Sermão do XVII Domingo depois de Pentecostes – A caridade

Por causa do conteúdo da epístola e do evangelho este domingo é chamado: Domingo do Amor de Deus.

Qual é o maior dos mandamentos? Os fariseus no evangelho, queriam ver se o Salvador que se proclamava Deus, não modificava a lei de Moisés, acrescentando algo à mais ao mandamento do amor de Deus… isto com o intuito de condená-lo.  Nosso Senhor interrogado cita o texto mesmo do decálogo manifestando o maior de todos os mandamentos: Amarás ao Senhor de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito. Mas nosso Senhor que conhece os corações, continua a citação da lei de Moisés, lembrando que há um segundo mandamento semelhante a este primeiro, mandamento que condena a má vida dos fariseus, e suas maldades repetidas contra o alheio: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Assim eles são convencidos de não amar nem o próximo e nem a Deus Mesmo, pois que o primeiro mandamento não pode ser observado sem o segundo que brota deste primeiro e o completa.

Nosso Senhor põe no amor de Deus e do próximo o mandamento supremo da lei divina.

Nosso Senhor foi interrogado sobre qual é o maior mandamento: ele responde que o maior mandamento é a caridade, caridade que possui dois termos: caridade para com Deus e caridade para com um próximo. Não há dois mandamentos, mas um só mandamento, a prova é que nosso senhor diz que o segundo é semelhante ao primeiro. Não há então duas caridades, não há dois amores, há um único amor pelo qual nós amamos a Deus e ao mesmo tempo o nosso próximo. Pois que nós devemos amar nosso próximo de uma caridade sobrenatural, pelo amor de Deus, amá-lo enquanto ele é algo que vem de Deus e que pertence à Deus.

Há dois excessos à evitar no mundo de hoje: o de querer amar o próximo sem amar a Deus, que é hoje a filantropia maçônica. O segundo excesso o de querer amar a Deus sem amar o próximo, o farisaísmo moderno.

A dita filantropia criada pelas sociedades maçônicas para destruir a caridade cristã, não se eleva, à ordem desta caridade que é de ordem sobrenatural.  Esta filantropia é uma vã tentativa de caridade, faz abstração de Deus, que é a finalidade da Caridade fraterna. Retirando Deus da finalidade do amor ao próximo, retirando as recompensas celestes, retirando a vida eterna, não há mais o por que de amar o próximo até o sacrifício da própria vida à exemplo de Nosso Salvador. Não se há mais de se preocupar com os bens espirituais do próximo, caridade se reduzirá a um mero sustento material, desprezando a finalidade última do homem que é de conhecer, amar e servir a Deus, podendo gozar um dia de sua glória na eternidade.

O segundo excesso, o dos fariseus, é condenado por Nosso Senhor nos evangelhos. Não há amor à Deus sem o amor ao próximo. São João, o apóstolo da Caridade fraterna, diz nos ensina em muitos lugares de sua epístola. Par citá-lo: Caríssimos amemos, uns aos outros, porque a caridade vem de Deus. Todo aquele que tem ódio a seu irmão é um homicida. Se amarmos uns aos outros Deus permanece em nós e sua caridade em nós é perfeita. Se alguém pois disser que ama a Deus e aborrece o seu irmão, ele é um mentiroso. Se ele não ama seu irmão que ele vê, como poderá amar a Deus que ele não vê? E nosso Senhor considera como feito a Si mesmo todo o serviço prestado ao menor dos seus filhos: Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos pequeninos foi a mim que o fizestes.

Não há afirmações mais explícitas, não nos enganemos, amar o próximo é amar a Deus, e não é possível amar a Deus sem amar o próximo.

O princípio que nos deve guiar as nossas relações sociais é aquele de ver a Deus ou a Jesus no próximo: o primeiro passo é se esforçar para evitar todos os defeitos contrários à Caridade fraterna e pôr em prática os atos de amor ao próximo que nos são pedidos por Deus. O segundo passo é imitar as disposições caridosas do coração de Jesus.

Devemos evitar tudo o que entristece nosso bom Jesus no nosso próximo, primeiramente no seio familiar, depois no nosso círculo de amigos. Evitar todos os juízos temerários, maledicências, calúnias, contrárias à justiça, evitar consentir nas antipatias naturais, evitar palavras ásperas, de desprezo, de zombaria, picuinhas, que podem facilmente gerar inimizades e que causam nos nossos irmãos muitas feridas. É preciso evitar as rixas e disputas ásperas que visam humilhar nosso próximo. É necessário evitar fofocas e maledicências que servem somente para semear rivalidades inúteis no seio da família cristã.

Devemos amar nosso próximo de um amor verdadeiramente sobrenatural, desejando primeiramente para ele o maior de todos os bens, que é a vida eterna,

Assim temos de lhes servir de bom exemplo, e evitar custe o que custar as situações que possa leva-los a pecar, como danças, modas, programas de televisão, más companhias…

Devemos rezar por todos quanto amamos naturalmente, e por todos aqueles pelos quais não temos afeições, pelo só motivo que Deus os ama e quer sua salvação, devemos rezar por todos aqueles que são nossos inimigos, que nos perseguem, que não estão no caminho da verdade, e amá-los de uma caridade toda sobrenatural, pois Deus deseja também sua salvação, e nós devemos por amor a Deus desejar que sejam nossos amigos ao menos no céu.

A Caridade nos pede para perdoar as injúrias e reconciliar-nos com nossos inimigos, com aqueles que nos fizeram mal ou a quem nós fizemos algum mal. A caridade nos pede para sofrer com paciência o próximo apesar de seus defeitos.

Voltemos também ao Sagrado coração de Jesus que é para nós o modelo mais perfeito de amor A Deus e ao próximo, arca ardente do amor divino.

A exemplo do Salvador a caridade deve ser preveniente, Deus nos amou primeiro, quando éramos ainda seus inimigos. Assim sejamos nós os primeiros a ir ao encontro dos nossos irmãos para lhes consolar, para aliviar suas misérias, para lhes corrigir quando preciso, para lhes conduzir pouco à pouco à prática das virtudes.

A Caridade deve ser compassiva como foi a De Nosso Senhor, nos alegremos com os que se alegram e soframos com os que sofrem. Ajudando os miseráveis, socorrendo os infelizes na medida de nossas posses, com bens materiais e com os conselhos espirituais que um dia produzirão bons frutos.

Enfim, a Caridade de Cristo foi generosa: por nosso amor ele se dignou passar trabalhos, padecer e morrer. Devemos estar dispostos a prestar serviços aos nossos próximos à custa dos mais penosos sacrifícios a começar no seio familiar, com a oração, bons exemplos, correção e obediência. Caridade tão generosa que há de se estender de forma apostólica até aos nossos inimigos, lhes desejando o bem e rezando por eles, segundo nos pede nosso Senhor: Amai a vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos caluniam.

Peçamos a Deus pela confecção no dia de hoje do sacramento da Eucaristia, sacramento da Caridade, um maior amor de Deus, puro e sem divisões excluindo de nós tudo quando se opõe a seu amor. Que a imortal Caridade de Cristo nos ajude e informe todas as nossas ações afim que levemos uma vida digna da vocação a que fomos chamados, com toda humildade, paciência, suportando uns aos outros por caridade, sempre solícitos em conservar entre nós a unidade de espírito pelos vínculos da paz e da verdade.

 

 

Os comentários estão fechados.

Navigate