Sermão do VIII Domingo depois de Pentecostes

E o senhor louvou o ecônomo desonesto por ter agido com prudência.

(S. Lucas 16, 8)

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

A formação da consciência é uma das obras mais importantes que existem. O homem é essencialmente racional e possui uma inteligência capaz de conhecer a realidade das coisas e, sobretudo, de conhecer Deus. Por isso, devemos por inteligência em cada coisa que fazemos. Quanto mais inteligência colocamos na realização de uma obra, maior valor ela tem. O valor de uma obra não vem somente do tempo de trabalho e do esforço gasto na sua realização. É falsa a afirmação marxista, que diz que o verdadeiro valor de toda mercadoria é igual à quantidade de trabalho que lhe foi incorporada. Uma obra feita em pouco tempo, mas com grande inteligência, tem evidentemente um valor superior a uma obra que exige mais tempo de trabalho e pouca inteligência. Além disso, é falso reduzir o valor das coisas somente ao valor monetário delas. Uma obra que forma e educa as pessoas para a virtude, para conhecer e amar a Deus, vale mais do que outras obras produzidas somente para manter a vida física, e de um valor superior ao valor simplesmente econômico de compra e venda.

Saber o que é a consciência e como ela deve ser formada é fundamental hoje. Primeiramente, porque as filosofias modernas dão à consciencia do homem um valor tão grande que se tem, atualmente, uma compreensão errada do que é a consciência. Muito vêem nela uma espécie de entidade autônoma. Assim como o homem tem inteligência e vontade, ele também teria algo distinto da inteligência e da vontade, chamado consciência. Em seguida, todos têm a obrigação de formar a própria consciência para que ela seja dirigida por princípios morais verdadeiros, conformes com a Lei natural, com a Lei de Deus e com as leis humanas honestas. De fato, a consciência é a norma da moralidade subjetiva, isto é, no sujeito. Isto quer dizer que sem ela a norma objetiva da moralidade, a Lei natural, a Lei de Deus e as leis humanas honestas, não são aplicadas e resultam praticamente inoperantes.

A consciência é um ato da inteligência prática que afirma, levando em conta todas as circunstâncias, a liceidade ou não de um ato particular e, portanto, aquilo que deve ser feito ou aquilo que deve ser omitido aqui e agora.

Ela é um ato. Isto que dizer primeiramente que a consciência não é uma entidade, uma faculdade que o homem possuiria, como possui inteligência e vontade. A consciência não é algo independente dentro do homem, autônoma. A consciência é um ato da inteligência, que toma um ou vários princípios morais objetivos e os aplica aqui e agora, num caso concreto. É um ato da inteligência prática, isto é, da inteligência que visa agir ou fazer algo, dizendo o que deve ser feito ou evitado. Com efeito, a consciência não nos diz o que a coisa é ou não é; a consciência nos diz o que deve ser feito ou omitido.

Este ato da inteligência é um juízo, concluído no final de um raciocínio onde a inteligência aplica um princípio moral geral num caso particular. A inteligência sabe que não se deve comer exageradamente, uma vez que a gula é um pecado e um mal. Eis aí o princípio geral e a premissa maior do raciocínio. Se uma pessoa estiver, por exemplo, diante de quinze hamburgers, sua inteligência avaliará as circunstâncias existentes naquele momento neste caso particular e dirá: “Estes quinze hamburgers ultrapassam meu limite“. Eis aí a premissa menor. Prontamente a pessoa concluirá com sua inteligência : “Não posso comer todos estes quinze hamburgers agora de uma vez. Pecaria por gula“. Eis aí o juízo da consciência.

A consciência trata sobretudo dos atos futuros, que serão feitos, mas às vezes se dá sobre atos passados, julgando eles e vendo se deveriam ter sido feito ou evitados. No primeiro caso ela os louva e aprova. Por isso São Paulo diz que “a nossa glória é o testemunho de nossa consciência” (2 Cor. 1, 12). No segundo caso ela nos repreende e nos acusa, permanecendo assim eternamente naqueles que morrem sem se arrepender de seus pecados. Ela os roe e os come por dentro, sem fim, os atormentando como os vermes, de certo modo, atormentam os cadáveres que comem. Por isso Nosso Senhor diz que alí, na gehena de fogo, “o verme deles não morre” (S. Marcos 9, 45).

Deus nos deu muitas ajudas para realizarmos corretamente os juízos morais daquelas coisas que devemos fazer ou evitar. A primeira é a luz natural da inteligência. Com ela não podemos ignorar os primeiros principios da moral: o bem deve ser feito e o mal deve ser evitado, Deus deve ser honrado, o que não quero ou faço para mim não devo querer ou fazer para outro, etc. Estas verdades são tão fundamentais que não podem ser ignoradas e a inteligência não se engana ao conhecê-las. A segunda ajuda que recebemos é a Revelação, que nos dá a conhecer com certeza e sem mistura de erro a vontade de Deus na sua Lei. Outra ajuda que temos vem do conhecimento particular de cada um, que adquiriu com o tempo e com os estudos, para conhecer efetivamente a Lei de Deus, a Lei natural e as leis humanas honestas, que obrigam em consciência.

Mas vemos que, na aplicação desses princípios, muitos erros, dúvidas ou escrúpulos podem acontecer. Como a conclusão de um raciocínio segue sempre a pior parte dele, consequentemente, ainda que o princípio geral seja verdadeiro, o ato da inteligência pelo qual se tira a conclusão, isto é, a consciência, pode terminar sendo errôneo, duvidoso ou escrupuloso. A consciência será, então, errônea, duvidosa ou escrupulosa.

Todos têm a obrigação de formar e de educar a própria consciência. É uma obrigação de cada um se instruir da Lei de Deus, dos seus deveres de estado como pai e mãe, professor, superior, empregado, médico, advogado, profissional, etc. As pessoas devem usar os meios adequados para se instruir de suas obrigações morais, sabendo como agir conforme a Lei de Deus.

Deve-se ler o catecismo, onde os dez mandamentos são explicados de modo proporcional ao conhecimento que os fiéis devem ter sobre as questões morais. A leitura dos livros de moral é absolutamente desaconselhada, considerando-se os assuntos tratados, o vocabulário técnico usado e as considerações que são feitas sobre casos complexos, pressupondo muitos conhecimentos anteriores que não são possuídos pelas pessoas que não estudaram a Teologia Moral em um seminário, onde os futuros padres são formados progressivamente à compreensão correta e delicada dos princípios morais. A leitura dos livros de Teologia moral por leigos seria, pelo menos quase sempre, uma imprudência grande. A leitura da vida dos santos é extremamente útil na formação da consciência. Nelas nós vemos como os santos aplicaram bem os princípios que devem governar as ações humanas e guardamos na memória os exemplos que deram. Livros que nos instruem sobre a vida espiritual e de oração também são excelentes neste sentido.

Se necessário deve-se consultar um sacerdote que possua ciência e prudência na aplicação dos princípios em cada caso particular. É o conselho que nos dá Santa Teresa d’Ávila, mas também o bom senso. Na ausência de um padre prudente e havendo a possibilidade de consultar uma outra pessoa prudente, deve-se fazê-lo. A formação da consciência se faz também pela observação de como se comportam as pessoas exemplares. Devemos guardar na memória os atos que elas fizeram e que foram louvados, para que nos sirvam de modelo quando nos encontrarmos em situações semelhantes ou difíceis. A confissão é um meio excelente para que uma pessoa adquira uma consciência correta, pois ela é obrigada a admitir os erros que fez, não tratando-os como coisa indiferente ou boa. Além disso, os conselhos recebidos do padre desempenham um papel importantíssimo na correção das consciências. O uso de todos esses meios é importante sobretudo hoje, por causa da difusão de um modo de vida cheio de faltas morais, muitas das quais são exibidas publicamente, levando muitos a ter uma consciência errônea a respeito do que é certo ou errado.

Os sacerdotes têm o dever de instruir o povo para formar nele uma inteligência reta, capaz de saber o que é certo ou errado, pelo menos nas coisas que acontecem comumente, pois “os lábios do padre guardam a ciência e de sua boca se pede o ensinamento” (Malaquias 2, 7). Por isso, a partir do próximo domingo, iniciaremos uma série de sermões sobre as virtudes e os vícios, com a finalidade de formar uma consciência reta que permitirá viver de modo mais conforme à Lei de Deus. Será mais fácil, assim, conhecermos nossos defeitos e corrigí-los. Procura-se o que se conhece, conhece-se o que se estudou.

Esperaremos ouvir, então, de Nosso Senhor, um elogia Seu, nos louvando em nosso julgamento por termos agido com prudência em todos os nossos atos.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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