Sermão do IX Domingo depois de Pentecostes

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Quem está de pé, cuide para não cair, diz São Paulo. Quem está de pé é quem está em estado de graça, em amizade com Deus, com a consciência livre de pecados graves. A pessoa está de pé, pois pode andar em direção da salvação, nesse longo caminho que é a vida. Mas como em todo caminho, deve-se tomar cuidado para não cair, isto é, se afastar de Deus pelo pecado grave. No caso de hoje, iremos falar de algo que pode não parecer um problema na caminhada, mas o é para algumas pessoas, o tropeço. Tropeçar não é cair, mas para alguns já é motivo de parar por completo a caminhada. No mundo material essa cena seria ridícula, parar de caminhar por causa de um tropeço, mas quantos não agem assim na vida espiritual! O tropeço aqui é o que também chamamos de escrúpulo.

Escrúpulo, no seu sentido original, é uma pequena pedra que incomoda quando andamos e ela está dentro do nosso sapato. Na vida espiritual, escrúpulo é quando a pessoa não sabe diferenciar um pecado grave de pecados leves ou tentações. Quantas vezes as pessoas se confessam mal porque dizem estar arrependidas de tentações! É como se eu estivesse arrependido pela temperatura do dia de hoje, algo que está completamente fora do meu poder ou responsabilidade! Só podemos estar verdadeiramente arrependidos daquilo que está em nosso poder através de uma ação humana, isto é, feita com inteligência e vontade. O escrupuloso fica paralisado com aquilo que é uma pequena falta e logo perde a paz da alma necessária para poder fazer as boas ações.

Na Bíblia, Deus nos fala várias vezes para fugirmos dos falsos deuses, isto é, da idolatria. Todavia, poderíamos também acrescentar aqui o conselho para fugirmos também dos falsos demônios, isto é, daquilo que julgamos ser um demônio, mas em realidade não é nada de mais. Para tanto é preciso sempre querer conhecer mais o que a Igreja ensina e seguir os conselhos de bons padres. Em alguns casos o escrúpulo pode ser fruto também de uma doença psicológica necessitando de um tratamento médico adequado, quando vira um tipo de obsessão.

Em geral, o escrúpulo tem 2 origens: a ignorância ou o orgulho.

No caso da ignorância, é comum acontecer com todos aqueles que se convertem e começam a ter um verdadeiro medo do inferno e querem viver apenas para agradar a Deus. No começo, muitos santos foram perturbados por escrúpulos. Conforme cresciam e amadureciam na vida espiritual, algumas vezes com a ajuda de diretores espirituais bons, conseguiram passar do escrúpulo para a consciência delicada, esta sim, fruto de uma verdadeira e saudável vida espiritual que busca a santidade com seriedade. A consciência delicada busca evitar todos os pecados, inclusive os menores, ao menos no que eles possuem de modo deliberado, isto é, com o consentimento da nossa vontade. A consciência delicada não perde a paz ao tropeçar em algo pequeno, mas logo se humilha e recorre a Deus para continuar a caminhada.

No caso do orgulho, a pessoa se acha capaz de ser santa por conta própria, e quer sempre ter a certeza absoluta de estar em estado de graça, não admitindo ser portadora de misérias e do pecado original que tanto nos ajuda a nos humilharmos diante de Deus reconhecendo as nossas fraquezas. O escrupuloso pode tornar sua vida insuportável com tantas hesitações e dúvidas sobre o modo de agir, podendo também tornar insuportável a vida de outros, como quando alguém nunca tem certeza se confessou algo direito, mesmo após a afirmativa do confessor, ou quando se quer garantir que se rezou algo com atenção repetindo de modo artificial a mesma coisa. A cura do escrúpulo passa, muitas vezes, pela obediência a um bom confessor o qual guia a pessoa no discernimento do que é ou não pecado. Mas se a pessoa desconfia do confessor ou não segue as suas ordens, então ela se prepara para um caminho de perdição, como no caso de Lutero, o qual sofria com escrúpulos e achou uma falsa saída aderindo a uma doutrina herética e falsa sobre o pecado e a liberdade humana. Também não é honesto, nem uma boa prática, o ficar perguntando a vários padres, via whatsapp ou outros meios, sobre um mesmo assunto. A moral católica não é feita através de uma média aritmética da posição de vários padres, mas sim na verdade objetiva. Deve-se consultar apenas um padre de confiança e pronto, senão corre-se o risco de ser ignorado por todos. Também não recomendo que leigos leiam livros como “A Selva” ou a “Teologia Moral” de Santo Afonso de Ligório, justamente por serem livros escritos para padres bem formados e, nas mãos de um leigo, podem gerar muitos escrúpulos.

Alguns aqui poderiam dizer, “mas esse problema de escrúpulo eu não tenho!”, o que pode ser verdade, mas pode também ser porque se vive no extremo oposto, isto é, se tem uma consciência relaxada que não vê pecado mesmo onde há! Por exemplo, já ouvi pessoas dizerem que escutar rock não tem problema porque a Igreja nunca condenou. Mas a Igreja não condena todas as bilhões de coisas erradas que o homem pode fazer! Ela dá os princípios e, raramente, apenas quando vê ser algo necessário, se pronuncia nominalmente contra um tipo de ação, como é o caso da proibição do aborto ou dos métodos contraceptivos. No caso do rock, uma música feita para colocar o sentimento irracional acima da razão, ressaltando a parte animal acima da parte racional do homem, obviamente vai contra o projeto de Deus para nós, o qual é respeitado ao ouvirmos boas músicas como o canto gregoriano, por exemplo.

Ter uma visão justa e razoável das coisas é importante para fugir do escrúpulo e da consciência relaxada. Ler livros bons, viver com pessoas sensatas, seguir conselhos de fontes confiáveis, são alguns passos para sanar esse problema. A oração feita com tranquilidade e constância também ajuda, pois também o demônio pode ajudar a nos atrapalhar na formação de uma reta consciência. Rezar e lutar com energia e sem demora contra nosso orgulho que recusa a obediência a um bom confessor e aos bons conselhos são remédios importantes para sanar o erro do escrúpulo. Devemos, por um lado, buscar a santidade e, por outro, nos reconhecermos miseráveis e dependentes da misericórdia de Deus. Ninguém sabe se é digno de amor ou de ódio de Deus, mas devemos continuamente buscar viver naquilo que Deus nos ensinou ser aquilo que Ele ama, isto é, guardar os mandamentos e fazer bem ao próximo. Se fazemos isso, não devemos nos desesperar diante do tropeço, mas com humildade buscar o auxílio dos sacramentos para crescer na vida espiritual.

Que Nossa Senhora, refúgio dos pecadores, nos faça superar tanto as pequenas como as grandes pedras que entravam nosso caminho rumo ao porto da salvação.

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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