Sermão do XX Domingo depois de Pentecostes

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Continuando algumas considerações sobre a Eucaristia, uma delas é vermos que Cristo é nosso Pai, Esposo e Rei. Enquanto nosso Pai, convinha que depois de sua morte nos deixasse alimento e herança, com que pudéssemos viver. Esse sustento e herança foi seu mesmo Corpo e Alma, deixando-os no Santíssimo Sacramento ao deixar esta vida. E como a função de um Pai de família é não só a de sustentá-la, mas também a de protegê-la, também encontramos na Comunhão tudo o que precisamos para protegermos a vida de Deus em nós: enfraquece as nossas paixões, e em especial amortece em nós o fogo da concupiscência, aumenta em nós o fervor, ajuda-nos a proceder em conformidade com os desejos de Jesus Cristo e  perdoa os pecados veniais e preserva dos mortais. Por isso o Salmo 22 diz: “Preparaste uma mesa diante de mim, contra aqueles que me perseguem” (v. 5).

Como Esposo e Rei que é das nossas almas, convinha que nos fizesse estar presentes no grande banquete em que unimos nossas vidas à Sua vida, quando o recebemos realmente. E as bodas deste casamento que há entre Ele e nós não duram somente sete dias, como as bodas de Caná, e essa festa dada ao Seu povo não dura somente seis meses, como as que o rei Assuero fez e nos é relatado no livro de Ester, mas durará enquanto durar o mundo. E os convidados não só têm convite para vir, mas Cristo até pede que não demorem; e que nenhum deixe de se alimentar desta mesa, com a condição de que tenha a veste nupcial da graça.

É interessante notar que os demônios, com o ódio que têm por nós, e a inveja que têm da felicidade que nos é prometida, não se contentam em nos fazer mal exteriormente, mas procuram entrar em nossos corpos, pela possessão, ou ao menos entrar em nossa imaginação, em nossa memória, em nossos afetos. Quando vamos fazer o bem com nossos corpos e com nossas almas, procuram meter aí intenções menos puras e egoístas. E quando não conseguem colher mais pecados de nós, pelo menos tentam nos incomodar com a lembrança dos antigos.

Pois bem, por acaso Jesus Cristo tem uma diligência menor em procurar o nosso bem? É lógico que não. Sua caridade é infinita. Assim, Deus não somente procura nos fazer o bem exteriormente, mas inventou um modo de entrar em nós, para fortalecer e proteger nossa cidade interior, afastando o inimigo ou, pelo menos, coibindo seus ataques.

Evidentemente, Deus poderia nos defender só com Sua vontade. Mas, assim como Ele quis, depois de Sua morte, descer até os infernos para vencer completamente o demônio; assim também ao recebermos Nosso Senhor na Comunhão, Ele desce até nosso interior, vai até os infernos de nossos pecados e maus hábitos e os persegue e os vence. É impossível que uma pessoa que comungue com frequência não termine vencendo um pecado que tem e arrancando de si aquilo que a escraviza.

Era muito conveniente que Jesus Cristo introduzisse seu Corpo unido à divindade em nossos corpos machucados pelo pecado; que pouco a pouco, conforme nossa maior ou menos generosidade, e conforme Sua Providência, os modificasse com sua presença frequente, que Seu sangue estivesse em nós, e assim a Sua vida fosse a nossa vida. Porque não é possível que a malícia de todos os demônios juntos, unida à malícia de todos os homens juntos, nos façam mais dano do que a Pessoa de Jesus Cristo, escondida no Santíssimo Sacramento, nos pode fazer de bem.

Já aqui vemos como não conhecemos praticamente nada do amor que Deus tem por cada um de nós, nem sabemos estimá-lo, nem agradecê-lo, nem vemos como a guerra por nossas almas, que existe entre Deus e o inferno, é grande e como nessa guerra vale tudo, inclusive disputar a salvação das almas corpo a corpo, literalmente.

O resultado dessa guerra depende de como cooperamos com Jesus Cristo quando Ele vem em nós. Há um modo de recebê-Lo, que nos ajuda a tirar muito mais proveito de sua visita em nós. Aos poucos iremos explicar como fazer, e mostrar o caminho das pedras. Mas antes, durante mais algumas semanas, tentaremos ver com um pouco mais de luz o que Deus tinha em mente ao instituir a Comunhão e buscar com isso aumentar em nós o desejo de tê-lo conosco, porque a essência do aproveitamento das visitas que Nosso Senhor vem nos fazer na Eucaristia se resume a uma coisa: desejar ardentemente os seus bens, porque a medida do nosso desejo é que dá a medida da nossa capacidade de recebê-los.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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