Sermão proferido na primeira missa do neo-sacerdote Tomás Parra

Hoje comemoramos a festa de Nossa Senhora das Dores. E neste dia, em que vemos mais de perto o Imaculado Coração aos pés da Cruz, unindo-se como que num só coração ao Sagrado Coração, publicamos um antigo sermão realizado na primeira missa do Padre Tomás Parra, IBP, no Mosteiro de São Bento, quando pela primeira vez ele renovou o sacrifício de Nosso Senhor no Calvário.

Desejamos a todos os sacerdotes, na festa de hoje, uma união ainda maior com esses dois Corações que, no Calvário, faziam um só.

 

“Mostrai-vos aos sacerdotes”.

(S. Lucas 17, 14)

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

 

Estimado Padre Tomás,

Salve Maria!

Hoje é a sua primeira missa. E Deus, que é Senhor do tempo, quis que hoje o Evangelho da Santa Missa tivesse grande relação com o sacerdócio, de como o padre deve ser, de como o padre é realmente.

No dia de nossa ordenação sacerdotal nós não recebemos somente o caráter sacerdotal. O sacramento da ordem nos deu também a graça sacerdotal. Ela é a graça dada ao padre, diz Santo Tomás, para que ele possa realizar suas funções sacerdotais conforme o espírito de Cristo.

Pelo caráter sacerdotal o padre é “outro Cristo”, pelo menos um instrumento seu. Pela graça sacerdotal, ele vive como “outro Cristo”. Como diz São Paulo, “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gálatas 2, 10). Jesus faz o padre viver de sua própria vida sacerdotal. Em uma palavra, o padre não é um simples servo, ele é seu amigo.

“Tudo o que é meu é teu; tudo o que é teu é meu” (S. João 17, 10). Tudo é colocado em comum. Jesus dá ao seu padre tudo o que Ele tem, e lhe abre todos os segredos de seu Sagrado Coração. É, verdadeiramente entre nós e Ele, a união total, a unidade, pois nós estamos no lugar dele aqui na terra, nós vivemos a Sua vida, nós o representamos. A vida interior do padre é a vida interior de Jesus mesmo, dada ao padre. E Ele faz isso porque ninguém mais do que Nosso Senhor se preocupa com a salvação das almas, e no nosso ministério nós precisamos vê-las como Ele as vê, se preocupar com elas como Ele o faz.

Nós somos os pastores e os pais das almas que nos são confiadas. Nós as dirigimos, nós as geramos para a vida sobrenatural, e nós as ressuscitamos se elas a perderam. Nós mudamos, com uma só absolvição, a eternidade delas. Em resumo, nós exercemos sobre elas um poder maior do que um soberano da terra, pois nós entramos nas consciências e as dirigimos.

Mas esse poder é um poder que temos enquanto instrumentos de Nosso Senhor. As almas não nos pertencem. Ela são de Cristo e nós só somos Seus servos inúteis. Somos ajudantes de Deus naquelas coisas que Ele pode, finalmente, fazer sozinho, mas preferiu que nós tivéssemos a honra e a dignidade de ajudá-lo.

Por isso, devemos ter um respeito imenso pelas almas, não tomá-las para nós, não abusar do nosso poder, mas agir nelas com as intenções de Nosso Senhor. E como Nosso Senhor deseja o bem delas!

“Senhor Jesus, tem piedade de nós!”. E os dez leprosos foram curados. É pelos sacerdotes que as almas se salvam. Lógico, Deus, absolutamente falando, pode salvar as almas sem os padres. Mas é necessário reconhecer que onde não há padres, as almas, como regra geral, se perdem. Como regra geral, a presença do padre é necessária para a manutenção da fé e da vida cristã.

Esta vida de Nosso Senhor, que te foi dada ontem, na ordenação, ela deve ser cultivada, ela deve se enraizar mais na tua alma, pela oração, pela penitência, pelo estudo, pela humildade. Um padre não pode passar sua vida pretendendo viver de juros, daquelas coisas que foram sendo depositadas nele ao longo do seminário. Ele deverá sempre depositar mais oração e mais conhecimento no tesouro que lhe foi dado ao longo do seminário, porque o tempo nos faz esquecer as verdades que aprendemos se não continuamos a estudar.

É verdade que o apostolado dos padres nem sempre produz os frutos que poderiam produzir. Nossos defeitos, a resistência das almas ao bem que buscamos fazer a elas, nosso receio infundado de corrigir o que precisa ser corrigido em alguém (quando, na verdade, se lhe fizéssemos uma correção, ele de fato se corrigiria e estimaria mais ainda os sacerdotes), ou nossa precipitação em corrigir, quando o melhor seria ter ficado em silêncio e ir incomodar o Sagrado Coração (mesmo por alguns anos, talvez, se for necessário…) até lhe arrancar a conversão dessa alma, etc., tudo isso pode esterilizar nosso apostolado. Mas Nosso Senhor sempre nos dá o que precisamos para lhes fazer o bem. Ele quer ver a graça sacerdotal frutificar cem vezes mais em nossas vidas de padre. Como dizia São Luís de Montfort, Nosso Senhor quer “padres todos de fogo”.

Tenha confiança na graça que te foi dada ontem. Reze como se tudo dependesse somente de Deus, e se dedique como se tudo dependesse somente de você. Depois nos veremos no Céu, porque fomos fiéis no pouco e, por isso, receberemos muito, e teremos entrado na alegria de Nosso Senhor.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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