Sermão do III Domingo da QuaresmaNão ter medo de fazer boas obras

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

No Evangelho de hoje, vemos Cristo expulsar um demônio e logo em seguida ser atacado pelos fariseus. Cristo faz uma obra boa e, como recompensa, é atacado. Esse é um exemplo claro para não termos medo de fazer boas obras, mesmo quando elas desagradam alguns. É impossível agradar a todos quando fazemos ou falamos algo, pois o mundo é bipartido entre os filhos da Virgem e os filhos da Serpente, ou entre a Cidade de Deus e a Cidade dos Homens, na imagem consagrada por Santo Agostinho.

Ocorre de querermos ajudar algumas pessoas e essas, ao invés de agradecer, nos atacam de modo violento. As mães entendem muito bem isso. Quando tentam dar um remédio ou vacina a um filho que é criancinha, quantos empurrões e socos não leva em troca! Nem por isso a mãe deve evitar de fazer o bem que seu filho não entende. Um pastor também tem que, às vezes, guiar seu rebanho o empurrando como que à força para evitar que se machuquem nos espinhos ou se deparem com algum perigo, levando às vezes coices e outras feridas. Não é pela resposta negativa das ovelhas que o pastor deve julgar os seus atos, mas pelo que Deus vê.

Um pastor é capaz de ver mais longe que as ovelhas, avisando-as de um perigo futuro, para protegê-las. Algumas ovelhas, as mais dóceis, acatam o pastor e fogem do perigo. Outras, mais “independentes”, por assim dizer, consideram o pastor exagerado, e seguem pelo caminho do perigo até se machucarem de fato. Nesse aviso do perigo futuro, o pastor usa palavras fortes para assustar as ovelhas e desse modo como que as força a mudarem de rota, o que fora do contexto do pastoreio local poderia ser entendido como algo violento ou exagerado. Se, por exemplo, um pastor vê algumas de suas ovelhas frequentando um lugar com quadros de Adolf Hitler e com suásticas em todo lado, embora as ovelhas possam não entender o perigo do local nem tenham visto nenhuma prática abominável ocorrer de fato lá dentro, ainda assim, o pastor deve gritar e alertar as ovelhas para ao menos conseguir preservar algumas delas dos perigos de frequentar tal ambiente filo-nazista. Repito, algumas ovelhas acharão que o pastor é exagerado, pois não viram nenhum judeu ser morto nesses ambientes em que frequentou, por isso já concluem ser um lugar seguro e bom e o pastor simplesmente um exagerado. Nisso vemos muita ingenuidade! O pastor não deve gritar apenas quando o dano já foi feito, mas bem antes para que o dano não ocorra, pois como se diz: é melhor prevenir do que remediar. Fora do contexto do pastoreio de fato as palavras do pastor podem parecer exageradas bem como seus medos futuros, pois no presente momento “nada ocorreu de estranho”… ainda.

No mundo de hoje, é muito fácil ter as suas palavras fora do contexto, sobretudo nas redes sociais, onde é muito fácil achar pessoas que querem julgar tudo e todos sem ter conhecimento adequado do assunto tratado. Criticam, opinam e comentam antes de pensar. Mas o bem das ovelhas vale mais do que as mordidas que um pastor deve estar pronto a receber. O pastor deve pensar: o bem foi feito, o perigo cessou, as ovelhas se acalmaram, sobrando apenas os cabritos que preferem fugir do pastoreio daquele a quem Cristo conferiu graças para tal.

Meditaremos ao longo das leituras da Quaresma que em troca de todos os bens que Cristo fez ao seu povo, Ele será, todavia, eleito como malfeitor e escolhido para ser crucificado do modo mais humilhante possível. Cada um de nós deve imitar Cristo na sua vida, fazendo o bem sem esperar nada em troca, pois os homens são ingratos devido ao pecado original.

Façamos o bem porque agrada a Deus, não porque agrada os homens. Dizer a verdade é uma forma eminente de caridade, mesmo que isso choque ou cause desconforto em alguns. Claro que a verdade tem o modo e o momento certo para aparecer, embora, às vezes, a Providência Divina permita que ela se espalhe além da intenção daquele que a proferiu. Quem a proferiu talvez a quisesse mostrar de outro modo ou momento, mas se, apesar dele, a verdade se tornou clara e espalhada antes da hora desejada, então colhamos seu fruto salutar para mudarmos de vida!

Cristo não queria fazer milagres nas bodas de Canaã, mas Nossa Senhora conseguiu que sua vida pública iniciasse antes do previsto, resultando em bem a todos os presentes no local. Em suma, façamos nossa parte sob o olhar de Deus, mas deixemos Deus agir como Ele achar melhor, não sufocando o Espírito que age onde e como quer.

Não nos abalemos se nossas ações são mal interpretadas pelos outros, pois se a fazemos com o espírito reto, é Deus quem nos julgará, não os homens.

Enfim, que as ovelhas mais rebeldes aprendam das ovelhas mais dóceis a seguir a hierarquia da Igreja, quando ela age correta e prudentemente, pois isso é mais sábio do que seguir as próprias opiniões ou a de leigos que mentem sobre quem eles realmente são. Cuidado para não seguirmos os que se autodenominam “filósofos” ou “anticomunistas”, mas que não são católicos. São Paulo já nos alerta na sua carta aos fiéis de Éfeso para não sermos seduzidos por palavras vãs, nem andarmos como insensatos, mas sim com prudência, prudência essa que se aprende seguindo os conselhos dos mais sábios, sobretudo se eles recebem uma graça especial para esse tipo de função.

Que Nossa Senhora, sede da Sabedoria, nos ilumine para vermos retamente o caminho a seguir.

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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