Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Na leitura do profeta Isaías vemos bem qual era a finalidade do nascimento de São João Batista, a de preparar os povos para receber Jesus Cristo. Aplica-se também a São João Batista o ser luz dos povos para que a salvação de Deus chegue até os confins do planeta.
Vemos aqui, então, um ode à apologética. A apologética é a arte de defender e explicar a fé aos ignorantes de modo que, removendo o obstáculo da ignorância, possam mais facilmente aderirem à verdadeira fé. Aplica-se também à apologética o cumprimento da passagem da epístola de São Pedro (1Pd 3,15) onde se fala para se “dar razões da própria esperança”. Obviamente, antes de querer convencer os outros da verdade da religião católica é preciso que nós, antes, estejamos também convencidos disso. Por isso, ao ensinar os outros também se aprende, se firma mais na convicção de se estar no caminho certo.
Uma boa interpretação do pedido do Papa atual sobre a Igreja estar “de saída”, não é para ela abandonar a própria casa, suas convicções, e deixá-la apodrecer, mas sim para que saiamos do conforto das nossas vidas e busquemos converter aqueles que estão fora da Igreja Católica, primeiro pela oração, em seguida pelo bom exemplo e, depois, pela apologética, dando argumentos que mostrem o erro em que se encontram, bem como a lógica e coerência da verdade revelada por Deus à Igreja Católica.
Claro que há o modo e o momento certo de se dizer a verdade, ela não pode ser dita de qualquer jeito sob pena de ter o efeito oposto, isto é, da pessoa ter repulsa do que dizemos mais devido à nossa imperícia em tratar do assunto do que do conteúdo propriamente dito. Não adianta gritar na rua como um louco que os protestantes, os judeus, os maometanos etc. estão no erro e correm um grave risco de terminarem a eternidade no inferno, mas é preciso converter as pessoas uma a uma. Primeiro ganhando a confiança, a começar provando não ser um louco. Depois tentando entender o que a pessoa pensa, para saber como abordar o tema da religião de modo proveitoso para ela. Não é o momento de se mostrar e quer aparecer como o melhor, mas sim de fazer algo de útil segundo as capacidades de quem ouve. Saber que o homem aprende aos poucos, logo não adianta falar tudo de uma vez ou forçar a consciência alheia a dar “saltos”, isto é, aderir a conclusões sem ela ter um motivo plausível para tal. Basta pensar em si mesmo um pouco, sabemos que temos resistência para aprender, devido ao nosso orgulho e lentidão na inteligência, por isso não podemos exigir dos outros aquilo que nós mesmos não estamos dispostos a nos submeter.
E o que nos dá confiança em fazer apostolado? É que sabemos que todos somos da mesma espécie humana, logo capazes de conhecer e amar a verdade. Também sabemos que a verdade existe, é única e imutável no tempo e no espaço. Ela é atingível por todos, sobretudo naquilo que é mais essencial ao homem que é o caso de Deus e de sua religião, conforme nos ensinou o Concílio Vaticano I em conformidade com os escritos de São Paulo. Se o brilho a verdade ressoou em nós, também ela pode brilhar nos outros. Não somos relativistas, sabemos que a verdade objetiva pode ser compartilhada com os outros. É por isso que nos comunicamos e aprendemos tantas coisas entrando em contato com o conhecimento alheio. Não desistimos do apostolado porque encontramos resistências devido ao pecado original em nós e nos outros. Em suma, os princípios que nos movem são profundamente diferentes daqueles que movem o falso ecumenismo moderno que busca apenas o que haveria de comum entre as religiões, como se fosse impossível convencer os não-católicos a se tornarem católicos por meio de argumentos racionais. Ao contrário, a sã apologética, conforme já ensinava Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, sabe que podemos partir daquilo que temos em comum com os outros, mas não para ficar estagnado ali, mas para ajudar o outro a progredir na verdade. A partir da Bíblia mostramos que os protestantes estão errados e a verdade está do lado da Igreja Católica. Com o Antigo Testamento mostramos aos judeus que eles não seguem as profecias e a Lei ao contrário do que ocorre na Igreja Católica. Jesus Cristo já foi o primeiro a fazer apostolado com eles mandando-os interpretar o salmo que fala: “Disse o Senhor ao meu Senhor”, alusão à Santíssima Trindade desconhecida dos judeus e reconhecida e adorada como se deve na Igreja Católica. Aos maometanos, ateus e outros infiéis e não-batizados, pelo uso da razão natural, comum a todos os homens, mostramos como a única religião que está de acordo com a natureza do homem e explica de modo adequado e coerente o resto do universo é a Igreja Católica. Enfim, a cada não-católico há um ponto de partida diferente, o pouco de verdade que eles possuem, para a partir disso chegarem ao pleno conhecimento da grande obra da salvação operada em Jesus Cristo.
A fé vem pelo ouvido, passando pela inteligência e pela vontade. Sem a inteligência, mas apenas com os sentimentos, não se obtém a verdadeira fé, no máximo um entusiasmo passageiro, mas que não resiste à prova do tempo. Infelizmente, muitos dos que se dizem hoje católicos têm uma adesão meramente sentimental à Igreja Católica, que deixa de existir diante do menor ataque feito. O vírus do modernismo, que iguala a fé ao sentimento, preparou o terreno para que ocorresse a apostasia que se vê em larga escala no mundo, sobretudo na Europa. Da nossa parte, devemos abandonar esse sentimentalismo em suas diversas formas para aderir à fé como é próprio ao ser humano, isto é, pela razão. São os animais que se movem pelos sentimentos, não é esse o projeto de Deus para nós, seres racionais.
Se não sabemos por onde começar, não é preciso ir longe, até a África ou a China, basta olhar quem nos rodeia para saber onde a religião católica faz falta. Olhemos para nós mesmos para aprender cada vez mais sobre o que a religião tem a nos ensinar. Desde o catecismo até manuais de apologética que nos ajudam a começar a aprender como bem argumentar, como o do Boulenger, por exemplo.
Que Nossa Senhora, sede da sabedoria, interceda por nós para que possamos imitar o exemplo de São João Batista preparando o caminho para Cristo no coração dos homens.
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
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