Redes Sociais: Parte ISermão do I Domingo do Advento

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

É dever dos sacerdotes instruir os fiéis sobre a lei de Deus. Quando eles sabem que há um problema muito disseminado, é necessário dar uma direção aos fiéis, porque do contrário nós, sacerdotes, ouviremos de Deus a seguinte repreensão no dia do juízo: “São todos cegos, sem inteligência. São todos cães mudos que não sabem latir; eles sonham deitados e amam o sono” (Isaías 56, 10). Sobretudo quando o problema se apresenta de modo sutil e as pessoas não se dão conta do problema em que estão. Quero me referir aqui à questão do uso das redes sociais: Facebook, Whatsapp, Instagram, Snapchat, Twitter, etc.

Muitas vezes a discussão sobre a bondade ou a maldade do uso das redes sociais permaneceu em um nível emocional. Por causa da facilidade de comunicação e de transmissão de informações, e enviesadas pelo aspecto atraente desses meios, a maior parte das pessoas pensa que não há qualquer problema no uso delas, ou que os problemas trazidos são pequenos.

É difícil encontrar textos discutindo a questão de modo razoável, partindo de princípios seguros e católicos. Alguns artigos dizem, por exemplo, que são modos de comunicação e de transmissão de informação que estão aí, e que não devem ser rejeitados. Ora, este modo de argumentar é bem fraco. Aqui nós apresentaremos várias razões sérias para sustentar uma visão adequada do uso desses meios de comunicação, porque eles fazem um mal enorme à vida católica e às pessoas quando são usados sem inteligência e contra a Lei de Deus. A verdade é que, comumente, o uso do Facebook, do Whatsapp e de qualquer rede social é feito de modo moralmente repreensível, e se cometem muitos pecados graves. As considerações que faremos aqui também se aplicam à internet em geral.

Veremos os problemas que são causados na psicologia individual, na relação das pessoas com a realidade, na relação das pessoas entre si, com a sociedade, no nível da política e os problemas morais mais notáveis que ocorrem.

1. Por causa do modo de funcionamento delas e da estrutura interna desses meios, e não por um problema pessoal particular de um ou outro usuário, as redes sociais afetam a psicologia de quem as usa.

Essa influência sobre a nossa psicologia e, portanto, sobre nosso modo de pensar, de ver as coisas e de agir com elas, reflete em nossa vida intelectual, em nossa oração e no modo como nós nos vemos a nós mesmos, no modo como vemos Deus, a Igreja, como nos relacionamos com as outras pessoas. Não ter qualquer crítica quanto a essa influência feita sobre nós, e não tomar providências práticas e concretas, é o caminho mais seguro de ser lesado no nosso modo de viver como ser humano e filho de Deus.  Tudo isso tem consequências eternas porque, em nosso juízo depois da morte, Deus nos pedirá contas até das palavras inúteis que falamos.

Primeiramente, o modo de funcionamento das redes sociais nos causa problemas pelo modo como agem em nossa memória. Nós colecionamos fotos e memórias de nossas vidas. Nas redes sociais como Facebook ou Instagram, colocamos e deixamos nossas memórias do passado, onde posávamos para fotos e criávamos momentos artificiais para serem fotografados e serem lembrados como reais.

Criamos uma narrativa ilusória de nós mesmos nas nossas timelinesselfies engraçadas, posts de coisas que queremos mostrar que admiramos, transmissões ao vivo de eventos pessoais, etc. Mas, evidentemente, só postamos fotos onde aparecemos de modo aceitável pelos outros, e não publicamos as coisas que com toda previsão serão criticadas com relação à nossa pessoa. São eventos propositalmente artificiais, cujos detalhes são todos pensados em função do desejo inicial e tirânico de ser estimado pelos outros.

Um ano depois o Facebook nos lembra desses momentos, nos induz a recebê-los sem nuances e os tomarmos como memórias genuínas de coisas que, de fato, foram só encenadas. Por esse modo de funcionar, o Facebook induz o usuário a se enganar a respeito da sua própria pessoa: olhamos para nós mesmos e nos tomamos como se realmente fôssemos nossos próprios simulacros produzidos em postsselfies e timelines. Finalmente, ficamos viciados em nossas próprias ilusões.

A verdade é que cada um de nós sabe muito bem que não somos o que realmente armazenamos no Facebook ou no Instagram. Todos nós sabemos, ao fazer exame de consciência, que temos vertigem de olhar para nós mesmos, como quando olhamos para um abismo. Por isso deixamos de fazer 1 minuto de exame de consciência e passamos duas horas ou mais nas redes sociais, nos admirando a nós mesmos, e admirando a admiração que os outros têm de nós. Melhor: não de nós mesmos realmente, mas de um simulacro do que somos. A verdade é que nós queremos ser enganados. Essa é a verdade: eu quero ser enganado, sabendo que estou criando um simulacro de mim mesmo e que sou falso para comigo mesmo. Porque é cômodo ter encontrado um modo de olhar para mim mesmo sem que eu tenha náuseas e, ao mesmo tempo, sem que eu tenha me corrigido dos meus defeitos, ou feito qualquer propósito eficaz de penitência. É propriamente a pior forma de cinismo: o cinismo exercido para consigo mesmo.

Desinteresse em examinar a própria consciência, descaso pelo próprio progresso espiritual com consequente desgosto pela confissão e diminuição na frequência em ir se confessar, orgulho sem qualquer fundamento em qualidades reais, mas fundamentado em qualidades artificialmente produzidas em nós mesmos, por nós mesmos e incentivadas por nossos admiradores, visão cínica de si mesmo, descaso pelas próprias misérias e em reformar-se. Esses são os primeiros danos que as redes sociais causam nas pessoas, não por acidente, mas como fruto do próprio modo como elas são estruturadas.

No próximo sermão veremos como as redes sociais têm um modo de funcionamento propriamente anti-teocêntrico, e a estrutura delas é pensada para que tudo seja referido ao usuário e não para Deus.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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