Sermão do XXIV Domingo depois de Pentecostes

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Hoje concluímos os sermões a respeito do Santíssimo Sacramento com algumas instruções sobre como se preparar para recebê-lo.

A Igreja ensina que quando o sacerdote quer servir de instrumento a Deus e que ele cumpre os ritos prescritos pela Igreja, o sacramento é realizado e a graça é produzida. Por quê? Porque o agente principal é Cristo e não o sacerdote. Nós nunca agradeceremos tanto a Deus por essa disposição, que nos deixa com uma grande tranquilidade em relação à validade e, consequentemente, à eficácia dos seus sacramentos. A validade e, consequentemente, o efeito produzido, a graça divina, não dependem da dignidade dos ministros, mas da santidade infinita de Cristo que age por seus ministros.

Entretanto, o aproveitamento da graça recebida depende muito da disposição de quem recebe. Se dois vasos receberem óleo, mas um deles estiver cheio de terra, não reterá dentro de si o óleo que recebe. Para conservá-lo, precisa se livrar da terra de que está cheio. A má disposição de uma pessoa pode ir tão longe que as graças recebidas não só não são aproveitadas, como a pessoa piora ainda mais. A luz do sol que liquefaz a neve é a mesma luz que endurece a lama. A mesma causa produz efeitos bem diferentes dependendo da disposição daquilo sobre o qual age. E é por isso que a Sagrada Escritura diz que Deus endureceu o coração do faraó, porque a graça lhe era dada, para reconhecer a verdadeira religião dos judeus e a missão divina de Moisés, mas sua má vontade só endurecia mais e mais ao receber a graça. Deus dá a graça para todos, porque sem ela é impossível se salvar, e Ele quer que todos se salvem, mas se estamos indispostos, ela faz mais estragos do que bens, por culpa nossa: “O teu auxílio vem de mim; tua perdição vem de ti, Israel!” (Oséias, 13, 9).

Para que isso não aconteça, é necessário se preparar para receber a Sagrada Comunhão. A ausência de pecado grave na alma é a condição mais fundamental. São Paulo é muito claro: quem recebe a Sagrada Comunhão em estado de pecado grave recebe o Corpo físico de Cristo com total desprezo por Ele, como se seu Corpo não tivesse maior valor do que uma comida comum. Ora, Jesus Cristo é o Juiz que nos julgará quando morrermos. Colocá-lo dentro de nós estando em estado de inimizade com Ele é introduzi-lo para ver de perto nossos crimes e forçá-lo a tomar providências. São Paulo nos ensina que frequentemente Deus pune as pessoas que comungam sacrilegamente com doenças mortais e uma morte repentina, e que essas punições não são nada em comparação com o inferno que receberão se não verem essas punições físicas como um aviso a tempo de ainda pararem de ofender a Deus duplamente, pelo pecado pessoal e pela comunhão sacrílega. A primeira preparação fundamental para comungar é examinar nossa consciência e vermos se temos pecado grave não arrependido e confessado.

Não há nada que endureça mais o coração de uma pessoa do que receber os sacramentos, sobretudo a confissão e a comunhão, em um estado de alma que torne inútil o sacramento. É o meio mais seguro de acabar impenitente. Porque, se acostumando a receber os sacramentos sem efeito, a pessoa não deixa brecha para se levantar mais. Deus retira as graças da pessoa que abusa dos sacramentos, sobretudo quando elas são abundantes, que é o caso da confissão e da comunhão. Quanto mais dadas em abundância, e elas o são na Eucaristia, mais a pessoa se torna odiosa a Deus, e se aplicam a ela as palavras de Nosso Senhor: “A última condição deste homem é pior que a anterior” (São Mateus XII, 45).

A pessoa que não pode comungar porque é inimiga de Deus precisa ver a gravidade do estado em que se encontra. Se ela morre, vai para o inferno. Se, ao caminhar pela calçada, vem um carro que a pega sem aviso, ela passa desta vida para o tribunal de Deus, que será seu inimigo, e desse tribunal para o inferno sem retorno. O mesmo se está no carro, ou sai do prédio no qual trabalha, e recebe um tiro num assalto. Deus não tem qualquer obrigação de prevenir as pessoas de que elas morrerão. Não poder comungar é uma denúncia que Cristo faz: “Não terás parte comigo até que te arrependas seriamente e faças penitência!”

Algum tempo antes de comungar devemos nos preparar com atos frequentes de fé, de esperança, de caridade, e humildade. Sobretudo durante a Santa Missa, mas mesmo vários dias antes de comungar, ao longo da semana. Esses atos devem nos ser familiares, a ponto de sair de nosso coração como se fossem naturais, sem que precisemos nos forçar a fazê-los, e devem ser sinceros, não simplesmente mecânicos. Que acreditemos verdadeiramente nas verdades de Deus, que coloquemos toda nossa confiança nas suas promessas, que o amemos com todo nosso coração e desejemos seriamente sua glória, isto é, que as pessoas o conheçam e o sirvam. No dia da Comunhão deve-se manter, o mais possível, o recolhimento, ocupar-se em obras de piedade, bem como cumprir com grande esmero os deveres de estado (Catecismo de São Pio X, n. 638).

Fazendo assim, podemos nos aproximar da comunhão por mais que nos sintamos indignos de recebê-lo. Pois são os pecadores humildes e arrependidos que Jesus Cristo veio buscar. Quem acha que não precisa mudar e que, na verdade, quer continuar doente, não espere que Deus o ajudará. Aos seus olhos não precisam ser curados. Deus os deixará a si mesmos. Pois, então, que tenham coragem de suportar sozinhos e sem Deus a náusea que terão de suas próprias feridas desagradáveis e do próprio mau cheiro.

Devemos ir até Ele com confiança, porque Ele é o único apoio em nossa fraqueza. Se nos arrependemos de nossas faltas, é nele que devemos procurar as forças necessárias para perseverar nos nossos bons propósitos, porque sem Ele, nada podemos fazer. Perderíamos nosso tempo.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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