Sermão do 4o Dom. da Quaresma

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Neste domingo da alegria, laetare, vemos como Jesus deu a comer a milhares de pessoas apenas tendo em mãos poucos pães e peixes. Elas estavam alegres estando com Jesus, embora estivessem também com fome.

Podemos ver como age a Providência Divina de modo particularmente claro, pois Nosso Senhor, sendo Deus, mostra como Deus pensa ao ver a situação das pessoas que O buscam, cujas misérias humanas, como a fome, impedem de fazê-lo de modo mais adequado.

Ao longo da missão de Jesus, muitos O viram curando os doentes e pregando brilhantemente o Reino de Deus, todavia, alguns não o seguiram, outros ainda ficaram só na parte baixa e agradável da montanha, sem buscar escalá-la para se aproximar de Jesus. Esses preferem ficar nas planícies das consolações materiais e espirituais ao invés de buscarem Jesus no topo da montanha da perfeição através de desolações e desertos espirituais.

Há, claro, um certo medo em seguir Jesus no meio das dificuldades, por isso devemos parar e meditar na Divina Providência, confiando nela, pois sem isso nos faltará a coragem em seguí-Lo como Ele mesmo nos pede.

As pessoas que seguiram Jesus estavam passando fome e Jesus toma para Si a resolução do problema. Ele não pede para as pessoas irem roubar comida, nem pede para as famílias fazerem controle de natalidade. Ele provê a comida a cada um e em abundância. Toda família que teme ter filhos por medo de faltar com o quê sustentar seus filhos demonstra desconhecer o Evangelho de hoje. No fundo o que essas famílias não querem é perder os luxos do dia-a-dia, pois comida é o que não falta no mundo. Claro, não esperem comer caviar todo dia numa família numerosa, mas arroz é o tipo de comida que mais facilmente se desperdiça, visto a abundância na sua produção. Curiosamente, as famílias mais ricas são as que mais acham desculpas para não terem filhos. Se Jesus não é contra ter filhos, quem sugere às mulheres casadas que devem ter medo ao saberem que estão grávidas de mais um filho? A resposta é bastante simples: é o demônio. E todo aquele que desaconselha uma mulher casada de ter filhos trabalha para o demônio. Coloca os bens terrestres acima do bem espiritual que é a alma da criança que está por vir.

A Providência Divina garante que quem segue a Deus, seus mandamentos e os de Sua Igreja, com fidelidade, terá o necessário. Vejam bem, o necessário, não o supérfluo, logo não reclamem contra a Providência Divina quando não conseguirem aquele salário elevado ou obter alguma casa bem barata.

Aliás, o que é realmente necessário e útil para nós? É a vida eterna. É melhor obter a vida eterna com uma consciência limpa do que ter todos os bens do mundo e passar a eternidade no inferno. Santa Terezinha viveu só 23 anos e cumpriu sua missão divina na terra. Deus não a criou para ser rica, nem para viver 90 anos com saúde na terra. A chave do significado da vida é fazer a vontade de Deus relativa à nossa pessoa. Se temos Deus, temos tudo. Ainda assim, Deus conhece as nossas fraquezas e diz que, se buscarmos o Reino de Deus em primeiro lugar nos será dado depois o acréscimo, isto é, as coisas materiais, como Ele fez no Evangelho de hoje, dando pão e peixe até todos se saciarem. Deus já tinha agido de modo semelhante com o povo judeu enquanto caminhava no deserto durante 40 anos, fazendo até mesmo chover comida do céu. Quem seguiu Moisés, o enviado de Deus, sempre tinha com o que sobreviver. Quem contrariou Moisés, ao contrário, foi morto por doenças e maldições.

Na vida dos santos vemos exemplos semelhantes quando eles são alimentados de modo especial por algum animal que lhes traz comida ou sobrevivem comendo bem pouco. Aliás, o que um pai de família precisa garantir essencialmente é que os filhos tenham o que comer para viver, o que não é o mesmo que fazer com que seus filhos fiquem obesos, o que já é um excesso que sai bem mais caro.

O foco principal hoje é mostrar como devemos ter confiança em Deus, sobretudo entre os leigos, que por vezes desconfiam dos conselhos que Deus dá por meio de Sua Igreja. Algo semelhante pode ser dito também no modo como Deus guia aqueles que se entregam ao seu serviço de modo especial, como é o caso dos clérigos e religiosos.

Aliás, quando falo de religiosos, falo no sentido como a Igreja Católica entende o termo através do seu direito canônico (cân. 207), não no sentido fantasioso no qual qualquer batizado se auto-intitularia de modo abusivo como sendo “religioso”. Para ser verdadeiramente religioso não basta apenas ter uma vontade firme em seguir a Deus, é preciso que seja reconhecido publicamente como tal pela hierarquia da Igreja, isto é, por um bispo. Um religioso é quem segue um estatuto e faz votos públicos (cân. 607) de castidade, pobreza e obediência diante de um bispo. Enquanto esses quesitos não são verificados (cf. LG 43-45), tal pessoa não deve ser chamada de religiosa apenas por que ela quer ou porque ela usa um hábito religioso, o que só ocorreria no caso de uma seita onde se acredita que tudo o que se faz é por ordem direta de Deus e não seria preciso passar pela confirmação visível de Sua Igreja.

O clérigo, por sua vez, é quem recebeu o sacramento da Ordem, o que um fiel tem o direito de pedir a prova caso haja uma dúvida legítima do seu sacerdócio. Se um padre esconde seu certificado de ordenação, como me falaram de um suposto padre em Santos, ou é um falsário, ou é alguém que age de modo gravemente ilícito, logo não devemos ser ingênuos seguindo qualquer um que se intitule padre ou ande de batina por aí.

Tanto leigos, como clérigos e legítimos religiosos, são chamados à santidade de vida segundo o seu estado, confiando na Providência Divina que proporciona a todos as graças para tal. Quem dá o fim, dá os meios. Se Deus nos pede a santidade, Ele nos dá os meios para lá chegar. Isso não quer dizer que todos devem ter dons extraordinários da graça para serem santos. Não faz parte do agir comum da graça em nós o surgimento de fenômenos místicos extraordinários (cf. Royo Marin, Teo. Perf. Cr., n.549), Deus é livre em conceder ou não tal graça particular. Mesmo a contemplação mística, que deve ser desejada e buscada por todos, não deve ser vista como um fim absoluto, mas como um meio, uma ajuda, logo se alguém não a obtém, mas vive santamente, não precisa ficar aflito (cfr. Tanquerey, Comp. Asc. M., n.1553s.).

Se confiarmos na Providência Divina, fazendo a Sua vontade em primeiro lugar, teremos a paz da alma, sem se afligir com os obstáculos terrestres, podendo assim certamente escalar a montanha da santidade e ter a verdadeira alegria de contemplar Jesus.

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Os comentários estão fechados.

Navigate