Sermão do III Dom após Pentecostes 2017O combate contínuo contra o demônio

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Hoje lemos a bela passagem de São Pedro que os religiosos rezam antes de dormir: “Sobrii estote et vigilate”, isto é, sejais sóbrios e vigiais, pois o demônio ronda como um leão buscando quem devorar. Sobriedade aqui entendida não só em relação à bebida alcóolica, mas à temperança em tudo o que usamos. Essa sobriedade é a mãe da vigilância, tanto do ponto de vista material como espiritual, ao passo que a gula é a mãe da sonolência e da desatenção. É através da sobriedade no uso das criaturas que o homem religioso adquirirá a saúde, a sabedoria e a castidade, caso contrário cairá nos excessos que levam à doença, à tolice e à impureza.
E o que distingue profundamente o estado de sobriedade do estado de ebriedade? É a razão. No primeiro, o homem tem o controle dos seus pensamentos, enquanto que no segundo, não. E como a raiz do pecado está no não uso da razão, buscar voluntariamente ficar ébrio equivale a pecar gravemente. Quem vive na sobriedade vive na companhia dos anjos bons. Quem vive na ebriedade, vive na companhia dos demônios. Por isso o combate ao demônio não se dá tanto de modo cinematográfico através de exorcismos ou bênçãos meramente externas, mas se dá principalmente através da sobriedade e vigilância interior. De nada adianta pedir a um sacerdote que se benza objetos e a água para afugentar o demônio, se não buscamos estar em estado de sobriedade e vigilância contra os ataques do demônio. De que adianta pedir na igreja para um padre benzer um objeto, se em casa abandonamos a vigilância e entramos num estado de torpor, de sono intelectual, ao ligarmos a televisão? A resposta é simples, nos enganamos a nós mesmos e o demônio continuará a nos atacar com êxito.
É interessante notar que essa leitura de São Pedro não vale apenas para os que vão dormir, mas também para os que estão acordados, para que fujamos não só dos sonhos ruins que podemos ter ao dormir, como também dos sonhos que podemos ter acordados, quando nossa mente divaga de ideia em ideia sem rumo. Nesse momento, quando nossa consciência apitar, temos que retomar a atenção ao que é importante e rechaçar esses sonhos diurnos.
E o que significa o demônio rondar como o leão? O leão ronda sua vítima buscando ver as fraquezas dela e o momento oportuno para atacar. Assim também o demônio nos analisa, vê nossos defeitos, e ataca de modo sutil, fazendo-nos crer que tais más inclinações são naturais e não são tão más assim, enquanto que, na verdade, são insufladas pelo próprio demônio invisível. Agindo assim, o ataque tem mais chance de sucesso, pois não estamos vigiando, não estamos pensando que somos miseráveis e que a ideia positiva que temos de nós mesmos, longe de ser algo comum ou aceitável, nada mais é que um passo em direção para o abismo. Cuidemos em ceder nas pequenas coisas, pois devemos antes ver se fazemos realmente tal coisa com o intuito de agradar a Deus ou se há outra origem, lembrando que entre Deus e o pecado não há uma terceira opção…
Não devemos ser ingênuos achando que os únicos males são os grandes exageros, como matar ou roubar, enquanto isso, o demônio nos convence a aceitar males menores preparando-nos para cair nos maiores. Aceitamos uma pequena mentira, um desleixo no fazer as coisas, as curiosidades de tudo saber e tudo ver. A Missa é um ótimo momento para darmos um basta nesse comportamento relaxado e pedirmos a Deus as graças necessárias.
O demônio ruge como um leão, pois nos faz ter medo de tudo, nos faz achar o bem difícil demais de ser feito e um obstáculo grande demais para ser vencido. Quem não coloca sua força em Deus, se crê já vencido ao primeiro rugido do demônio e pára de combater. Se o demônio ruge para nós, é um sinal de que ainda não somos sua presa. Deixemos o demônio rugir à vontade, contanto que estejamos sempre unidos a Cristo, com o qual tudo podemos, até vencer o poderoso demônio. Assim fez Santa Teresinha, sabendo estar com Cristo, fez o demônio fugir de medo, como lemos no seu livro História de uma alma.
Do mesmo modo que devemos estar atentos aos sinais de Deus no mundo, nas coisas boas que fez, nas boas ações e bons pensamentos, também devemos estar atentos ao dedo do demônio nas más ações, em certos comportamentos e pensamentos. Estejamos atentos quando vemos alguém agir irracionalmente ou com malícia, não no sentido de que a culpa seja exclusiva do demônio e não da própria pessoa, mas sim no sentido que a pessoa está deixando o demônio agir em sua alma, por culpa própria, em suas palavras, em seu comportamento, não espelhando o bem que Deus lhe concedeu. Não bastam apenas as armas naturais nesse combate, será preciso também de armas espirituais, como a oração, os sacramentos e sacramentais. Alertemos, com caridade, nossos próximos que podem estar sendo atacados pelo demônio, cedendo ao uso de palavrões, ou pelas escolhas imprudentes que fazem, brincando com o perigo, ou ainda se distraindo e distraindo outros durante a Missa, através de palavras inúteis ou pelo uso desnecessário do celular.
Lembremos sobretudo do auxílio de Nossa Senhora, terrível para o demônio como um exército armado para a batalha, como a torre de Davi no Antigo Testamento, que é capaz de, com um simples olhar de pureza e humildade, afastar o demônio, que não suporta aquilo que lhe é profundamente contrário.
Fujamos daquilo que faz nossa alma dormir, saibamos que o demônio realmente existe, é uma pessoa diferente de nós mesmos, apesar do que hereges disfarçados de eclesiásticos o digam, ele age em nossas vidas.
Enfim, São Pedro dá qual postura devemos ter nessa batalha contra o demônio e seus filhos, resistite fortes in fide, isto é, devemos resistir fortes na fé.
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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