3o Domingo depois de Pentecostes (2018)

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

As leituras da Missa são muita ricas de significado e na coleta da Missa de hoje vemos uma oração tipicamente católica e romana. Ela é curta, mas bem densa de sabedoria. Para os que não têm costume de acompanhar a Missa com um missal de fiéis, eis a tradução: ó Deus, que sois o protetor dos que esperam em Vós e o princípio de toda a virtude e santidade, multiplicai sobre nós a vossa misericórdia, para que, governados e conduzidos por Vós, passemos por esta vida sem perder a eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo etc. De fato essa tradução não é 100% fiel ao texto latino. No texto latino se diz que sem Deus nada é forte, nada é santo, e que queremos que os bens temporais não sejam obstáculos à nossa salvação.

A imagem que temos de Deus aqui é de um Deus protetor como no A.T., o qual protegeu o povo de Deus no deserto contra o Sol no dia e contra a escuridão no frio da noite. Vemos como precisamos que Deus seja nosso abrigo contra os ataques do mundo, que eles nos cubra com a sua abundante misericórdia, para não desistirmos da caminhada. O termo protetor também pode ser entendido como aquele que nos protege pela frente, como um escudo, das flechas do mundo e do demônio. Essa imagem da Igreja Militante é bastante católica, não devemos nos iludir com o sorriso falso do mundo, no fundo ele nos odeia. Apenas a conversão é sinal de uma sincera busca da verdade. Por isso nosso trato com o mundo deve ser esperto como a serpente e simples como a pomba. Nós, católicos, estamos como soldados em território inimigo, precisando assim ter fortes escudos. Precisamos de um líder forte para guiar os nossos passos e nos tirar da zona de perigo. Precisamos de um abrigo forte para podermos descansar em segurança. Precisamos de alguém que nos distinga o que é santo e o que é engano. Deus é esse líder, Ele é o nosso refúgio e deve ser o guia dos nossos passos. Não devemos dar um passo à frente sem antes ver qual caminho Deus quer para nós.

Como também lemos no Introito e no Gradual de hoje, devemos jogar nossos pensamentos em Deus e ele irá escutar a nossa prece. Nós confiamos em Deus e sabemos que não seremos confundidos nisso. E nessa oração da coleta falamos dos bens terrenos como possíveis obstáculos à salvação, logo não devemos nos esforçar em chamar de lar onde estamos, pois o verdadeiro lar é o Céu. Depois da queda do pecado original, mesmo depois do batismo, as consequências funestas continuam a nos deixar vulneráveis ao mundo e ao demônio. Precisamos que Deus não só nos proteja do mundo e do demônio, mas também de nós mesmos!

O espírito dessa oração contrasta enormemente com o espírito de certos documentos recentes os quais, por exemplo, afirmam que nos dias atuais “aumenta a consciência da eminente dignidade da pessoa humana”. Como afirmar isso diante de tantas atrocidades cometidas entre os homens e, sobretudo, em lugares, antes católicos, visto a aprovação do crime do aborto na Irlanda? Logo vemos que tal documento está ultrapassado, ou melhor, desde sua época ele já estava em contradição com a evidente decadência da sociedade humana que se opera em proporção ao seu afastamento de Deus e de Suas leis.

Também é irônico ler um documento no qual se diz que “o homem atual está a caminho de um desenvolvimento mais pleno da personalidade e uma maior descoberta e afirmação dos próprios direitos”, quando o único “direito” que os homens buscam defender a todo custo nos dias atuais (e aliás, um falso direito) é o direito ao pecado. Direito à eutanásia, isto é, matar alguém. Direto ao aborto. Direito a publicamente chocar os outros com comportamentos destruidores da ordem social como é o caso dos pecados contra o 6º mandamento.

Sendo realistas diante do mundo atual, sem olhá-lo através de lentes cor-de-rosa, vemos a situação calamitosa de tantas pessoas afastadas da verdadeira fé e do verdadeiro Deus. Mesmo assim, isso não deve nos desanimar ou paralisar, visto que, como lemos nas orações da Missa de hoje, Deus nunca nos abandona, nem mesmo o pior pecador.

Ele que comia com os publicanos e outros pecadores, Ele pede para que, se nós fizermos a nossa parte, cumpramos os mandamentos como prova de amor, e também os nossos deveres de estado, e sendo generosos diante de tantos benefícios e atos de misericórdia com os quais somos cobertos da parte de Deus, fiquemos tranquilos de estar caminhando com retidão e segurança em direção de nossa verdadeira pátria, o paraíso celeste.

Se somos sóbrios e vigiamos, como nos pede S. Pedro, podemos então, depois, chamar nossos próximos à sobriedade e a vigiarem, para não serem vítimas do demônio que ronda cada ser humano para arrastá-lo ao inferno junto a si. Ser sóbrio não significa apenas não abusar da bebida alcoólica, mas, novamente relendo a coleta de hoje, implica em usar de modo temperado dos bens terrenos, de modo a que eles sejam um meio à prática das virtudes, como ajudar o próximo e o necessitado, e não um obstáculo que nos paralisa ou desvie do reto caminho, conforme se vê, infelizmente, nas pessoas infectadas com o vício da avareza que pensam apenas em acumular e que esquecem a real finalidade da vida.

Em resumo, se nós nos ocuparmos seriamente com as exigências de Deus, Deus cuidará, por sua vez, de nós e de nossos problemas. Resistamos, pois, fortes na fé, aos obstáculos que continuamente devemos enfrentar e que cessarão apenas com a morte.

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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