Sermão da Festa de Pentecostes

E veio do céu um estrondo semelhante ao de um vento violento: e ele encheu toda a casa onde estavam reunidos.

(Atos dos Apóstolos II, 2)

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria.

Primeiramente gostaria de agradecer o esforço feito por todos para que hoje, numa das maiores festas que temos no ano litúrgico, pudéssemos ter a Santa Missa na sua forma solene, com uma equipe litúrgica bem preparada, com belos arranjos de flores e com um coral polifônico. Que Deus lhes recompense toda esta dedicação pela sua Igreja.

A festa de Pentecostes é, depois do Domingo de Páscoa, a maior festa que temos na Igreja. Por isso a solenizamos tanto. Toda esta grandeza que vemos manifesta a importância da festa de hoje. Mas para a compreendermos é preciso dirigir nossa inteligência para contemplarmos um pouco a ação do Espírito Santo na Igreja, fundada pessoalmente por Cristo.

Antes de subir ao Céu Nosso Senhor prometeu a seu discípulos que rogaria ao Pai para que recebessem o Espírito Santo. E agora, depois da leitura de hoje, sabemos com que abundância ele foi dado aos apóstolos. Hoje o Espírito Santo tomou posse da Igreja a tal ponto que dizemos que o Espírito Santo é a alma da Igreja.

É ele que fecunda as águas do batismo, que unge os que são crismados para que sejam soldados de Cristo; se atribui ao Espírito Santo a transubstanciação do pão e do vinho no corpo e sangue de Cristo; os pecados são perdoados na confissão pelo Espírito Santo; no dia do casamento ele é invocado para que os esposos possam, com sua vida, imitar a união que existe entre Cristo e a Igreja; na extrema-unção se pede que ele cure o enfermo de suas dores e culpas; ele é invocado nas ordenações dos ministros da Igreja; enche as almas com seus dons, seus frutos e seus carismas.

Vêem com quanta vida o Espírito Santo enche a Igreja? Por isso dizemos no Credo: “Creio no Espírito Santo, Senhor e vivificador“. Ele é verdadeiramente a alma da Igreja, o princípio vital que anima esta sociedade sobrenatural, que a rege e que une entre si cada um de nós e nos dá vigor espiritual e beleza.

Mas, pensemos um pouco: que o Espírito Santo seja a alma da Igreja, o que isto quer dizer exatamente? Esta é uma das verdades mais repetidas e mais incompreendidas pelos católicos. É necessário precisar, com todo o rigor teológico, em que sentido o Espírito Santo é a alma da Igreja.

Antes de tudo, é evidente que o Espírito Santo não pode ser a forma substancial da Igreja, no mesmo sentido da alma humana que anima o corpo ao qual está unida. No ser humano a alma se une a uma porção de matéria para formar um único e mesmo ser. É claro que o Espírito Santo não pode ser alma da Igreja neste sentido. A alma é parte do ser humano, juntamente com o corpo ao qual está unida. Ora, Deus não pode ser parte de nada e de ninguém. Se fosse assim se seguiria que a Igreja teria um ser divino, que formaria uma só coisa com Deus e que a Igreja seria Deus, o que é filosoficamente absurdo e teologicamente herético.

Mas a alma tem outras funções além de formar um único ser com a matéria à qual está unida. Ela unifica as partes do corpo entre si, as vivifica e as move. É isto que o Espírito Santo pode fazer e de fato faz como alma da Igreja.

Na Igreja há uma enorme diversidade de membros. Há os que obedecem e os que governam, e entre esses há um que tem o governo total, o Papa, com um poder de extensão universal e de intensidade máxima, e os outros que têm um poder limitado: bispos e padres. Há os que fazem milagres, profetizam e ensinam; há santos imensos, outros são menos santos, há os que têm o mínimo necessário para que se salvem e outros que nem isso têm.

Porém, apesar de tanta diversidade, há uma unidade íntima entre todos eles. Cristo pediu a seu Pai uma união íntima entre todos aqueles que deviam ser membros da Igreja: “Que todos sejam um, como nós somos um” (S. João 17, 21-22), oração que frequentemente é muito mal interpretada.

Notemos que Cristo pede para sua Igreja uma unidade parecida com a que ele tem com seu Pai. Na Trindade o Pai e o Filho são duas pessoas realmente distintas entre si. Mas comparados ao Espírito Santo constituem um mesmo princípio. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho por uma mesma ação. Ele não procede do Pai e do Filho separadamente, mas procede dos dois como de um só princípio. Além disso o Espírito Santo é o amor que o Pai e o Filho têm um pelo outro. Ora, é a caridade que unifica a Igreja e o Espírito Santo a unifica pelo amor.

O Espírito Santo também vivifica a Igreja. A Igreja é um ser vivo no sentido autêntico da palavra.

Todas as sociedades humanas têm vida em um certo sentido: agem, se desenvolvem, se aperfeiçoam. Mas o princípio que as anima, que é a finalidade à qual se propõem, está fora delas. Ora, nos seres vivos os movimentos procedem de dentro deles.

A Igreja, ao contrário das sociedades humanas, tem um princípio vivificador intrínseco. Foi pelo Espírito Santo que o corpo físico de Nosso Senhor, fundador da Igreja e Cabeça dela, foi gerado pela Virgem Maria; é pelo Espírito Santo que, no batismo, seus membros são gerados para a vida sobrenatural. O dia de Pentecostes foi a proclamação oficial dessa sociedade estabelecida por Cristo, e neste dia vemos também o Espírito Santo e a Virgem Maria cooperando com o Corpo Místico de Cristo. O Espírito Santo dá vida à Igreja e aos seus membros não de fora, mas de dentro, como a alma o faz com o corpo.

Finalmente, como a alma move e governa o corpo, o Espírito Santo move e governa a Igreja. Para governar é necessário conhecer e amar, e é o Espírito Santo que dá, aos seus membros, o conhecimento sobrenatural (a fé) e o amor sobrenatural (a caridade); é Ele também que move as vontades, pelas graças atuais, para que façam a vontade de Deus.

Vivificada por dentro ela se regenera de suas feridas, como um corpo vivo o faz. Lesada pelo protestantismo na Europa do século XVI, nesta mesma época ela convertirá milhões nas Américas, na China e no Japão. Quando se nota atualmente em toda a Igreja, de modo ainda modesto mas perceptível, um crescido interesse pela confissão, uma busca crescente pela restauração da liturgia, o ressurgimento de teólogos que querem uma Teologia séria e baseada nos ensinamentos de Santo Tomás, o Doutor Comum dos doutores da Igreja, um número cada vez maior de fiéis que se consagram a Nossa Senhora, não vemos outra coisa senão este organismo sobrenatural, este Corpo Místico de Cristo, se regenerando de suas recentes chagas.

Uma vez, depois de falecer, São Domingos Sávio apareceu glorioso e no Céu a São João Bosco, em um sonho, e este lhe perguntou: “Qual é o futuro do Oratório e dos Salesianos? E o que será do futuro da Igreja?” A Igreja, naquela época, sofria muitas e grandes perseguições por parte da maçonaria. São Domingos Sávio, depois de lhe falar um pouco sobre a Congregação dos Salesianos, lhe respondeu: “Quanto à Igreja não há o que temer. Ela é indestrutível“.

Cegados pelo ódio a Deus e sem a luz da fé os lobos atacam a Igreja com a convicção de que a farão morrer. Não vêem que só farão com que a vitória dela seja mais gloriosa, porque para a Igreja se aplica o que Davi diz a Deus nos Salmos: “Si ando no meio das tribulações tú me vivificas” (Salmo 138, 7), e aquilo que Corneille escreveu uma vez na sua peça Horácio: “Roma ignora ainda o que é perder uma batalha. Longe de temer por ela é necessário aplaudi-la, pois ela vai combater, ela vai crescer“.

A Igreja foi um grão de mostarda e agora é uma árvore frondosa. A partir de Pentecostes sua propagação foi rápida e surpreendente. Seu crescimento tão admirável constitui um verdadeiro milagre moral. Ela se tornou a maior de todas as árvores. Milhões de homens professam a mesma fé, se apoiam na mesma esperança, se alimentam com os mesmos sacramentos e se submetem à mesma hierarquia.

Deus a abençoou e a fez indestrutível. Deus e a Igreja não morrem.

O nosso auxílio está no nome do Senhor, que fez o Céu e a terra.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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