Sermão do 2o Domingo depois da Páscoa (2018)

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Neste Domingo do Bom Pastor, dentro do Tempo Pascal, aproveitemos para meditar como todos nós, pastores e ovelhas, estamos submissos a um só e mesmo Deus.

Que ideia do verdadeiro Deus passamos aos outros e a nós mesmos através do nosso descaso com a Sua vontade? Muito se pede para Deus tolerar nossos caprichos, pois Ele seria misericordioso, mas o que se faz é resistir o pedido de Deus para uma conversão mais completa do nosso ser.

Alguns frequentam a Missa Tridentina, em toda sua riqueza de conteúdo e forma, mas depois vivem como se Deus não existisse – etsi Deus non daretur. Ora, no que nos distinguimos da crítica que o Papa Bento XVI, na época cardeal, faz à Missa Nova (Lembranças da Minha Vida), dizendo ser uma liturgia que por vezes é concebida de uma maneira como se Deus não existisse? Não devemos ignorar que Deus existe, nem deformar a ideia justa que devemos ter Dele.

Um modo de reconhecer a presença de Deus em nossas vidas consiste na nossa humilhação, nosso rebaixamento diante das disposições de Deus. Como dizia o salmista: fui diante de vós como um jumento; estarei sempre convosco, Senhor (Sal 72, 22-23). Ou ainda quando ele se questiona: acaso minha alma não estará sujeita a Deus? (Sal 61, 2).

Os Salmos são um excelente guia para podermos pensar corretamente sobre Deus e agir em conformidade com sua majestade. Lá aprendemos que as demais criaturas, as não racionais, estão ao nosso serviço para que, por meio de nós, possam ser usadas para louvor e glória de Deus. Nos salmos aprendemos também sobre o grande apanágio dos que seguem a Missa Tridentina: Quão amável é a tua morada, Senhor dos exércitos! A minha alma suspira, desfalece, desejando os átrios do Senhor; Bem-aventurados, Senhor, os que moram na vossa casa: eles vos louvam sem cessar; (Sal 83, 2-3; 5).

Conforme rezamos no Pai Nosso: seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu, isso se refere de modo excelente na Santa Missa, cujo culto na terra se assemelha ao culto dado a Deus no Céu, sobretudo pelo resto da eternidade. Servir a Deus é nosso objetivo de vida como o é dos santos no Céu. No Céu, os santos não visitam os doentes, nem os prisioneiros, não jejuam, não dão esmolas, não vestem os nus, mas louvam a Deus sem cessar, segundo o cântico do Aleluia, nos dizeres de São Francisco de Sales. É claro que as obras de misericórdia não são sem valor, mas têm um valor secundário em relação ao amor de Deus, isto é, amamos o próximo porque antes amamos a Deus.

Quem realmente ama a Deus não vê na Missa um peso, uma obrigação, mas algo extremamente leve e agradável, mesmo ao custo de grandes sacrifícios, como no caso de se deslocar grandes distâncias. E uma característica do amor é desejar o bem a alguém. Mas como desejar a Deus um bem que não seja inferior aos que Ele já possui? Se Ele já possui todos os bens, como desejar que Ele venha a ter algum outro bem? Não, não é possível desejar um bem a Deus pois Ele já tem tudo. Todavia, se nosso amor a Deus não é um amor de benevolência, isto é, querer um bem a alguém, ele deve ser um amor de complacência, isto é, se agradar junto com o bem que alguém possui. Devemos estar felizes com Deus pelo que Ele é, e sendo Deus imutável, não devemos ter razão para não sermos felizes, pois Ele deve ser o protagonista e foco das atenções na nossas vidas e não nossa miserável pessoa.

A Missa é local mais adequado para deixarmos isso claro, Deus é o centro das atenções, não “o homem”, como se prega erroneamente em muitos lugares, e é durante a renovação do sacrifício do Calvário que podemos entregar a Deus a única coisa que realmente tem valor diante dos seus olhos que é o Seu próprio Filho. É o momento adequado, o tempo propício, para dar um culto de latria ao verdadeiro Deus. Quanto mais intensamente adoramos a Deus na Santa Missa, mais graças recebemos em troca, por isso, se somos pobres de graças, é porque não o adoramos como convém, nem pedimos a Ele a graça de nos ensinar a adorá-Lo condignamente.

Nossa vida, após o batismo, deve efetivamente demonstrar que Deus existe, e que age em nós. Um batizado é de fato alguém diferente de um não batizado. A graça de Deus não é inerte. No batismo nos consagramos ao serviço de Deus e renovamos esse propósito na Vigília Pascal para que esse desejo não seja fruto de palavras ou ritos meramente mecânicos, mas que brotem de uma inteligência e vontade clara e firmemente decididas em assim agir na própria vida. Pelo batismo legítimo, nos tornamos católicos. E por ser algo que muda a vida, a Igreja pede uma preparação antes de receber tamanha graça, por isso, o ser católico, assim como o ser padre ou religioso, não deve ser fruto de um entusiasmo passageiro, mas sim de uma decisão firme que deve perseverar ao longo de todos os anos de sua vida. De mesmo modo, não basta simplesmente vir na Missa Tridentina movido apenas por um entusiasmo em relação à sua beleza, ordem e sabedoria expressas no rito, mas devemos ir atrás da doutrina que justifica cada proceder, cada palavra litúrgica, de modo a estar cada vez mais convencido de que é através da Missa Tridentina e da doutrina que lhe é indissociável que se ajudará a Igreja na crise interna pela qual ela passa, bem como a nós mesmos, em nossas crises pessoais. Donde o reiterado convite para assistirem às diversas aulas de formação que existem, bem como pedirem conselhos de boas leituras a se fazer, como o livro Breve Exame Crítico escrito pelos cardeais Ottaviani e Bacci, para ter uma pequena ideia dos pressupostos que motivam os padres do Instituto Bom Pastor.

Enfim, não esqueçamos que somos servos indignos e inúteis de Deus, mas se apesar disso queremos agora louvá-lo, pelo bem que Deus é em si mesmo, repitamos com o salmista: Bendizei agora ao Senhor, vós, todos servos do Senhor, vós que assistis na casa do Senhor; Levantai as vossas mãos para o santuário, e bendizei ao Senhor. (Sal 133) Quão grande é, Senhor, a vossa bondade, com todas as minhas forças direi: Senhor, quem é semelhante a vós? (Sal 30,20; 34,10)

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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