Sermão do X Domingo depois de Pentecostes

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

A partir de hoje veremos alguns conselhos que visam dar, às moças que querem casar, conceitos justos sobre o casamento e ajudá-las. Digo “ajudar” porque, sem percebermos, muitos princípios e modos de agir que nos prejudicam em relação à formação de uma futura família entram em nós e, se não gastamos energia para tirá-los de nós, nos prejudicamos, bem como à nossa futura família, frequentemente sem muita advertência do mal que ocorre.

Antes, porém, creio que convém fazer uma nota aqui. Santo Inácio de Loyola, no final dos seus Exercícios espirituais, escreve que devemos “louvar muito as religiões [as ordens e congregações religiosas], virgindade e continência, e não louvar tanto o matrimônio” (n. 356). Ora, parece que o fato de dedicarmos tantos sermões ao matrimônio, e de termos dedicado tantas aulas do nosso curso de Filosofia ao matrimônio, é uma clara oposição a esta regra, que faz parte daquelas que Santo Inácio afirma ser necessário guardar para termos o verdadeiro sentido da Igreja militante e sermos fiéis a ela. Porém, nos parece necessário dizer, é evidente o que ele tem em mente.

Os Exercícios foram escritos por Santo Inácio em meio à eclosão do protestantismo e de sua revolta contra o celibato eclesiástico e o sacerdócio sacramental. Neste contexto, há muita razão em que nosso santo tenha dado esta regra de fidelidade à Igreja.

Hoje, entretanto, um alvo maior dos ataques dos inimigos de Deus é o matrimônio em suas propriedades essenciais: a geração dos filhos e a sua indissolubilidade. Infelizmente, há incontáveis membros da hierarquia eclesiástica (sacerdotes, bispos e cardeais) que contestam essas propriedades essenciais do matrimônio. Um dos motivos, entre muitos, é a situação matrimonial catastrófica na qual chegamos atualmente. Diante desta situação, muitos cedem à tentação de compactuar com os que erram, porque são muitos. Mas, se são muitos, é também porque os sacerdotes foram ineficazes em formar os fiéis, inclusive com lições públicas. Nada mais razoável do que buscar reparar estas falhas e, também, blindar os fiéis diante de erros publicamente ensinados, contra os quais, infelizmente, a maioria não têm nem as armas com que possam se defender, nem o conhecimento de como usá-las.

Como é evidente, nunca ousamos louvar o casamento como tendo valor igual ou superior ao celibato. Não de deve confundir o dedicar muito tempo ao matrimônio com o louvar mais do que o celibato. Não dedicamos muito tempo ao matrimônio nos últimos meses porque ele teria mais valor do que o celibato (o que é evidentemente falso — a virgindade é, em si, evidentemente, mais perfeita do que o estado matrimonial). Dedicamos mais tempo ao matrimônio porque atualmente ele é muito ultrajado, e isso não agrada a Deus. Além disso, não há nada de inconveniente em tratar em público dos princípios mais elementares do matrimônio e de suas conseqüências cotidianas e bem reais, ao constatarmos que essas coisas estão muito esquecidas nas almas dos católicos. Não estamos fazendo educação sexual, a respeito da qual o Magistério eclesiástico já se pronunciou, deixando bem claro a quem cabe fazê-la, quando e em que circunstâncias, e que não pode ser feita em público.

Dito isso, é espantoso constatar o quanto, por uma espécie de contágio epidêmico, o fato de uma mulher cuidar de sua casa e de seus membros é visto como algo de valor bem inferior à qualquer trabalho fora de casa. Isto é simplesmente um absurdo. Como é possível que tenhamos chegado a um ponto no qual uma mulher é vista como alguém de baixa cultura e de papel social inferior, ao se dedicar somente à formação direta dos membros da sociedade, que ela gerou e, portanto, dos quais ela tem a primeiríssima obrigação e responsabilidade de formar?

A formação dos filhos é responsabilidade primeira e direta dos pais que os geraram. Formação física, intelectual, moral e espiritual. Como é possível que as pessoas não se dêem conta da enorme erudição, cultura e habilidade que uma mãe precisa ter para formar seus filhos em todos estes aspectos? Não que ela precise ter uma enciclopédia dentro de si para ser mãe. Evidentemente, não é disso que se trata. Mas, porventura, não nos damos conta de quantas qualidades uma moça deve ter na sua formação pessoal para fazer dos seus filhos verdadeiros homens de valor?

Um recém-nascido depende em tudo dos pais. A única coisa que pode fazer sozinho é respirar. Ele é a expressão da mais completa incapacidade. Essa necessidade dura anos e anos: lactação, idade escolar, puberdade. Em todos estes períodos, o indivíduo não se basta a si mesmo: a higiene que deve ter para conservar a saúde, ajuda nas doenças, os exercícios físicos que devem ser feitos, o que deve ser aprendido para a vida de casado, tudo isso exige a dedicação, a instrução e a experiência dos pais. Todos estes sacrifícios longos e penosos somente para formar um belo animal. Mas o homem não é só isso, não é principalmente isso. Os homens têm uma alma espiritual, imortal. A cultura moral e espiritual de um homem exigem muito tempo. Não se transmite cultura nem virtude em um só dia. Cada indivíduo nasce sem qualquer conhecimento. Sem a transmissão do que já se adquiriu ao longo dos séculos, estaríamos condenados a recomeçar eternamente o governo da natureza e a subida até a verdade e o bem. Além disso, sua perfeição está em contemplar a verdade em uma vida virtuosa, e de ver Deus no Céu. É necessário formar cada filho para que tenha uma alma valente o suficiente, capaz de cumprir a Lei de Deus ainda que o inferno inteiro desabe sobre eles.

Diante disso, como é possível que se veja o cuidado dos filhos como uma atividade pouco estimável?… Não se vê que é algo que exige mais qualidades do que qualquer posição de trabalho em qualquer empresa?… Não se vê que as conseqüências do mau cuidado dos filhos são muitíssimo mais graves do que um mau trabalho na empresa?… Já dissemos, não se exige de uma mãe que ela seja uma enciclopédia. Mas, se ela não tem como ter acesso a todo o conhecimento humano existente, ela precisa saber julgar se os professores aos quais ela confiará seus filhos são idôneos e competentes, e isso em muitos aspectos. Ela precisará saber corrigir em casa algo que, eventualmente, um professor tenha ensinado errado, sobretudo se foi contra a fé ou a moral. Se não sabe como corrigir, deve saber pesquisar, refletir e encontrar a resposta justa que instrua seus filhos. Se não tem como fazê-lo, que ao menos conheça alguém que os ajude. Tudo isso, como regra geral, na proporção do nível intelectual da família que ela constitui. Não preciso dizer que estas capacidades devem existir também nos rapazes que serão pais de família.

Esta capacidade que uma moça deve ter toca uma outra questão, que é, às vezes, um fantasma na mente de certos tradicionalistas (por incrível que pareça…): uma moça deve fazer uma faculdade e um curso superior, ou não? Por se dedicar ao cuidado dos filhos, fazer uma faculdade não seria algo sem propósito? A faculdade não seria um ambiente muito perigoso para uma moça? Mas isso nós veremos sob muitos aspectos no próximo domingo.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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