Sermão da Festa de Corpus Christi

Aqui está o pão que desceu do Céu.

(S. João 6, 59)

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria.

Primeiramente, como na Festa de Pentecostes, gostaria de agradecer a todos pelos esforços que foram feitos para que mais uma vez pudéssemos ter a Santa Missa na sua forma solene e com um coral polifônico, seguida de uma bela procissão e de um lanche convivial em seguida. Sei que todos se dedicaram muito, tanto os pais como os jovens, e que muitos se mobilizaram bastante para que tivessemos todas as flores e pétalas necessárias para a Santa Missa e a procissão, com as quais a Santa Igreja honra hoje o seu Esposo. Que Deus recompense a todos abundantemente.

A Igreja Católica ensina que, no instante mesmo em que os sacerdotes terminam de pronunciar as palavras da consagração sobre o pão e o vinho, passam a estar presentes o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor sobre o altar.

Feita a consagração, o Corpo de Cristo está sobre o altar e fica ali, o mesmo corpo real e verdadeiro que Nosso Senhor assumiu e uniu a sua Pessoa, formado pelo Espírito Santo, da carne e do sangue da Sempre Virgem Maria, o mesmo corpo que sofreu por nós na Cruz e que ressuscitou glorioso.

Após a consagração não sobra coisa alguma da substância de pão, mas somente as qualidades e características que o pão tinha, como são a cor, o sabor, o cheiro, a figura, e outras semelhantes, e as quais os filósofos e teólogos dão o nome de acidentes.

Nestes acidentes Deus faz um milagre raro. Antes, em quanto ali estava a substância de pão, esses acidentes se encostavam e se sustentavam nele. Porém, assim que foi tirado esse sustento, ou seja, a substância do pão, eles ficaram desamparados, sem apoio, por assim dizer. Não podemos dizer que depois da consagração eles ficam encostados no pão, que já não existe; nem que ficam encostados no Corpo de Cristo, porque está ali glorioso, impassível, e seu corpo glorioso não pode ser alterado ou modificado pela cor, pelo gosto, pelo formato, etc, do pão. Aliás, o corpo humano em geral não pode sustentar esses acidentes. O ar também não pode recebê-los, pois são acidentes que não é capaz de sustentar, que também lhe são alheios.

Somos forçados a concluir que na comunhão os acidentes do pão permanecem depois da consagração, mas agora sem apoio algum. Eles simplesmente estão lá, mantidos na existência pelo poder de Deus, sem estar apoiados em qualquer substância que seja.

Vejam como não pode haver coisa mais fantástica neste mundo: comer Deus, e por um artifício incrível como esse! O que fez com que Deus tivesse idéia tão original e inimaginável?

Sendo as delícias de Deus conversar e passar o seu tempo com os homens, como ele mesmo o disse: “Eu encontro minhas delícias entre os filhos dos homens” (Prov. 8, 31), depois de ser esperado por milhares de anos pelos patriarcas e profetas e pelos homens do mundo inteiro com ansiedade, só viveu conosco trinta e três anos e poucos meses, e somente com uns poucos homens, num lugarzinho pequeno do mundo, a Palestina, ascendendo ao Céu e ficando por lá finalmente. Não parece que este modo de agir de Deus esteja de acordo com esse seu desejo de conversar e de passar seu tempo conosco.

Mas Nosso Senhor nos ama e quer realmente ficar conosco, e como o amor é criativo e sempre encontra um modo de fazer com que aqueles que se amam fiquem juntos, Nosso Senhor encontrou um modo de voltar à direita de Deus Pai ficando ao mesmo tempo conosco. Inventou este prodígio da Eucaristia, onde sabemos com certeza que ele está presente, ainda que não seja visível, porque ele mesmo nos disse e ele não pode se enganar nem nos enganar. Inventou um meio de estar fisicamente presente entre nós, nos consolando e vivificando, entrando no peito daqueles que são seus amigos e daqueles que mais necessitam de alívio nos seus trabalhos.

E se queremos crescer no amor a Nosso Senhor na Eucaristia não há melhor meio do que visitá-lo e recebê-lo quando podemos. Santa Maria Madalena de Pazzi visitava Nosso Senhor na Eucaristia trinta e três vezes por dia. Ela alcançou um amor tão grande por ele que uma vez, quando estava fazendo pão, ouviu tocar a campainha que chamava as religiosas para a hora da comunhão. Saiu com tanta prontidão que foi para a capela com as mangas dobradas e com as mãos cheias de massa.

Quando passamos ao lado de uma igreja, não nos custa visitar Nosso Senhor pelo espaço de um Pai nosso ou de uma Ave Maria. Que mal nos fará confiar a ele, ali, nossas necessidades e preocupações? Vocês podem confiar a ele as suas famílias e os seus filhos, o trabalho de vocês, os pecados dos quais é difícil de se livrar, uma devoção que se quer ter, uma alma que se quer converter, pedir que Deus ajude o bispo da diocese em que vivem e os padres que ajudam vocês — e só Deus sabe de quanta ajuda eles precisam! — ou qualquer outra necessidade.

Finalmente, se por um lado não devemos receber Nosso Senhor com a alma suja de pecados graves, por outro lado, se não temos um pecado grave na alma, não convém deixar de comungar ainda que a preparação seja pouca. Não devemos privar Nosso Senhor do desejo que ele tem de passar o seu tempo com os filhos dos homens, conosco. Depois de comungar, fechemo-nos no nosso quarto interior, tranquemos as portas dos sentidos, deixemos a curiosidade de lado, façamo-nos de cegos, surdos e mudos, porque Nosso Senhor veio tomar conta de nosso coração.

Ele construiu para si uma casa, a Santa Igreja, nos preparou uma mesa, o altar do sacrifício da Santa Missa, nos deu o pão dos anjos e que nos abre as portas do Céu. Peçamos que ele faça de nossos corações um só com o dele, que acabamos de receber, porque tudo o que é dele é nosso na comunhão, e tudo o que é nosso é dele. Assim como, neste sacramento admirável, as figuras do Antigo Testamento deram lugar para a realidade do Novo, que também as coisas antigas dêem lugar à graça de Deus, nos nossos corações, nas nossas palavras, nas nossas obras.

Louvado seja Deus para sempre.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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