Sermão do VII Domingo depois de PentecostesConselhos gerais para a perfeição cristã

Assim como apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia, e à maldade para maldade, assim apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para santificação.

(Romanos 6, 19)

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Hoje gostaria de falar mais algumas coisas que têm como finalidade ajudar os mais novos, por um caminho onde muita coisa é novidade. Depois iniciaremos alguns sermões que darão princípios sobre a educação dos filhos.

  1. Primeiramente, sempre procuramos tratar bem todos os fiéis que vem aqui, não para fazer uma recepção sentimental ou usar de estratégias humanas de abordagem empresarial para futuros clientes. O que esperamos fazer é tratar a todos com caridade, fazer o bem a todos para salvar as almas. Por isso, não é aqui que vocês verão os padres se desdobrarem em elogios e gentilezas para com vocês. Uma das razões é que um ambiente cheio de gentilezas nos faz mal. Nenhum ambiente de adulação constante é saudável para ninguém. Um dos motivos é que um ambiente assim vai preparando catástrofes para cada um de nós. O dia em que alguém não for simpático conosco, pelos motivos mais inofensivos, ficaremos abalados, nossa imaginação ficará pululando com perguntas de por que o padre não sorriu para mim, se ele não me tratou bem hoje é porque tem alguma coisa que aconteceu, se ele me olhou de certo modo, se ele me disse isso é com tal intenção, etc., etc., etc… Quantas pessoas são capazes de ter sua vida católica abalada por uma imaginação descontrolada, que queria receber atenção, e acabam se afastando de um lugar por causa de raciocínios construídos sobre nuvens. Uma catástrofe. Nós, padres, não procuramos aproximar as almas por meio da simpatia pessoal, mas pela verdade. Não queremos ser antipáticos, claro. Mas não queremos que os fiéis tenham uma adesão pessoal à nossa pessoa.
  1. Continuando por esse caminho, nunca devemos olhar para nós mesmos ao buscar levar uma vida católica. Devemos ter sempre diante de nós a finalidade da nossa vida: conhecer Deus, fazer tudo por Ele, amá-Lo, e salvar nossa alma. Tudo deve se dobrar a isso, nada pode ser um impedimento para isso. E sabemos que andamos retamente quando cumprimos os mandamentos. Dar atenção às minhas impressões pessoais, ao que sentimos em tal momento, em tal circunstância, e coisas parecidas, é certamente se encaminhar para um desastre. Eu não escolho ir para o seminário, ou casar com tal pessoa, por causa das minhas impressões ou sentimentos, mas por ter visto com minha inteligência, depois de refletir o tempo que for necessário, que é neste ou naquele estado de vida que servirei melhor a Deus e salvarei minha alma. Ponto. O sentimentalismo fez da nossa geração uma geração fracassada, no casamento, no sacerdócio, no emprego, na política, etc., porque o critério usado é como me sinto. Evidentemente, Deus nos criou para sermos felizes, mas isso só será possível na outra vida, e não nesta, se tivermos feito bem nosso trabalho aqui. E isso pede sacrifício e coragem. O catolicismo é incompatível com um espírito covarde e sem ânimo de sacrifício. Jesus Cristo, no Jardim das Oliveiras, não se sentia bem, mas estava fazendo a vontade de Deus, e Ele sabia disso. Não é possível ser católico e, ao mesmo tempo, ter indulgência para consigo mesmo.
  2. Devemos tomar um cuidado imenso para não confundirmos nossa vontade com a vontade de Deus. Há pessoas que, por um erro de julgamento, acreditam que estão fazendo a vontade de Deus. Pode até ser que Deus queira algo, mas a pessoa usa de meios que não estão bem. Não é porque Deus quer algo, e procuramos fazê-lo, que automaticamente temos a garantia de que os meios que usaremos são bons. Santa Joana de Chantal queria se santificar, e evidentemente essa era a vontade de Deus. Mas um dia ela começou a ser dirigia por São Francisco de Sales, e os empregados dela diziam entre si: “Com o diretor antigo, ela rezava uma ou duas vezes por dia, durante um bom tempo cada vez, e atrapalhava toda a rotina da casa. Agora, com esse novo diretor [São Francisco de Sales], ela reza sempre e não atrapalha ninguém“. Devemos sempre observar se ao fazermos algo estamos desandando as coisas à nossa volta. Ao nos examinarmos, devemos corrigir primeiro as faltas que são mais incômodas aos outros; porque alguns pecados podem nos incomodar muito, mas não atrapalham os outros; e outras faltas podem ser causa de grandes incômodos à nossa volta e, infelizmente, não nos incomodar.
  3. Sempre desconfiem de grupos, movimentos e lugares que não insistem no estudo pessoal. Conheço casos de pessoas que achavam que aprenderiam só ficando em oração diante do sacrário, e não estudavam. Um delírio. A via normal de conhecimento que Deus nos deu é o estudo, e ir rezar sem conhecer a doutrina católica é uma ilusão. Frequentemente acaba que as pessoas tomam suas imaginações como visão enviada do Céu, pensam coisas insustentáveis e não têm qualquer critério para saber se o que está passando pela própria cabeça é certo ou não. Nosso Senhor, ao rezar pelos Apóstolos, disse: “Pai, santificai-os na verdade” (S. João 17, 17). Sem estudo as devoções são puro sentimentalismo, e a impressão que se tem é de que os fiéis têm a inteligência de uma criança de 7 anos. Aristóteles, no final da sua Ética, diz que “a multidão não é capaz de fazer distinções. Mas as teorias exatas são sempre as mais úteis, não somente para o conhecimento teórico, mas para a conduta da vida. Quando as teorias exatas se mostram em harmonia com os fatos, as pessoas vêem que são verdadeiras, e esta compreensão obriga as pessoas de bom senso a adequar suas vidas” (Ética, l. X, 1, 1172a28-b8). Por isso é importante estudar. Sem estudo vemos tudo de modo grosseiro e sem nitidez, incapaz de ver nuances, distinções, e na prática isso dá problemas.
  1. Finalmente, é preciso evitar dois erros que consistem em crer que: a) os padres nunca devem dar um direcionamento claro aos fiéis em questões de doutrina e moral, nunca devem alertar os fiéis para que tomem cuidado com esta ou aquela pessoa qu ensina erros ou coisas perigosas para a alma, e assim os fiéis seguem como ovelhas sem pastor, indo atrás de qualquer doutrina política, moral, filosófica, sobretudo com o grande número de pessoas na internet que ensinam as coias mais incompatíveis com a doutrina católica; b) ou os padres devem sempre dizer aos fiéis, do modo mais claro e indubitável, o que se deve fazer. É uma tentação grande que procuremos que os outros resolvam problemas que só nós podemos resolver pessoalmente. Assim não precisamos refletir, já temos uma resposta pronta e não precisamos nos responsabilizar por nossas escolhas pessoais. Ora, a função dos padres não é a de fazer com que os fiéis sejam robos, zumbis, pessoas incapazes de refletir e de tomar a rédea de suas vidas nas próprias mãos. Eles devem dar os princípios e ensinar os fiéis a aplicá-los. Mas muitas coisas só o fiel poderá resolver por si mesmo.

Nós devemos ser bem unidos entre nós, “na verdade” (S. João 17, 17). Formação de panelinhas deve ser evitado seriamente. As qualidades que Deus nos deu devem ser usadas para o bem dos outros, não para um sucesso pessoal e auto-satisfação. Vocês precisarão de padrinhos e madrinhas, de batismo e de crisma, vocês terão que escolher uma esposa e um esposo. Como regra geral, não se deve esperar encontrar uma pessoa católica e que viva da fé católica, no trabalho ou na faculdade, por exemplo. Todos sabemos como o mundo está muito paganizado. É aqui que devemos fazer amizades verdadeiras, vivendo como numa família, porque é isso que é uma paróquia: uma segunda casa.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Os comentários estão fechados.

Navigate