Sermão do XII Domingo depois de Pentecostes

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Lemos na Epístola de hoje que a letra mata e o espírito vivifica. A letra, sem o espírito, não basta. A Bíblia, sem a Igreja, mata as almas. Só devemos seguir a Bíblia naquilo que a Igreja Católica ensina e nunca seguir a Bíblia sem a Igreja Católica. Caso contrário, acontecerá conosco após a morte o mesmo que acontecerá com os protestantes genuínos que dirão: “Senhor! Senhor!”, ao que Jesus responderá: Não os conheço, ide malditos ao fogo eterno.

Com muita razão escreveu o Papa Bento XVI uma carta aos bispos alemães onde se criticava a pretensão de querer, apenas com a letra, sem o intermédio da Igreja, transmitir a doutrina aos fiéis por meio da tradução em língua vernácula dos textos da Missa, sobretudo através de uma tradução abusiva da expressão “pro multis” como sendo “por todos”. Tal erro de sabor protestante não se dá na Missa Tridentina, Missa essa projetada para imunizar os fiéis contra as heresias, onde eles são obrigados a recorrerem à Igreja para obter a devida explicação do significado da Missa.

Ter esse espírito católico é essencial para a nossa salvação, no que também podemos considerar aqui a importância do sensus fidelium e do sentire cum Ecclesia, isto é, do “faro dos fiéis àquilo que é ou não católico” e do “pensar como a Igreja pensa”, conforme expressão usada por Santo Inácio de Loyola nos seus exercícios espirituais. Ela foi forjada para que os católicos sejam realmente católicos e não protestantes sem o saber, essa que era a “heresia da moda” na época de Santo Inácio. A “heresia da moda” atual é o modernismo, por isso os conselhos dados por Santo Inácio também são muito úteis para os dias atuais.

Para poder pensar como a Igreja pensa é preciso saber o que a Igreja pensa e para tanto temos como referência os 3 pilares da doutrina católica: a Bíblia, a Tradição e o Magistério, devendo sempre estarem juntos e nunca isolados um do outro. Na prática, o essencial está contido no catecismo de São Pio X ou no catecismo Romano do Concílio de Trento, por isso é bom ler e reler esses catecismos para dar os primeiros passos em saber como a Igreja pensa.

Infelizmente, sobretudo desde a última alteração feita neste mês de agosto no Catecismo da Igreja Católica, isto é, na versão pós-conciliar do Catecismo, não se adquire através desse catecismo o pensamento da Igreja, mas opiniões pessoais dos seus autores, por isso tal livro não é recomendável para quem quer aprender a ser e pensar como um católico.

Ao adquirirmos o verdadeiro modo de pensar da Igreja, que é o mesmo em qualquer época ou lugar, pois que a verdade e a Revelação são imutáveis, podemos então de fato estar em união uns com os outros. Querer uma união formal externa sem antes haver uma união interna na verdade é querer algo vazio e ilusório.

Por exemplo, ao lermos alguém dizer que a dignidade da pessoa humana é inviolável, causa-nos um estranhamento devido ao sensus fidei. Em primeiro lugar, a ideia de que a dignidade da pessoa humana seja inviolável, em qualquer circunstância, não consta como dogma no Credo que rezamos na Missa e no terço diário. Dizemos: “Creio no Espírito Santo (…) na ressurreição da carne etc.”, mas não dizemos nos credos católicos a frase: “creio na inviolabilidade da dignidade da pessoa humana”, por isso erigir isso como dogma ou princípio causa, no mínimo, um estranhamento. Num segundo passo, ao conhecermos mais detalhadamente o pensamento da Igreja, por exemplo, ao lermos os escritos de Santo Tomás de Aquino, aprovados por diversos papas, lemos que um homem pode perder sua dignidade devido a certos pecados (cfr. IIa IIae, q. 64, a. 2, ad 3), isso prova, junto com a razão natural, que a dignidade da pessoa humana não é inviolável. Ao meditarmos um pouco mais sobre as consequências desse falso princípio, vemos como ele torna toda a Revelação e mesmo a própria noção de Deus algo absurdo e sem sentido. Se a dignidade da pessoa humana fosse realmente inviolável, então como explicar que Deus, em primeiro lugar, dá demonstrações claras de que o homem não manteve sua dignidade ao longo da história? Ao cometer o primeiro pecado, o pecado original, o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, perdeu a amizade divina, perdeu a semelhança com Deus, segundo a leitura de alguns Padres da Igreja, perdendo assim a dignidade que poderia levá-lo à felicidade eterna no Céu, e possui, então, como possibilidade, o passar a eternidade no inferno, lugar onde vão os homens que morrem sem a dignidade humana desejada inicialmente por Deus, bem como se abre a perspectiva da morte como parte integrante da nossa existência, algo que iria contra uma suposta inviolabilidade da dignidade da pessoa humana.

Vemos aqui que conhecer a doutrina católica não deve ser visto como um artigo de luxo de alguns poucos, mas algo essencial para a nossa salvação nesses tempos conturbados onde até mesmo o catecismo que se diz católico prega princípios contrários ao que a Igreja ensina na sua doutrina eterna e imutável. Se algumas vezes eu tolerei que se usasse o Catecismo da Igreja Católica como meio de aprender a doutrina católica, mesmo sendo ele imperfeito, agora retiro publicamente esse conselho dizendo que esse catecismo, doravante, não reflete a doutrina católica.

A real obediência e união entre os católicos deve estar submetida em primeiro lugar à verdade, pois, sem ela, tudo cai no vazio. Devemos preferir estar desunidos com os que se dizem “católicos” no mundo atual, sejam leigos ou membros do clero, do que estar desunidos com a doutrina eterna da Igreja que foi ensinada e seguida por tantos e tantos verdadeiros católicos ao longo desses 2000 anos de história da Igreja.

Peçamos a Nossa Senhora, auxílio dos cristãos, para que a hierarquia da Igreja volte a pensar como a Igreja de sempre pensa, para que assim os católicos possam se unir na verdade e de verdade, cessando assim tantos cismas e brigas que ocorrem no interior da Igreja para escândalo dos pagãos e perdição de muitas almas.

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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