Sermão do II Domingo depois de Pentecostes

Não andeis preocupados pelo que haveis de comer.

(S. Lucas 12, 22)

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Passadas as grandes festas do Tempo Pascal e de Corpus Christi, é importante retomarmos nossas considerações sobre a família. É um assunto central atualmente, continuará sendo assim por muito tempo e, portanto, é necessário que tenhamos conceitos justos sobre as questões ligadas à família. Veremos, agora, a formação que os jovens, os filhos, devem ter, as coisas fundamentais que eles devem saber e o modo correto de ver a vida, a família, etc., para que possam casar e constituir uma família.

Para se preparar para ser ministro dos sacramentos que ele administrará, o candidato ao sacerdócio tem anos de estudo e anos de ascese; durante anos ele estuda os sacramentos que ele administrará e durante anos, por uma ascese feita livremente, ele se preparou para ser, entre as mãos de Deus, um instrumento suficientemente dócil para que por ele passe, com mais facilidade, mais agrado e maior abundância a graça que Deus fará passar por ele. Seria demais pedir aos jovens cristãos que eles utilizem a juventude deles para uma preparação semelhante? É verdade que o sacerdócio possui uma dignidade inimaginável. Mas não se pode cair no erro, vindo de um contraste exagerado com o sacramento da ordem, de ver o casamento como algo “medíocre”, que pode ser feito sem qualquer preparação.

Começaremos pelos rapazes, porque cabe a eles tomar a decisão de iniciar uma família. A natureza dotou os homens, como regra geral, de maior força física e predominância das faculdades de ação, de modo que ele é mais capaz de assegurar o sustento, a proteção e o governo de uma família. Por isso, cabe a ele decidir iniciá-la, escolhendo a pessoa que irá auxiliá-lo. Pois bem, quais são as coisas que um rapaz deve ter no momento em que ele decide começar uma família?

Primeiramente, é necessário que ele tenha os meios financeiros para isso. Cabe ao homem o dever de sustentar a casa. O fracasso de muitos casamentos se deve, sem qualquer dúvida, à questão econômica. Ao casar, é necessário que o rapaz possa se dizer: “Eu, pelos meus recursos, tenho condições de levar uma casa nas costas”. Porém, como vimos no início do sermão, aqui é necessário ter conceitos justos sobre a questão.

É preciso, então, saber que para casar não é necessário esperar ter casa própria. Não é necessário esperar ter um emprego público com estabilidade garantida. Não é necessário ter um salário alto, capaz de sustentar 8-10 filhos, já antes de casar. Basta que se tenha condições de alugar uma casa ou apartamento, simples que seja. Basta ter um emprego que dê um mínimo de condições de iniciar uma família, e ponto. Muitos rapazes têm receio de casar porque têm um salário modesto, porque ainda não têm uma casa comprada, porque ficam com medo de perder o emprego já no começo da vida de casado. Isso é um erro. Qual é a conseqüência dessa visão exagerada? A conseqüência é que o tempo passa, e a Igreja e a nação se vêem privadas de famílias católicas e de filhos. E, ao invés de ajudar a Igreja e a sociedade com uma família, pobre e simples que seja, o rapaz simplesmente não as ajuda, continuando sozinho e sem fazer uma família, com a juventude indo embora a cada dia, com seu vigor físico, com a vivacidade de inteligência que lhe é própria, com a coragem que a juventude tem sendo desperdiçados. Ele também se prejudica, porque quando uma pessoa casa, ela também amadurece, diante das novas responsabilidades que tem. Não há dúvida: é infinitamente melhor ter uma família pobre e simples, fazendo o bem e dando filhos para Deus, do que não ter família.

Do mesmo modo que ninguém nasce totalmente pronto, assim também uma família não começa totalmente pronta. Ela não começa com todos os móveis, com todos os cômodos, com todos os investimentos, com toda a estabilidade material que terá depois de muitos anos. E, assim como não tem cabimento deixar de ter um filho vendo a fragilidade de um bebê ao nascer, temendo que por causa dessa fragilidade ele passe dificuldades, fique doente, etc., também não tem cabimento que um rapaz fique adiando a escolha de uma moça porque ele ainda não tem um salário alto, um emprego estável, uma casa própria, e coisas semelhantes.

Do mesmo modo que um bebê tem seus pais para suprir suas fragilidades, assim também cada família tem Deus que cuide dela. Aos rapazes, gostaria de pedir que tenham sempre bem gravadas estas palavras na alma, penetrando bem profundamente em todas as conseqüências que essa verdade traz: Deus existe.

Ele cuida de cada família. Lembrem-se sempre do que Cristo disse aos judeus: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (S. João 5, 17). Deus cuida de tudo o que existe, até agora, e cuida de cada família. São os pagãos que se preocupam com o que comerão no dia seguinte. Nosso Senhor se engaja, cada vez que seus fiéis recebem o sacramento do matrimônio, a lhes dar todos os socorros que lhes serão necessários para cumprir convenientemente e com uma certa facilidade as obrigações que decorrem do casamento deles, inclusive a garantia de que haja o sustento material necessário à família. Certo, Deus não deve nada a ninguém e seus socorros são graças; mas, por que Ele se engajou a lhes dar essas graças, os esposos cristãos podem exigi-las, pedi-las, como algo devido. O Senhor não lhes deve nada, mas Ele se obriga a si mesmo de manter suas promessas.

O casal tem direito a socorros especiais. Esse efeito acompanha sempre o casamento válido dos batizados e se os esposos estão em estado de graça com Deus eles podem pedir esses socorros desde o momento que eles receberam o sacramento e que eles têm necessidade desta ajuda, inclusive para as necessidades materiais. A verdade é que é Deus que governa tudo, e nos enganamos se achamos que somos nós, pelos nossos próprios esforços, que garantimos nosso futuro. Com confiança em Deus damos bons frutos (famílias, filhos, almas para Deus, etc.), e sem confiança em Deus permanecemos inativos e estéreis.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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