Sermão da Epifania (2018)

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Hoje celebramos a Epifania, isto é, a festa da manifestação pública de Nosso Senhor ao mundo. Em particular, celebramos que o Messias, nascido do povo judeu, não é exclusivo deles, mas veio também para os gentios, isto é, os não-judeus. Os três reis magos, isto é, sábios, vieram de longe reconhecer aquele que não era um mero bebê, pois conseguia mover uma estrela em seu favor. Na visão desses reis, tratava-se de fato de uma estrela do céu que se movia de modo estranho às leis astronômicas, mas de fato era algo muito maior e mais importante que uma estrela, era um anjo do Senhor que os guiava, segundo o justo parecer de São João Crisóstomo.

Os não-judeus, que sempre se sujaram na lama do pecado e fizeram perseguições violentas e injustas contra o povo escolhido por Deus, esses mesmos são chamados à misericórdia pelo Deus de Israel, que se fez bebê para não assustá-los. A bondade de Deus para conosco, indignos, é algo que deve sempre nos chamar a atenção. Por um lado vemos a bondade de Deus para nos chamar para Si nesta vida, por outro lado, é difícil não ver a severidade do julgamento reservado após a morte àqueles que O tiverem negado mesmo após tantos meios concedidos para saírem do pecado. São Paulo usa um termo bastante preciso dizendo que os que negam a Deus “são inexcusáveis” (Rm 1,20), isto é, não possuem nenhuma desculpa que possa nem ao menos atenuar a culpa pela qual serão julgados e condenados por toda a eternidade.

Todavia, a condenação eterna é reservada apenas para Deus, a nossa parte, enquanto estamos vivos, é a de chamar a todos à contrição do pecado e a seguirem o Evangelho.

Na época dos reis sábios, muitos judeus achavam estar numa situação suficiente de seguir a Palavra de Deus e se acomodavam em suas vidas. Cristo veio e abalou essas falsas certezas, mostrando o quão longe estavam das perfeições que Ele veio pregar. Os próprios reis sábios, longe de se contentarem em agir com justiça em seu reino, permanecendo lá, tiveram a iniciativa de fazer as malas e executar uma longa viagem em busca de algo maior, motivados, é claro, pela “estranha estrela”.

Não esperamos que uma “estranha estrela” apareça em nossas vidas para nos movermos em busca de um bem maior, algo que seguramente não irá ocorrer. Não achemos também que o que fazemos atualmente basta para estarmos “de bem com Deus”. Isso seria repetir os erros de judeus e pagãos do passado. Cristo veio exatamente para que nós O busquemos sem cessar, saindo de nossas “zonas de conforto” para ir conhecê-Lo e agir em consequência. Os reis sábios, segundo a tradição, não voltaram ao seu paganismo de origem, mas se converteram e morreram católicos, cujas relíquias podem ser veneradas na Alemanha onde atualmente residem.

Do episódio de hoje podemos, então, ver que Deus exige de nós duas coisas: o chamar os pagãos para fora do seu paganismo e em direção de Cristo; bem como tirar de nós mesmos o resto de paganismo que com certeza ainda reside em nós, o que ainda resta do “velho homem”, nos dizeres de São Paulo, em contraste ao “novo homem” moldado segundo Cristo pelo batismo.

Essas duas coisas estão ligadas, não basta darmos argumentos aos pagãos que nos rodeiam (mesmo os pagãos que se auto-intitulam como sendo “católicos”), se não damos o bom exemplo de sermos nós mesmos coerentes com o que ensina o Evangelho. Mas como sermos coerentes com o que ensina o Evangelho se desconhecemos o mesmo? Aqui fica o convite para criarmos em nós o interesse, no mínimo, de conhecer algum Evangelho por inteiro, do começo ao fim, lendo, por exemplo, o Evangelho de São Mateus e, para os que quiserem se aprofundar ainda mais, participar das aulas de comentários sobre esse mesmo Evangelho aqui ministradas nas quintas-feiras às 20h a partir do dia 18 de janeiro.

A leitura do Evangelho não é meramente algo intelectual, mas é um sacramental, pois ela opera em nossas almas graças atuais que nos movem ao bem e nos afasta do mal. Nós que temos tempo para ler tantos “tweets” e “posts de facebook” inúteis, não temos um pouco para lermos e até mesmo relermos a palavra de Deus?

Deus se tornou visível ao mundo se encarnando. Devemos nós tornar a palavra de Deus visível aos outros aplicando-a à nossa própria vida. O primeiro passo para isso é sairmos da nossa falsa convicção de que nossa situação atual enquanto cristãos já é “boa o suficiente” e termos a generosidade de fazermos algo a mais por Ele, talvez, no caso de alguns, cantando na Missa para Sua maior glória.

Peçamos à Virgem Maria que nos mostre o menino Jesus em toda a sua plenitude, para podermos retornar como os reis sábios irradiando a luz do Evangelho.

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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