Redes Sociais: Parte IISermão do II Domingo do Advento

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

2. As redes sociais têm um modo de funcionamento propriamente anti-teocêntrico. A estrutura delas é pensada para que tudo seja referido ao usuário, não para Deus. Quem é colocado no centro é o próprio usuário. O princípio de organização das redes sociais é: “Eu sou a medida de todas as coisas e eu me coloco no centro das atenções”. Cada um é sua própria medida, e não Deus. A página é pessoal, com publicações pessoais, com seguidores aceitos pela pessoa, com um conteúdo determinado pela pessoa, comentários de ideias tidas pela própria pessoa ou replicadas por ela, preenchida pelos eventos (artificialmente modelados…) da vida daquela pessoa. Tudo na organização das redes sociais transpira individualismo. A pessoa é o centro das atenções, tudo se refere a ela, finalmente.

A Igreja age de modo exatamente oposto, e temos um exemplo na Santa Missa. O latim é uma língua reservada somente para as coisas de Deus, e não para as atividades pessoais; os gestos, paramentos, músicas, orações a serem ditas, as leituras feitas, o local construído, etc., nada foi totalmente escolhido pela livre iniciativa de quem a assiste. Se alguma coisa pode ser escolhida, ela deve ficar dentro de regras e critérios que tem Deus como finalidade e centro das escolhas. A missa tem incontáveis orações que nos lembram de nossos pecados (Confiteor… mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa…, Kyrie eleison…, Aufer a nobis… iniquitates nostras, Suscipe… ego indignus famulus tuus… pro inumerabilibus peccatis et offensionibus et negligentiis meis…, etc.) e não permitem que tenhamos uma visão indulgente para conosco mesmo, mas realista. As qualidades de cada pessoa na paróquia são dirigidas ao bem comum e, finalmente, para a glória de Deus, não para a admiração pessoal. São, definitivamente, dois modos antagônicos de se ver a si mesmo: ou eu me vejo como foco para onde as pessoas devem olhar, ou me vejo como devendo olhar para Deus, finalmente, e referir tudo a Deus. São dois amores, e duas cidades antagônicas…

A estrutura das redes sociais é pensada para ser egocêntrica, antropocêntrica e individualista, premissas básicas e fundamentais do antropoteísmo. Mesmo se uma verdade é publicada, ela será publicada com toda a aparência de uma opinião pessoal. E, do mesmo modo que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, também na vida espiritual dois princípios não podem ocupar a prioridade. Ou Deus está no foco de nossa vida ou, se nos colocamos no foco, necessariamente Deus deixará, de fato, de ser importante para nós. As consequências na vida católica são evidentes: desinteresse pela missa, na qual Deus é o centro, e não a pessoa individual; desinteresse pela oração, que é uma elevação da alma para Deus; falta de espírito crítico quanto às próprias ações (não vemos defeitos nas coisas que fazemos, porque não buscamos fazê-las colocando Jesus Cristo e Nossa Senhora como modelos que nos foram dados para retificarmos nossos atos e intenções); apego à própria opinião e descaso pelos ensinamentos do Magistério eclesiástico, sobretudo em moral, porque exigem mais esforço pessoal para reformar nossos maus hábitos pessoais (é mais fácil mudar de ideias do que de comportamento).

3. As redes sociais são causas de doenças psicológicas adquiridas, ou favorecem a manifestação de doenças psicológicas e psiquiátricas que muitas pessoas jamais teriam ou manifestariam se tivessem ficado longe desses meios.

Pela insistência com que as redes sociais pedem a atenção do usuário, chamando-o continuamente com avisos de publicações, mensagens, recados, etc., elas fazem o usuário ter um comportamento ansioso. É necessário abandonar uma reflexão, uma obrigação, a atenção a ser dada para uma pessoa, e ver imediatamente a mensagem recebida. Isso de modo repetitivo. O resultado é que as pessoas com inclinação para ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) terão inclinação para usar as redes sociais, porque estes meios têm toda a estrutura necessária para que essas pessoas possam exercer, sem qualquer freio, a má disposição que já têm. O que antes ficaria somente no nível de uma má disposição, agora se tornará um mau hábito difícil de perder, por causa da constante repetição de atos feitos em direção da má inclinação que se tem. As pessoas que não manifestam ansiedade ou TOC, mas têm uma predisposição física para tê-los, desenvolverão esses desequilíbrios, pela repetição de atos propriamente ansiosos de modo repetitivo. Quem não tem qualquer inclinação à ansiedade e a ter um comportamento compulsivo começará a desenvolver uma predisposição a isso. Elas teriam permanecido pessoas normais (ou menos complicadas) se tivessem ficado longe do Facebook, do Instagram, etc. Pessoas com inclinação à ansiedade e compulsividade precisam ficar longe desses meios, o tanto quanto é possível, se querem manter a saúde mental.

Como vimos, com o Facebook, Snapchat, Instagram, etc., criamos simulacros de nós mesmos, imagens voluntariamente otimistas de nós mesmos, socialmente assépticas. Mas a realidade de nossa própria pessoa permanece. E quando o simulacro que criamos de nós mesmos é confrontado com a realidade de nós mesmos no quotidiano de nossa família, de nosso trabalho, de nossa vida espiritual, então nasce inevitavelmente em nós frustração, tristeza e depressão.

A frustração é a tristeza que nasce em mim diante da enorme distância que constato existir entre o simulacro que forjei de mim mesmo e a realidade. Nas fotos que criamos de nós mesmos estamos elegantemente vestidos, bonitos, em lugares agradáveis, com pessoas que nós selecionamos e que são agradáveis, sorrindo aparentamos ser pessoas equilibradas, sensatas, ponderadas, nos realizando plenamente.

Mas a realidade é bem diferente: meus familiares e empregados não são tão agradáveis; minha esposa ou meu marido não são tão belos quanto outras pessoas; não tenho tanto dinheiro nem poder de compra como aparento ter nas fotos; minhas outras roupas não são tão elegantes, nem a dos meus familiares; me vejo no espelho e sou feio; a disposição de muitas coisas na casa não são sempre agradáveis ou como quero, nem os fatos quotidianos, nem posso fazer todos os meus caprichos sem freios. Não que a própria família seja algo ruim, mas o pecado original existe, e deixa seus traços em todos os lugares… Sem ilusões… Também cometo erros, sou criticado, as outras pessoas me incomodam com seus erros, etc.

Nós comparamos, então, a imagem falsa que fazemos de nós mesmos e da nossa vida com a vida real e com o nosso eu real: ficamos frustrados, tristes e deprimidos, por não satisfazermos necessidades que não existem realmente, e que criamos por capricho. Nos iludíamos, pensando realizá-las quando criávamos uma imagem falsa de nós mesmos no Facebook. Mas agora a realidade se impõe.

O estrago é ainda pior em famílias numerosas, porque ter muitos filhos exige sacrifícios econômicos e torna o luxo uma coisa muito distante do quotidiano da família. A distância entre as ilusões de consumo e de comportamento que o mundo moderno apresenta, e a vida real de uma família numerosa, é muito grande. A tristeza que terão da própria vida real será tão maior quanto maior for a distância entre a ilusão que podem ter, e que não tem limites no mundo contemporâneo, e a realidade da família em que vivem. Filhos e outros membros de famílias numerosas sofrerão mais as consequências. As pessoas que têm tendência para depressão precisam ficar tão longe quanto podem do Facebook, do Instagram, da internet, se desejam manter uma vida psicológica saudável, para o bem delas mesmas. Do contrário, enquanto permanecerem estimulando seus desejos ilusórios e distantes da realidade, permanecerão frustrados, tristes e deprimidos.

Nas redes sociais o usuário vê, numa mesma página, justapostas, sem separação suficiente, coisas que causam euforia, indignação, comoção, risos, tristeza, consolo. Consequentemente, ele fica tendo oscilações bruscas de humor, ainda que sejam leves, o que favorece o aparecimento de distúrbios do humor.

Finalmente, em maior ou menos grau, criam uma vida dupla, levam as pessoas a se fecharem no seu mundo interior, facilitam o aparecimento de discursos desorganizados e confusos; é comum que o uso da internet e das redes sociais seja feito tarde da noite, causando inversão do ciclo do sono; favorece o isolamento, perda de interesse por atividades anteriormente agradáveis, apatia, dificuldades escolares e profissionais; o fácil acesso a todo tipo de ideias publicadas por pessoas ignorantes nos assuntos que comentam levam os usuários a ter ideias bizarras e comportamentos excêntricos. Todas estas coisas são sinais presentes em muitas doenças psiquiátricas.

Todos estes desequilíbrios no humor, no comportamento e nas ideias facilitam enormemente uma ação do demônio na memória, na imaginação, nos afetos, porque estão desestruturados e não estão retificados pelas virtudes. Além disso, a pessoa comete facilmente todo tipo de pecado, abrindo ainda mais as portas do demônio para agir na vida pessoal e na família.

A vida sobrenatural se apoia em uma vida natural sadia. Todos esses problemas incentivados pelas redes sociais tornam o terreno sobre o qual a vida da graça deve por os pés algo muito estragado. É óbvio que as redes sociais colaboram enormemente para que a vida da graça não consiga se sustentar estavelmente nas pessoas. Se desejamos manter uma vida mental normal e ter uma vida católica sobrenatural estável e séria, é absolutamente necessário não usar delas (o que é, sem dúvida alguma, melhor), ou usar das redes sociais com muito freio. E se vemos que não conseguimos ter esse freio, é necessário parar de usar as redes sociais.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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