Sermão do IV Domingo do Advento

Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens.

(Filipenses 2, 7)

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Em vista do Natal, gostaria de fazer uma pequena consideração sobre o nascimento de Nosso Senhor.

Santo Tomás ensina que um dos efeitos do amor é algo que chamamos de êxtase. Quando o amor é muito grande e intenso, a pessoa que ama sai de si mesmo. Êxtase, em grego, significa “permanecer fora”. Essa saída de si mesmo é suave e tranquila, com certa permanência e duração.

De que modo acontece esse êxtase? Não se trata aqui de um outro êxtase, o êxtase místico, que é um fenômeno de contemplação sobrenatural caracterizado por uma união íntima da alma com Deus, com suspensão dos sentidos. Estamos falando de um efeito natural do amor. [Mas, claro, o êxtase natural do amor e o êxtase sobrenatural místico recebem o mesmo nome porque são semelhantes e análogos. Porém, um é natural e o outro é sobrenatural]. O amor tem uma característica essencial: ele faz com que a pessoa que ama seja levada até o outro que é amado, como se saísse de si mesmo. Por isso a primeira coisa que o amor faz é mover quem ama em direção do outro que é amado.

Agora, como é impossível amar algo sem antes ter ao menos algum conhecimento prévio dele, a condição para a existência do amor é o conhecimento, e quem ama também é levado a meditar e a pensar profundamente naquele que ele ama. Isso produz um êxtase na inteligência: a pessoa sai do conhecimento próprio, pensa constantemente em quem é amado, não pensa mais em si mesmo, porque está absorvido constantemente em pensar no outro que ama.

Um êxtase perfeito ocorre quando quem ama sai de si e não volta mais, mas permanece no amado.

O êxtase imperfeito ocorre quando quem ama sai de si, mas volta para si novamente; porque ama o outro não por consideração de quem o outro é, mas por interesse próprio.

Pois bem, quem não vê que Nosso Senhor, ao se encarnar, como que saiu de si mesmo, uniu-se à natureza humana que Ele ama tão intensamente, numa união perfeita que nunca mais deixará de existir, e que faz com que a natureza divina de Cristo permaneça unida à natureza humana de Cristo para não mais se separarem? Quem não vê que Nosso Senhor só fez isso porque pensa constantemente em nós, como se não pensasse mais em si mesmo, porque está absorvido constantemente em pensar em nós, que Ele ama? “Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Filipenses 2, 7).

E como o amor é como o fogo, que se move de baixo para cima, o Menino Jesus o fez em consideração: 1. do amor que tem para com todos os homens, e deseja intensamente a salvação de todos; 2. mais ainda, pelo amor que tem por Nossa Senhora, com quem Ele tem um só coração, porque o amor troca os corações dos que se amam, e Nosso Senhor e Nossa Senhora são os melhores exemplos de amor mútuo que existe, porque cada um toma o coração do outro e lhe dá o seu; 3. e por amor de seu Pai celeste, não somente o amor divino que o Verbo tem por Deus Pai, mas também do amor humano que há na alma humana de Cristo por Deus Pai.

Foi o amor de Cristo que venceu e prendeu o demônio no inferno: “Por Cristo, e com Cristo, e em Cristo, vos é dada, Eterno Pai, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda glória“. E com razão, porque como o reino de Lúcifer consiste em fazer com que os homens não amem a Deus e o ofendam ao invés de Lhe dar glória, ao nascer um homem que tem o seu Sagrado Coração como uma fornalha ardente de amor por Deus e que nos associa a ele para dar glória a Deus, esse amor e glória são a destruição do reino do demônio.

É isso que o Menino Jesus está fazendo no presépio: desejando a salvação dos homens, a união de corações com Nossa Senhora, a glória de Deus. Como numa fornalhinha tão pequena cabe tanto fogo, que vai tão alto! Toda preocupação dessa criança divina é amar. E como retribuiremos a esse menino-Deus tanto esquecimento de si mesmo e tanto amor? Isso nós consideraremos mais de perto no próximo domingo, ao nos aproximarmos do Menino Jesus no dia de seu nascimento, na festa de Natal.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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