Sermão do XIV Domingo depois de PentecostesA compreensão na educação dos filhos

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Pretendíamos falar da educação que os pais devem dar aos filhos em relação à recepção dos sacramentos. Porém, nos pareceu melhor abordar hoje um fator extremamente importante na educação deles: a compreensão.

Não somente é uma necessidade, mas é uma obrigação, que os pais conheçam as situações “estranhas” pelas quais os seus filhos passarão. E aqui entra  o papel da compreensão na educação dos filhos.

Com a aproximação da puberdade, será necessário que os pais tratem os filhos de um modo diferente de como as crianças devem ser tratadas. A puberdade é este período da vida onde alguém se torna apto à gerar outra pessoa. Santo Tomás, ao explicar sobre as capacidades dos seres vivos, deixa muito claro que um ser vivo chega a sua perfeição quando ele se torna capaz de produzir outro ser igual a si mesmo. A puberdade, a adolescência, é essa etapa da vida humana pela qual passamos para que possamos ser seres perfeitos. Mas à essa perfeição física deve ser dada pelos educadores, os pais em primeiro lugar, outras perfeições: psicológica, moral, espiritual.

Em que idade nós devemos situar essa transformação? Geralmente, a puberdade chega mais cedo nas moças do que nos rapazes; mas é impossível indicar uma idade precisa porque ela varia para cada pessoa; uns são mais precoces, outros são mais tardios. Entretanto, se não é possível indicar uma idade precisa, os pais atentos discernirão facilmente os sinais anunciadores dessa mudança. Pois é bem evidente que, no período em que a criança se transforma num adulto, o seu sangue trabalhe e do mesmo modo que o suco da uva não pode se transformar em vinho sem o borbulhar da fermentação, o menino não pode se transformar em homem, e a menina não pode se transformar em mulher sem o aborbulhamento do sangue trabalhando e esse trabalho do sangue, esse aborbulhamento, essa agitação, não pode deixar de se manifestar.

Um dos primeiros sinais é a falta de docilidade. Adeus obediência da infância! Eles se dão conta, de modo confuso, do adulto que está se formando neles. O adulto, ao contrário da criança, toma decisões próprias a respeito das grandes linhas que sua vida seguirá. Os adolescentes estão, pouco a pouco, se encaminhando para chegar até aí, e para afirmar a personalidade deles eles se tornam debochadores, malvados, briguentos com seus colegas, independentes, indisciplinados, rebeldes, revoltosos, insolentes mesmo com seus pais. Mas, como o adulto não se formou ainda, eles são necessariamente instáveis nos seus próprios sentimentos e passam da alegria, da felicidade, da exuberância à tristeza, à decepção, à consternação. Em um determinado momento estão afetuosos, gentis, educados, e depois se tornam, sem razão, frios, duros, maldosos e até certo ponto cruéis.

Momentos de energia, de coragem, de entusiasmo são sucedidos sem razão por tempos de grande tristeza, de desencorajamento, de ceticismo. E os mais faladores, habitualmente líderes, passam por verdadeiras crises de mutismo e de melancolia. E, lógico, quando eles se queixam é para dizer que eles são incompreendidos.    Incompreendido por quem? Pelos próprios interessados, os adolescentes, e também, sejamos sinceros, por muitos pais. Ainda mais que nos muitos primeiros vôos que darão, experimentarão o terror e a desorientação as primeiras caídas.

Essas considerações já ajudam os pais a ver melhor como deverão agir com os filhos após os seus onze ou doze anos. Deverão atuar de outra maneira. Como voltamos a insistir, a finalidade da educação dos filhos é a de fazê-los pessoas capazes de dar a Deus o culto que lhe é devido, e eles o farão de modo pleno e máximo na vida adulta. É um defeito de visão que os pais pensem na infância como a melhor época da vida dos filhos. A infância é uma época imperfeita da vida. Mas vejamos melhor o que vem a ser um pai que é concretamente compreensivo, de modo razoável e católico.

  1. É próprio da compreensão não desprezar as ideias de alguém quando têm valor, mas ser exigente quando têm relação com o pecado. Como pode haver situações em que um filho faça uma consideração mais razoável do que seus pais, os pais devem ser capazes de compreender algum momento em que isso ocorra. É conhecido de todos que São Bento, em sua Regra, pede aos abades que ouçam também os mais novos, porque pode acontecer que tenham alguma opinião melhor do que os mais velhos. Uma das causas é que os pais, como todo ser humano, têm uma inteligência criada, limitada, incapaz de ver tudo sempre de modo absolutamente perfeito e preciso. Outras inteligências verão outras coisas. É verdade que, como regra geral, os pais vêem melhor do que os filhos, e têm mais prudência. Porém, haverá casos pontualmente excepcionais. Outra causa é que os pais, como todo ser humano, têm defeitos que os filhos talvez não tenham. Consequentemente, os filhos poderão ver melhor uma questão do que um pai, prejudicado pelo defeito que possa ter.
  2. É próprio da compreensão ser paciente. Saber fechar os olhos para certas coisas, com a condição de que seja em vistas de um bem maior. Não pode ser um movimento de derrotismo e desânimo dos pais, que se vêem dobrados pela tenacidade caprichosa de um filho.
  3. Como consequência de que o adolescente se encaminha até a vida adulta, uma maior amplitude de ação deve ser dada para eles. Isso é evidente. Os desejos legítimos devem ser considerados, mas com a condição de que se tenha a segurança de agirão para o bem, de que a família e os outros não serão prejudicados, que Deus não será ofendido, ao menos gravemente. São as ocasiões perfeitas para ensinar aos filhos o que é a confiança, porque a vida humana em sociedade é baseada incontornavelmente na confiança. Os filhos precisam se dar conta de que as pessoas podem confiar neles. Do contrário, a sociedade será prejudicada pela desonestidade deles, que eles foram voluntariamente adquirindo ao abusar da confiança que os pais lhes davam.
  4. Ao usar de autoridade, evitem as palavras amargas, atitudes ofensivas, debates duros, tons de voz muito imperiosos. Não se comanda a um filho adolescente, que já tem maior capacidade de reflexão e começa a ser mais perfeitamente responsável pelos seus atos, do mesmo modo que se fala com uma criança. Sempre ver que uma ordem deve se dirigir a fazer dos filhos pessoas capazes de dar para deus o culto que lhe é devido. Uma ordem não deve ser um modo de esmagar uma vontade sob outra. As ordens do superior, os pais aqui no caso, devem existir para que os inferiores (os filhos) cheguem até onde eles jamais chegariam sozinhos.

Há, portanto, um binômio essencial na educação dos adolescentes: confiança e compreensão. Desta forma, os jovens vão crescendo e tornando-se melhores, porque se vêem atraídos pela simpatia. Ninguém nega que seja uma tarefa árdua, mas é uma nova ocasião que Deus dá aos pais para que adquiram virtudes que ainda não têm perfeitamente, ou de modo algum (fortaleza, prudência, mansidão…). Ser pai não é já ter adquirido perfeição. Ninguém nasce pronto e uma vida virtuosa é uma obra para toda a vida. O bem da casa surgirá certamente não só da boa formação dos filhos, mas também das virtudes que os pais terão adquirido ao educá-los.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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