Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz. Vós não ouvis porque não sois de Deus.
(S. João 8, 47)
Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Há um princípio, ensinado por Santo Tomás, de acordo com o qual “tudo o que é recebido, é recebido conforme o modo de quem recebe“. Alguns exemplos irão deixar essa verdade mais clara.
Posso despejar água em um balde e também em uma garrafa com o gargalo mais estreito. Ambos, o balde e a garrafa, recebem água. Mas o modo como um balde recebe água não é o mesmo modo como uma garrafa de gargalo mais estreito receberá água. Se, por um lado, posso despejar muita água de uma só vez em um balde, precisarei despejar água, em uma garrafa, com muito mais calma, e pouco a pouco. Uma garrafa não receberá muita água de uma só vez.
Esse princípio também vale para a vida espiritual. Deus dá sua graça, seu auxílio, para todos, porque Deus quer que todos os homens se salve. Deu sua graça para o bom ladrão, que mudou e se converteu. Também deu sua graça para o faraó, quando Moisés havia sido enviado para tirar os hebreus do Egito. Mas o faraó não se converteu. Ao contrário, ficou com o coração mais duro. A luz do sol que cai sobre a neve é a mesma luz do sol que cai sobre a lama. A neve amolece, a lama endurece. Ambas, a neve e a lama, recebem a luz do sol. Mas cada uma a recebe ao seu modo, de acordo com as disposições que tem.
O ensinamento de Nosso Senhor era luminoso como a luz do sol. No coração dos apóstolos produzia bons efeitos. Mas ao ser recebido no coração dos judeus, os endurecia, porque a disposição dos judeus era ruim. Era como lama ao sol.
Tendo explicado este princípio de Santo Tomás, e dado alguns exemplos para entendê-lo melhor, é bom usá-lo em um outro caso particular, que possa nos ser útil.
De modo geral, as pessoas não percebem, por culpa pessoal (falta de estudo, algum apego errado, teimosia, impureza, etc.) ou não, que a sociedade atual de fato está muito ruim. Uma das consequências dessa ruindade generalizada é que as pessoas se procuram, umas às outras, de um modo errado. Os rapazes procuram as moças de modo ruim, e as moças também procuram os rapazes de um modo ruim. Mas, às vezes, isso acontece tendo algum bom fundamento.
Para ser mais claro, o que quero dizer é que muitas vezes uma moça, por exemplo, vê em um homem certas qualidades, e ao invés de querer ter para si as qualidades, quer ter para si a pessoa. É sempre honesto procurar um bom marido, que tenha qualidades, claro. A mesma coisa vale para um rapaz que queira procurar uma boa esposa. O problema está nos meios usados, e às vezes no modo de ver as coisas.
Conheço casos de moças que, vendo num homem tal ou tal qualidade (inteligência, boa capacidade de discursar, bom humor, responsabilidade, etc., etc.), acabaram desejando tê-lo por meio de magia ou feitiçaria. Infelizmente, para piorar, não fizeram nenhum caso do fato de que ele já era casado, por exemplo, ou até mesmo padre, não vendo mais no sacerdote a pessoa sagrada de Cristo (muitas vezes porque, já há muito tempo, essas mulheres foram deixando de rezar como se deve, e de estudar as verdades da doutrina católica, que foram ficando cada vez mais tênues na alma delas, preparando essas quedas). Por desgraça, a “inclusão digital”, o acesso fácil à internet, ensina com total facilidade, para qualquer pessoa, como fazer todo tipo de simpatias e feitiços. Como o pecado da impureza é coisa muito comum, há muita gente que usa dessas simpatias e magias, mais fracas ou mais pesadas, depende. Homens podem querer usar dessas coisas. Porém, o mais comum é ver isso nas mulheres.
Essas pessoas, porque têm algum pecado dominante, sobretudo impureza, acabam recebendo mal o que chega até elas, porque cada um recebe algo conforme o seu modo. Se a pessoa tem, por exemplo, o vício da impureza, acabará concebendo uma má intenção ao ver alguém que lhe mostra qualidades. Ao ver essas qualidades na pessoa, pensará em ter a pessoa de modo impuro, e não pensará em ter as qualidades dessa pessoa. Essas pessoas acabam fazendo parte da situação ruim geral atual, e procuram os outros de um modo ruim. Querem primeiro ter a pessoa que estimam, mas não querem ter as qualidades que vêem nela. E acabam passando por cima dos mandamentos.
Fazer feitiços e usar de magias é pecado contra o 1o. mandamento e é coisa grave, porque a pessoa invoca o demônio, pelo menos de modo implícito, para conseguir o que quer. Invoca-o pelo menos de modo implícito porque pode ser que não o nomeie explicitamente, mas está subentendido que pede auxílio aos demônios. É um pecado enorme, porque o demônio é o mais perverso inimigo de Deus e do homem. E é pecado grave ainda que as frases usadas no feitiço sejam bobas e pareçam infantis, ainda que tenha tomado somente alguns segundos para fazer, ainda que ninguém mais saiba que você fez, ainda que seja por brincadeira. Poderá ser leve por falta de plena advertência (não é o caso geral, porque não é difícil se dar conta de que usar de simpatias e feitiços seja matéria grave, já que se procura usar de coisas ocultas e produzir um resultado sobre o outro que lhe é prejudicial em coisa séria). Fazer simpatias e feitiços por brincadeira, e com um estado de espírito inconsequente (que não pesa até onde podem ir as coisas que faz) não é incompatível com uma plena advertência da gravidade do pecado feito.
O melhor modo de sair desse mal e de melhorar é rezando, sobretudo o terço. É um grande engano estimar o terço como sendo uma oração simples demais. O simples fato de pegarmos ele na mão já nos eleva até Deus. Ao usá-lo, nos lembramos que temos uma alma, que precisamos pedir ajuda de Deus e de Nossa Senhora para vencermos o pecado, para adquirir virtudes, que existe a morte, que seremos julgados, renovamos nossa confiança em Deus, reconhecemos nossos pecados e erros, pedimos ajuda de Deus, etc. E isso nos faz um bem…
E, também, o remédio incontornável é sempre o mesmo: ir se confessar. O padre nunca ficará bravo, com quem quer que seja. Só ficará mais edificado. Só isso.
Em nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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