Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite espiritual, não falsificado, para que por ele vades crescendo.
(1 S. Pedro 2, 2)
Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Nos primeiros séculos em Roma, no dia de hoje, na oitava de Páscoa, todos visitavam a tumba de São Pancrácio, este jovem mártir de 14 anos que era soldado. Os novos batizados na Vigília Pascal eram apresentados ao jovem mártir para que lhes fosse incutido um novo espírito: o espírito de que, agora, eles eram soldados de Cristo, de que tinham se alistado na sua milícia, e deveriam estar dispostos a morrer por Cristo. Nós, por enquanto, não temos por aqui muitos fiéis que foram batizados já adultos. Mas aqui na missa há uma quantidade enorme de jovens que conheceram a missa no rito romano tradicional e que, nas suas próprias palavras, descobriram um mundo novo. Não foram batizados já adultos, mas é como se fossem novos cristãos. Para muitos aqui, tudo é muito novo.
Preciso ser sincero: fico admirado com o exemplo que vocês, mais novos, que frequentam há pouco tempo aqui, dão. Vejo como sentam na frente, e olham tudo com os olhos arregalados, e acompanham tudo no missal de fiéis. Me mandam mensagens com frequência, perguntando o porquê disso e daquilo, e querem saber como levar uma vida nova de filhos de Deus. Nos Catecismos para adultos, das quartas-feiras, colocam perguntas que miram lá na frente, com indagações bem sagazes a partir dos fundamentos ensinados, e que muitos não conheciam. Vocês, mais novos por aqui, são como novos batizados, para os quais tudo é muito novo. Vocês desejam se alimentar de um leite espiritual para crescer bem como filhos de Deus. Por isso, no dia de hoje, me pareceu bom dirigir este sermão a vocês, para dar uma visão clara do que é bom fazer como filhos de Deus, aqui e lá fora.
Como padres, como pais espirituais, nós procuramos dar a vida sobrenatural da graça para vocês, e procuramos sustentá-la e protegê-la. Entretanto, por causa de limitações óbvias, físicas (lugar e tempo) e por causa de nossos próprios defeitos pessoais, nós padres não conseguimos cuidar de vocês em tempo integral, no sentido pleno da palavra. Isso é impossível. Além disso, a Igreja não é um regime totalitarista, onde os fiéis são constantemente vigiados em tudo pelos padres. Os padres devem dar a vocês os princípios que farão com que vocês tenham uma inteligência lúcida e clara, pela qual vocês saberão resolver por si mesmos (não por ideias pessoais orgulhosas, mas pelas verdades ensinadas por Deus) seus próprios problemas espirituais, ao menos nas coisas que não são complicadas, para que vocês sejam filhos livres de Deus. Da parte de vocês, fujam de contestações caprichosas sem justificativa doutrinal.
Um fiel, um penitente na confissão ou dirigido espiritual, antes que seja capaz de agir de modo correto em relação aos seus vícios, pecados e problemas, deve seguir as instruções do seu confessor, padre ou diretor (nós chamamos estes conselhos, em Teologia, de juízos prudenciais, porque são baseados nos prudentes ensinamentos constantes dos santos, do Magistério, nos autores de moral e de vida católica, cujos conselhos e instruções foram aprovados de geração em geração, pelo frutos que deram). Os fiéis devem seguir os conselhos do seu confessor, realizar as ações que ele aconselha para que adquiram hábitos corretos, corrijam o modo como usam a imaginação, a memória, como trabalham seus afetos, como pensam sobre as coisas, como lidam com as pessoas. Não se trata de ter um pensamento único nos moldes totalitaristas, mas de ter uma estrutura intelectual que seja sadia e, posso garantir aos mais novos aqui (e talvez aos não tão novos), que vocês não têm uma inteligência sadia. Isso não deve espantar vocês. É previsível que todos nós sejamos tocados pelo modo defeituoso de pensar do mundo contemporâneo. É necessário combatê-lo: seu sentimentalismo, seu individualismo, seu igualitarismo, seu espírito de gozação de vida, seu liberalismo. Com o tempo, vocês serão capazes de distinguir as coisas corretamente. Quando um dirigido e um penitente seguem os conselhos do seu confessor ou diretor, após um certo tempo eles começam a vivenciar uma espécie de clarificação da alma. Mas durante todo o tempo em que os maus hábitos permanecerem em vocês, será difícil agir prudentemente em relação às coisas que são, para vocês, ocasião de pecado. Por isso, sejam dóceis às instruções que damos, porque nós sabemos que elas darão luz para vocês, e que funcionam.
Sejam dóceis e tenham o espírito combativo. Insisto novamente: nós, padres, não podemos vigiar todos vocês sempre. Isso é não somente impraticável, mas seria absurdo e ridículo. Vocês devem ser capazes de resolver por si mesmos seus próprios problemas espirituais. Nós, padres, não temos como vigiar o que vocês vêem a cada momento no celular e na internet, o que escutam, com quem conversam e sobre o quê, nem se estão realizando honestamente seus deveres de trabalho, nem se estão estudando a doutrina católica para se formarem. Nós damos os princípios, e nós também cumpriremos nossos deveres de sacerdote em relação a vocês, mas os últimos responsáveis pela alma de vocês são vocês mesmos. Vocês são totalmente responsáveis pelas ações de vocês e são vocês que darão contas delas para Deus, que as pedirá com toda a responsabilidade que vocês têm sobre elas. O princípio básico é dizer às coisas deste mundo e a si mesmo: “Eu sou o mestre aqui, não você. Eu decido se vou usá-lo, quando fazer e quando não”.
Isso tudo, lá fora. Mas é importante saber como agir aqui dentro, na igreja, durante a missa ou fora da missa. Primeiramente, evitem todo tipo de singularidade. Não sejam excêntricos no modo de rezar, nas roupas que usam, no modo de se comportar, nas ideias que têm… Observem as pessoas de bom senso. Pode ser que, aqui dentro, vocês, mais novos aqui, vejam pessoas que não conseguem ficar 2 minutos sentados em oração durante a missa: olham constantemente para o celular, enquanto Cristo está especialmente presente na santa Eucaristia e convida cada pessoa que recebe a Sagrada Comunhão a entrar em comunhão com Ele. Portanto, desliguem os telefones celulares, e não imitem as pessoas que ficam olhando para o celular durante a missa e na igreja. Recolham-se e peçam ajuda para Deus em relação à família de vocês, ou à futura família de vocês, aos filhos que um dia vocês terão, ao trabalho que têm, aos estudos, às dúvidas sobre que tipo de vida seguir, para vencer tal vício, compreender tal questão, etc. Não imitem as pessoas que ficam saindo do lugar para ir ao banheiro e não conseguem parar dois minutos para rezar. Se víssemos um adolescente ou adulto usando chupeta, ficaríamos espantados pelo grau de infantilidade dele. E o que devemos pensar de um adolescente ou adulto que não consegue parar para rezar, como uma criança? Talvez elas digam: “Mas, padre, preciso ir ao banheiro”. E eu responderia: “Tome suas precauções antes de sair de casa. Todos fazem isso antes de ir fazer uma prova, antes de ir ao concerto, antes de ir a uma reunião de trabalho. Por que para a missa não é assim?” É óbvio que é uma questão de tibieza, mas acho que, antes de tudo, é uma questão de educação e de civilidade social.
Talvez vocês vejam pessoas conversando durante a Santa Missa. É uma pena. Não as imitem. Talvez vocês vejam pessoas que recebem a comunhão de modo pouco piedoso, fazem uma ação de graças ligeiríssima, que conversam na igreja e atrapalham a oração dos outros. É uma pena. Não as imitem. E talvez vocês vejam pessoas, conhecendo há muito mais tempo do que vocês a missa no rito romano tradicional, e devendo conhecer melhor do que vocês o que é ser um bom católico, mas não vivam de modo coerente, e digam para vocês que o padre exagera. É uma pena. Não as imitem. Lembrem-se de que os padres deixaram de casar e de ter uma esposa e filhos por causa de vocês. Deixaram de ter salário, casa própria, e inúmeras outras coisas, para dar dedicação a vocês, às almas de vocês. Somente sob o aspecto humano, já não é pouca coisa.
Lembrem-se de que aqui é a segunda casa de vocês. Que nós somos uma família, e de que cada um deve ajudar os outros, como irmãos, ajudar a própria casa. Lembrem-se de que a pujância da vida desta igreja depende em muito da generosidade de vocês. Vejo que há muitos elogios quanto à beleza do altar aqui nas festas, em relação ao canto, ao serviço dos acólitos, às formações que são dadas, etc. Mas saibam que isso exige muito sacrifício de muita gente, de pessoas que estão sentadas ao lado de vocês, que sacrificam seu tempo e dinheiro para fazer os paramentos que usamos, para comprar as velas e protetores que usamos, para pratear os objetos que vão sobre o altar, para dar as lembranças de Páscoa que vocês receberam, ensaios, cafés após a missa, flores, etc., etc. [Venham me procurar, para manter um mínimo de ordem, e vejam no que podem ajudar em relação ao IBP].
Pode ser que vocês encontrem aqui pessoas que não vejam as coisas deste modo. É necessário ajudá-las, fazer o bem sempre. E, como numa milícia, sob as orientações do general, do pastor que conduz vocês, lutar para que Jesus Cristo vença em cada alma, em cada paróquia, numa vitória total.
Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.
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