicidade para que se afunde mais e mais, e isto faz com que tenha confiança e felicidade, como se tratasse de coisa normal, indispensável. “Todo o mundo faz”. O Anjo bom, pelo contrário, envia-lhe um dardo, um aguilhão que o fere, que lhe impede de ficar tranquilo: são as censuras da razão. Mostra-lhe as consequências do pecado. O pecador se encontra em estado de condenação. Se seu carro bate contra um poste ou contra um muro, arrisca-se a passar do volante ao juízo de Deus e ao inferno. Isto é claro… indiscutível. O demônio, precisamente, faz que afaste estes pensamentos que converteram tantas almas. E, assim, aquele que confirma o pecador em seu pecado faz o jogo do demônio.
Dizer que cada um pode escolher indiferentemente a religião que bem quiser, e que o importante é ter alguma religião, é fazer o jogo do demônio. Não é lançar a rede na palavra de Cristo. É só da barca de Pedro que Cristo ensina a verdade e com autoridade, e não de outras canoas. Dizer também que as crianças devem ser livres para que escolham, quando adultas, a religião que mais lhes agrada é fazer o jogo do demônio, e não do bom espírito. É como se eles não devessem saber que Deus existe, que há Céu e inferno, que há uma só Igreja que salva, a Igreja Católica. É como se eles não tivessem uma alma capaz de praticar a virtude e que devesse evitar o pecado.
Do mesmo modo: “Padre, teremos somente um filho, assim o educaremos melhor”. Podem ter certeza de que uma criança não é melhor educada que doze. Numa família numerosa e, portanto, como Deus quer, as repreensões que os filhos recebem geralmente não vêm dos pais, mas dos irmãos e irmãs, e isso ajuda muito na educação. Além disso, é importante lembrar, as pessoas se casam para ter filhos e educá-los na religião católica. É para isso que o casamento foi instituído. É esta a finalidade do matrimônio.
É ensinando a doutrina de Cristo, é lançando a rede na palavra de Cristo que os sacerdotes pescam homens. Cristo ordenou aos Apóstolos que ensinassem — “Ide e ensinai” –, e não disse que deviam confirmar as pessoas no pecado, no erro, que continuassem a jogar com o demônio.
É na afirmação clara da fé católica, com a autoridade que Cristo deu aos sacerdotes, que pescamos muitos peixes para Deus. Esta pesca é, finalmente, impossível sem a graça e os auxílios de Deus, que age no interior das almas e que é o rei dos corações. Fazer o casamento entre a Igreja e os princípios da modernidade é esterilizar a graça de Deus e passar a noite toda esforçando-se infrutuosamente. Eis aqui como se deve pescar homens para Deus, não com meios humanos e falsos, mas lançando a rede na palavra de Cristo.
O nosso auxílio está no nome do Senhor, que fez o Céu e a terra.
Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.
Os comentários estão fechados.