Sermão da Assunção de Nossa Senhora 2018

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Hoje é a solenidade da festa da Assunção de Nossa Senhora aos Céus. Nossa Senhora quis imitar Nosso Senhor em muitas coisas, inclusive no modo de ir ao Céu. Nosso Senhor subiu aos Céus diante dos Apóstolos na festa que chamamos de Ascensão, pois ele, por poder próprio, foi sozinho ao Céu. Nossa Senhora, não sendo Deus como era o caso de Jesus, imitou seu Divino Filho com uma diferença, ela subiu aos Céus não por conta própria, mas por auxílio divino, por isso não chamamos a festa de hoje de Ascensão de Nossa Senhora, mas de Assunção de Nossa Senhora aos Céus.

A importância particular da festa de hoje é múltipla, tamanha a felicidade que a Igreja tem de saber que Nossa Senhora, cheia de graça, está viva de corpo e alma no Céu e intercede em nosso favor diante de Deus. Todavia irei ressaltar um aspecto desta festa que consiste no significado simbólico de alguém subir aos Céus.

Nossa Senhora ter subido aos Céus significa muita coisa na vida de um cristão.

Em primeiro lugar, sabemos que o Céu existe e que a morte não é a palavra final da nossa existência. Esse conhecimento é vital para podermos calibrar nossas escolhas e ações ao longo de toda nossa vida. Se um católico é mundano e vive como um pagão, fazendo pouco caso das coisas da Igreja e da vida espiritual, se ocupando em demasiado com as coisas da terra, é porque não meditou com seriedade na sua morte e no eco que sua vida deixará na história por toda a eternidade. Só temos uma vida e a cada momento devemos escolher entre a riqueza de Deus ou a pobreza das criaturas. No momento da morte tudo o que tivermos será apagado da nossa vida, como se apagássemos tudo de nosso computador ou celular, e veremos, então, o quão inútil foi ter acumulado tantas coisas que serão, no fim, apagadas para sempre. Tantos arquivos de texto de conhecimentos inúteis, fotos de momentos passageiros e vazios, músicas que serão esquecidas, listas de contatos apagadas, assim como projetos e outros tipos de arquivo que nos fizeram perder tempo e até mesmo nos afastar do nosso verdadeiro fim. Todavia haverá duas coisas que poderemos recuperar após a morte e levar conosco para a eternidade, pois que ficaram gravadas na “nuvem” e não no computador, a saber: a intensidade do amor de Deus e as boas obras que tivermos feito em vida. Nossa Senhora sabia disso e por isso sua vida consistia justamente apenas nessas duas coisas.

Em segundo lugar, subindo aos Céus, Nossa Senhora demonstra ter se desapegado de todas as coisas da vida terrena, bens materiais e espirituais, pertences, amizades humanas, tudo, sem ficar triste com isso, pois sua alegria consistia justamente em estar perto de Deus, sumo Bem, e não perto das criaturas, que apenas compartilham, e bem pouco, do bem que Deus é a fonte. Ela sabia usar das criaturas para crescer no amor de Deus e não para se afastar Dele.

Em terceiro lugar, Nossa Senhora mostrou qual é o objetivo da vida, ir ao Céu, objetivo esse que ela alcançou perfeitamente e com louvor. Nossa Senhora não acabou com a fome no mundo, nem conseguiu estabelecer um Paraíso terrestre. Nossa Senhora não se candidatou a ser política e resolver todos os problemas terrenos. Ela demonstrou que isso não tem importância se pensarmos na vida eterna. Sua vida é exemplar a todos os católicos, por isso o católico que prioriza as questões sociais e políticas e coloca em segundo plano, ou ignora completamente, a vida da sua alma, não fugindo do pecado, demonstra ser um falso católico, um hipócrita que desvia os outros de Cristo dando um exemplo contrário ao da vida de Nossa Senhora, correndo assim para a perdição eterna, mesmo estando com a boca cheia de belas palavras como “amor ao próximo”. Não é possível amar o próximo sem antes amar a si mesmo, por isso Jesus nos diz: ame o próximo como a si mesmo. E amar a si mesmo, com a reta razão, de modo verdadeiro, consiste em buscar a santidade com todo o próprio ser. Se alguém peca, demonstra não amar a si mesmo, colocando-se numa situação miserável e destruidora para a sociedade, pois todo pecado tem consequências pessoais e sociais. Quando pecamos, privamos a sociedade de um bem que ela podia ter se nós agíssemos bem. Sem o combate ao pecado, em vão os homens buscam soluções políticas em decisões ou leis vazias que ninguém leva a sério ou mudam para satisfazer interesses egoístas.

A situação política do país é desastrosa, justamente porque os brasileiros não seguem o exemplo de Nossa Senhora de se santificar primeiro e cuidar do resto depois e em consonância com a santificação pessoal. A solução para o país começa, em primeiro lugar, com a nossa santificação. A partir disso, ajudando a santificar também os outros, poderemos ter um país justo e bom, onde a existência de leis terá um valor secundário, já que cada um buscará fazer o que é agradável a Deus por conta própria. Como dizia São Paulo: para o justo não há lei (1 Tm 1,9). Isso é fácil de verificar na prática. Provavelmente há pessoas aqui que estão na Missa apenas porque é lei da Igreja o ir à Missa aos domingos. Talvez estejam entediados, pois seu coração está no mundo e longe de Deus. Preferem ver algo no celular do que conversar com Cristo na sua igreja. Todavia, o homem espiritual não precisa dessa lei, pois sabe que a Missa é necessária para a sua salvação e vai de livre e espontânea vontade e não coagido por uma lei. Ele vai à Missa até mesmo em dias que não são dias de preceito.

Nossa Senhora nos deu o exemplo de fazer as coisas para agradar a Deus e não apenas por causa de uma lei imposta. Cabe a nós pedirmos a ela a luz e a força para imitá-la, sabendo que ela está perfeitamente viva e atenta às nossas necessidades espirituais. A caridade não possui lei nem limites, se pedirmos que ela esteja na nossa alma, então a vida será bem mais fácil e terá uma alegria que nenhuma criatura pode nos dar.

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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