Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Hoje o Evangelho nos convida a meditar sobre a importância da oração, sobre a qual Santo Afonso Maria de Ligório escreveu um livro inteiro de nome “A Oração” que recomendo ler. O mesmo santo é conhecido pela sua famosa frase: “quem reza se salva, quem não reza se condena”. A oração que gostaria de enfatizar aqui não é apenas aquela que fazemos num determinado momento e num determinado lugar, mas sim o espírito de oração que deve estar presente na alma de cada católico que quer progredir na vida espiritual e, consequentemente, no amor de Deus, oposto ao viver como se Deus não existisse, ficando sem rezar nada ao longo de um dia inteiro.
O espírito de oração consiste nessa disposição de rezar a tempo e a contratempo, quando temos “vontade” e quando não temos, mas sabemos ser o momento, o horário reservado do dia, para rezarmos. Falamos frequentemente da oração da manhã que fazemos ao acordar, e da oração da noite que fazemos antes de dormir. Cada um tem a sua, mesmo que seja apenas uma simples Ave Maria, mas o importante é querer conversar com Deus para que o novo dia não seja em vão, nem que no nosso dormir nos afastemos de Deus, que é o nosso único verdadeiro e incomparável amigo.
Cristo nos avisa que a oração não caminha sozinha, mas está unida à vigilância, isto é, àquela atenção de ver o que na nossa vida, nos eventos ao nosso redor, nos aproxima ou nos afasta de Deus. A vida é complexa demais para fazermos tudo sozinho, por isso é necessário, e não algo meramente opcional, recorrer a Deus ao longo do dia para podermos combater nossos defeitos e estarmos prontos para fazer o bem a quem necessita.
Rezar implica em pensar em Deus, conversar com Deus, e, como todo bom hábito, quanto mais o fazemos, mais fácil será fazê-lo novamente. O espírito de oração não é algo com o que se nasce, mas se adquire. Percebemos que alguém tem o espírito de oração quando está disposto a rezar sem resmungar ou se distrair, quando está disposto por iniciativa própria a ficar um tempo a sós com Deus, fugindo das distrações do mundo.
A oração não precisa ser de um tipo só, há vários tipos de orações para os diversos tipos de homens e situações, há aquelas mais rápidas, outras mais longas, direcionada a certos santos, a Nossa Senhora ou diretamente a Nosso Senhor. Logo, não há motivos para nunca rezarmos ao longo do dia. Como temos tempo para ler notícias inúteis na internet ou ver vídeos de gatos correndo atrás do próprio rabo, mas não temos tempo para conhecer o tesouro de orações que a Igreja acumulou ao longo dos séculos? Também para isso há muitos livros bons.
Através da oração somos capazes de olhar as coisas de nossa vida sob um outro aspecto e reorganizar aquilo que agora amamos com aquilo que devemos amar e o quanto devemos amar. Um dos motivos para sempre rezar é que devemos sempre crescer no amor das coisas de Deus e
isso se faz através da oração, para contemplar melhor o bem de Deus e se deixar atrair por ele, para então espalhar ao nosso redor as coisas boas que colhemos através da oração.
Uma pessoa, por exemplo, que comete o pecado da maledicência, ganha muito rezando pelas pessoas de quem fala mal, pois assim as olhará sob um outro aspecto, diminuindo assim a tentação da maledicência, pois se rezamos por alguém é porque queremos o seu bem e isso contradiz com esse pecado que lhe traz um mal, ferindo a sua reputação. É o caso de nos perguntarmos: rezamos nós pelos nossos inimigos? Senão o fazemos, no que nos distinguimos então dos pagãos?
Uma oração sincera obviamente não fica inerte de consequências concretas, pois senão seriam meras palavras ao ar. Conversemos com Deus com sinceridade, constância e fé, para nos aproximarmos mais Dele e, consequentemente, de toda a criação, pois é através dela que conhecemos as qualidades do Criador e é também por meio dela que podemos demonstrar o quanto O amamos por meios das obras de sacrifício e de caridade para com os outros.
O demônio, por sua vez, conhece bem o poder que a oração tem para afastá-lo, por isso, inteligente como é, utiliza de vários meios para nos afastar do espírito de oração, nos acumulando com distrações e preocupações inúteis. Ele nos faz perder tempo com futilidades e cansa nosso espírito ao longo do dia de modo a não termos força ou ânimo para rezar. Se, ao contrário, fazemos nossas atividades tendo o olhar fixo em Deus, então o espírito de oração não sai de nossa alma.
Enfim, concluindo junto com Santo Afonso, Deus concedeu aos animais os meios necessários para sobreviver e cumprir sua missão, uns com a rapidez, outros com as asas, outros com a força, mas aos homens, foi-lhe dada a razão, através da qual, unida à oração, consiga os meios para cumprir sua missão na terra e possa, então, obter a salvação. Sem o uso da razão e da oração, não temos o porquê de nos espantarmos de nossa vida ser um fracasso.
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
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