Sermão do XXI Domingo depois de Pentecostes

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Desde a vida do Patriarca Abraão, para quem Deus prometeu que de sua descendência sairia o Messias, até o nascimento do mesmo Messias, estima-se que se passaram mais de dois mil anos. E da criação de Adão e Eva, para os quais Deus já havia prometido enviar um Redentor, até o nascimento de Cristo, passaram-se milhares de anos. E, mais ainda: Cristo é Deus, e Deus disse: “As minhas delícias são as de estar com os filhos dos homens“. E o que estranha muito é que, depois de tantos milhares de anos de expectativa da humanidade na vinda do Redentor, e sendo tão grande o desejo que Deus tem de estar com os homens, quando veio neste mundo só ficou trinta e três anos, com uns poucos membros do gênero humano, que o conheceram numa província muito pequena do império romano. E, assim, parece muito estranho que sua vinda tenha demorado tanto, para depois, realmente, ser tão breve e tão restrita.

Por isso, sua onipotência, seu grande amor e desejo de estar conosco lhe deram uma ideia completamente única, um modo de estar sempre conosco até o fim do mundo depois da sua Ascensão, e de vir novamente à terra sem deixar o Céu. Ele inventou um modo se estar realmente e pessoalmente conosco, sem ser visível; conhecido com certeza pela fé, mas escondido aos olhos; nos consolando e dando vida, em graus variados, manifestando seus consolos na medida em que quer, e mais para aqueles que são mais seus amigos, ou que mais necessitam de alívio nos trabalhos que têm.

Os Santos Padres também chamam a Sagrada Comunhão de penhor da salvação. Um penhor é uma garantia. Quando, por exemplo, uma pessoa faz um empréstimo num banco, o banco exige dela algum bem pessoal que possa ser penhorado, isto é, colocado como garantia para o banco de que, caso a dívida contraída não venha a ser quitada, o banco poderá pegar esse bem pessoal no lugar, e isso dá uma garantia ao banco de que não ficará sem retorno algum. Do mesmo modo, quando pedimos, para uma pessoa, que nos faça um serviço exigente e trabalhoso, a pessoa nos pede uma parte já adiantada do pagamento, uma garantia, um penhor, para ter a certeza de que receberá o pagamento completo depois de ter finalizado o serviço pedido.

Deus, ao nos pedir que o sirvamos guardando a fé naquilo que não vemos; que cumpramos todos os seus mandamentos, que não são sempre todos fáceis de cumprir; que o amemos sobre todas as coisas que vemos, quando não o vemos; que façamos o bem ao nosso próximo, contra os quais temos tantos motivos de queixa; nos promete um pagamento: estar unido a Ele nos Céu, numa felicidade perfeitíssima, depois desta vida. Deus é a nossa recompensa, nada menos.

Mas Ele conhece a dificuldade que temos de fazer esse serviço que Ele nos pede, e já previu um modo de nos dar um penhor, uma garantia do pagamento final, um adiantamento pelo serviço que lhe prestamos, e assim nos ajudar a continuar no seu serviço. E como nada pode ser comparável a Deus e ficar em seu lugar, então Deus mesmo deveria ser esse pagamento adiantado. Por isso, aqueles que guardam a fé e cumprem a lei de Deus, e não quebram este contrato de serviço pecando gravemente, podem vir aqui, e receber o adiantamento da recompensa que receberão no Céu, e já nesta vida se unir realmente a Deus em pessoa, tendo um pouco do que teremos completamente no Céu, a salvação. Por isso a Sagrada Comunhão é realmente um penhor de nossa salvação.

Como na Sagrada Eucaristia tem tanto sabor! Que poder e inteligência seriam capazes de inventar um meio tão extraordinário e ao mesmo tempo tão poderoso, capaz de unir os homens entre si, de fazer com que neles haja como que outras Encarnações, que faça Nosso Senhor descer pessoalmente até os infernos de nossos pecados e maus hábitos para vencê-los, e possa entrar em nós e nos proteger, afastando nossos inimigos espirituais, e ficar conosco sem precisar sair do Céu, e que seja juntamente um pagamento adiantado da recompensa que teremos no Paraíso?

Como Deus é digno de toda nossa gratidão e estima neste sacramento! E se não pensamos nas preparações e nas disposições necessárias para chegarmos à sagrada mesa desse Pão divino, quem irá negar que estamos sendo ingratos e diminuindo o seu valor? Essas disposições são duas: limpeza do corpo e limpeza da alma, que veremos na próxima vez.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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