Sermão do XIII Domingo depois de PentecostesA lei sobrenatural na educação dos filhos

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

A segunda parte do programa de educação dos filhos vem da lei sobrenatural de Deus. E a lei de Deus está toda resumida em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.

Como um rio de muita força, que recebe um afluente e o incorpora, formando um só curso de água, também a lei sobrenatural de Deus, que é a caridade (e que tem muita força e muito ímpeto), recebe a lei natural e a sobrenaturaliza, sem retirar dela o seu valor próprio. Praticar a lei natural por amor sobrenatural de Deus é realizar essa junção.

Nada mais razoável do que cumprir a lei natural para viver honestamente. Porém, mais ainda para agradar a Deus quando se é seu filho adotivo pela graça. É como um servo que o rei transforma em amigo. Mais ainda: em filho adotivo e herdeiro.

Concretamente, o que isso significa? Que os pais educarão os filhos de acordo com duas leis diferentes: a lei natural e a lei sobrenatural. Sempre dirão: “Se deve… É necessário… É razoável… Convém… etc“. Com isso, invocarão a lei natural e as coisas que estão de acordo com nossa animalidade racional. Mas acrescentarão: “Façam isso, mas por amor a Deus“. Deste modo, com um só golpe, os pais estarão formando os filhos de acordo com as duas leis de Deus: natural e sobrenatural.

Não se deve pensar que seja difícil. Os filhos já não estão familiarizados com o dever de amar filialmente seus pais na terra? O que se lhes pede é que simplesmente olhem mais alto e repitam, em favor de seu Pai que está nos Céus, aquilo que já praticam com seus pais na terra.

A caridade é uma virtude essencialmente militante nesta vida, e triunfante na outra. Mas para saber usá-la é necessário evitar dois defeitos:

  1. O esquecimento. Muitos pais se limitam à lei natural (e, muitas vezes hoje, nem isso…). Inculcam nos filhos honestidade, lealdade, sinceridade, justiça, misericórdia, espírito de serviço, etc… Nas suas melhores épocas, os pagãos não fizeram diferente. Mas o erro está em passar o dia sem que Deus, nosso Pai que está nos Céus, faça parte dele e receba um só afeto nosso, um sacrifício. Nenhum pai estaria contente se um de seus filhos, do amanhecer até a noite, ficasse sem lhe dirigir um olhar, um sorriso, um pensamento. Protestariam por causa da ingratidão, depois de tantos cuidados e sacrifícios. E como as coisas se passam com Deus, que nos tirou do nada, e nos dá tudo, na natureza e na esfera sobrenatural?
  2. Esterilidade no amor de Deus. O amor sem as obras… O amor por Deus deve ser efetivo, não somente afetivo. Os atos internos de amor por Deus são necessários, mas a caridade é uma amizade com Deus, e a amizade é um amor caracterizado pela troca de bens. E a fé sem obras é morta.

E os meios a usar para evitar estes dois erros são:

A) Recordar constantemente o amor que devem ter para com Deus. Sugerir, de tempos em tempos, ao longo do dia, que os atos sejam oferecidos a Deus. Não se contentar em oferecer as atividades do dia na oração da manhã. É uma excelente prática, mas sem continuação dá a entender que Deus deve se encarregar do resto sem nossa cooperação ativa… Oferecer a Deus uma cortesia pela manhã e outra à noite: é o suficiente para deixar Deus conformado? Os filhos sempre devem lembrar do que Deus disse para Abraão: “Anda sempre na minha presença, e serás perfeito“.

Mas, atenção!… Ficar incomodando os filhos com essas sugestões piedosas o tempo todo seria uma coisa concretamente insuportável. Ouvir isso constantemente é algo que dá nos nervos. É melhor preferir os atos concretos exemplares às frases repetidas sem parar. Os pais devem, de preferência, fazer os filhos agirem (cf.: Pe. Antonio Royo Marin, Espiritualidad de los seglares, Biblioteca de Autores cristianos, Madrid, 1967, p. 588).

B) A prática pessoal. Foi o método de Cristo: “Começou a fazer e a ensinar” (Atos dos Apóstolos 1, 1). Os filhos imitam os pais. Da infância até o momento de casar, o tempo não é muito grande, e as ocasiões não são muito numerosas, para fazer com que os filhos possam dar tudo o que podem. Mas ao casar, ou ao assumirem qualquer responsabilidade que seja na vida adulta, no mais das vezes seguirão o caminho mostrado pelos pais. Os pais devem ser vagões, e não locomotivas. Devem mover, e não ser movidos. E, assim, os filhos saberão como fazer quando a ocasião se apresentar.

Em resumo, sobrenaturalizar a vida da família, mas sem fazê-lo de modo pesado. Ir fazendo com que a raiz do amor por Deus cresça e prenda todas as nossas atividades: dormir, acordar, comer, ir até a escola ou trabalho, falar com os outros, estudar, ajudar, ler, tomar decisões, compras, descanso, etc… Tudo deve estar costurado pelo fio vermelho do amor por Deus.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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