Sermão do III Domingo depois da PáscoaA eficácia do bom exemplo

A vontade de Deus é a de que, fazendo o bem, façais calar a ignorância dos homens imprudentes.

(1 S. Pedro 2, 15)

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Hoje a epístola abre uma brecha para considerarmos um pouco o valor e a eficácia do bom exemplo, e entender porque o bom exemplo que damos tem grande peso diante dos outros, e os ajuda muito. No I Domingo depois da Páscoa elogiei o bom exemplo que vocês, mais novos, têm dado. Vale a pena que vocês entendam a importância de dá-lo.

  1. A vontade só pode querer o bem que conhecemos. Não é possível querer fazer o bem sem saber que ele existe, que bem é esse, etc. A finalidade de ensinar os outros é a de lhes fazer conhecer o bem, para que eles tenham condições de querer fazê-lo depois. Entretanto, uma característica da inteligência é de que ela compreende mais facilmente as coisas que são simples. Quanto mais simples uma verdade, quanto menos relações de dependência ela tem entre as partes, mais fácil de compreender. E o problema de explicar as coisas para os outros é que isso exige uma argumentação, com etapas, com a compreensão de conceitos que a pessoa não conhecia antes, ela precisa refletir e ir crescendo em compreensão. Mas com um bom exemplo visto, não é assim. O bom exemplo dado é um ato só, muito mais simples de ser percebido pela inteligência do que uma longa argumentação. Um bom exemplo, um ato só, dá para a inteligência uma coisa muito mais simples de ser considerada do que uma cadeia de silogismos, e a inteligência consegue compreender com muito mais facilidade a verdade e a bondade que estão naquele ato. É lógico que essa compreensão mais fácil torna o bom exemplo mais eficaz do que palavras.
  2. O exemplo dado é a concretização real, de fato, de algo que num ensinamento só ficaria em palavras. E com isso vemos que, de fato, é algo que dá para ser realmente feito, e não é algo que seria impraticável, um discurso teórico irreal. Ao ver o bom exemplo de alguém, nossa inteligência nos diz: “De fato, é possível fazê-lo”. Por isso, quem não quer se corrigir tem raiva das pessoas que fazem o bem, porque fica muito claro que é possível cumprir de fato os mandamentos, e a boa obra feita repreende quem age mal, sem lhe dar a chance de se defender com desculpas.
  3. Por sermos seres livres, que agem por decisão própria, nos é muito desagradável ouvir lições de moral de outras pessoas, porque nos dá a impressão de que querem que façamos as coisas de acordo com suas vontades, e nos parece que não agimos por nós mesmos. Os bons exemplos dados são modos de mostrar para os outros como fazer o certo, fazendo-os refletir por si mesmos, de um modo que não é incômodo, e deixando-lhes agir de um modo que é mais conforme à natureza humana, sem parecer que queremos obrigá-los à fazer nossa vontade.
  4. As pessoas têm uma inclinação natural a imitar os outros. Por isso, ao ver alguém fazendo o bem, nasce nelas uma inclinação natural de fazê-lo também. Os pagãos tinham percebido isso muito bem, e colocavam os heróis como modelos para a formação dos jovens (é o caso de Ulisses entre os gregos). A Igreja também viu bem isso, e nos dá os santos como modelos a imitar. Os inimigos da Igreja também viram isso, e nos dão os atores e cantores como referência, para vivermos imitando seus maus exemplos.

Não há modo de ensinar que seja mais forte e suave ao mesmo tempo, do que o exemplo: convence sem argumentação, empurra sem violência, coloca as coisas no lugar sem brigas, persuade sem debate, tira todas as dúvidas, corta todas as desculpas sem barulho.

Depois de ver que é possível, de fato, fazer o bem, que argumento a ignorância dos homens imprudentes terá? Dirão que não é possível fazer o bem, vendo-o, com os próprios olhos, ser feito? Terão dificuldade de compreender que é uma boa obra, quando vêem com tanta simplicidade a retidão que ela contém em si mesma, e os bons frutos que produz?

Gostaria que vissem alguns casos que conheço, um dos quais é meu. Até por volta de 21 anos, eu não tinha o hábito de me recolher e rezar. Mas um dia eu vi uma pessoa que estava sozinha, sentada numa mesa, pela manhã, com um livro aberto diante dela, e se via que ela refletia. Imediatamente compreendi que ela estava rezando. Eu dei meia volta, peguei um livro que me pareceu adequado na hora (que tratava de várias questões de vida de piedade para um cristão), abri e comecei a pensar no que estava escrito. Evidentemente, estava longe do esquema de uma meditação. Mas, desde então, nunca mais parei. Também conheço inúmeros casos de pessoas que viram famílias que não evitavam filhos, como manda a Lei de Deus, e que imediatamente, por assim dizer, compreenderam tudo: pararam de evitá-los e passaram a ter filhos. E poderia falar aqui, também, do exemplo que as moças davam no último recolhimento de Carnaval que fizemos. Uma pessoa que ajudava na organização, e que não fazia parte do apostolado do Instituto, veio falar comigo e me dizer o quanto estava bem impressionado com o exemplo das moças, pela roupa que usavam.

Nossos esforços para fazer o bem aos outros não deve ser minado pelo desânimo. Todo o bem que faremos com o bom exemplo, nós só veremos no dia do Juízo final. Não pensemos que dar bom exemplo é perda de tempo. Mas, de acordo com o Pe. Faber, façamos o bem com a intenção correta. Não querendo diretamente edificar o outro, porque nisso estamos correndo muitos riscos de nos enganar. Simplesmente procuremos fazer nossas coisas do modo como agrada a Deus e, assim, inevitavelmente estaremos edificando o próximo.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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