Sermão da Vígilia do Natal 2017

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Hoje celebramos a Vigília que precede o Natal. A Igreja, mestra em humanidade, sabe o quanto o ser humano é distraído e tem dificuldade de entender o valor correto das coisas e, por isso, para ressaltar a importância de um evento, ela faz com que ele seja precedido com uma Vigília, que prepara nossas atenções para algo grandioso que está por vir.

No caso do Natal, poderíamos dizer que além da Vigília de hoje, que mostra a Igreja como que ansiosa para receber o menino Jesus, tivemos não apenas um dia, mas como que um mês inteiro de Vigília, pois desde o começo do Ano Litúrgico a Igreja nada mais fez do que anunciar a vinda daquele que era aguardado ansiosamente por tantos patriarcas e profetas. Nos últimos dias, a ansiedade é tanta que a Igreja no seu Ofício Divino começa a literalmente contar os dias, dizendo: faltam 5 dias, faltam 3 dias e assim por diante.

Para os que tiveram a felicidade de se preparar para o Natal através da Novena de Natal de Santo Afonso de Ligório, vemos que apesar de todas as nossas misérias e infidelidades, Deus faz de tudo para se aproximar de nós. O pecado não é a palavra final da história, Deus existe e interveio nela. Esse evento, o Natal, é algo que foge da compreensão humana sobre Deus, pois em nada Deus era obrigado em se fazer carne e habitar entre nós. Deus faz isso livremente e por pura generosidade para conosco.

A humanidade, que sucumbiu às trevas depois do pecado original, pode agora novamente deslumbrar a luz divina. São Paulo já dizia: “outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: Andai como filhos da luz” (Ef 5, 8). Ora o fruto da luz é bondade, justiça e verdade, procurando o que é agradável ao Senhor.

Devemos ser filhos da luz, e nossa luz deve iluminar os outros, seja pelos bons conselhos advindos da verdadeira fé, seja principalmente pelos bons exemplos, que brilham muito mais que as palavras sem obras.

As trevas do mundo parecem como que crescer a cada dia, tirando a esperança e até mesmo a vida de muitos. Ora, as trevas apenas crescem quando a luz diminui, pois onde há menos iluminação, há mais trevas. O ódio à escuridão, tomado no seu sentido simbólico, deve ser tanto quanto maior quanto maior for nossa vontade de afastá-la.

Em primeiro lugar devemos ter a luz, isto é, a fé que tudo ilumina e mostra claramente o caminho a seguir. Para crescer essa luz, é preciso crescer na compreensão do catecismo e da Bíblia, através de meditação e oração.

Em segundo lugar devemos ter a esperança, pois sem ela não temos coragem de enfrentar as trevas do mundo e perderemos o combate antes mesmo dele começar. Por causa de todas as nossas misérias, nossa esperança não deve estar em nós, mas sim em Deus que é a garantia de que podemos vencer esse combate. Da nossa parte consiste o não desistir e lutar até o último suspiro, mesmo com a impressão humana de termos fracassado em nossas vidas.

Em terceiro lugar nossa luz não deve ser como a luz fria da geladeira, mas sim uma luz que abrasa e nos mantém vivos na vida da graça através da caridade sempre operante. Operante não apenas em fazer o bem, mas também em suportar com paciência o mal.

É difícil não ver hoje como a vida católica é um notável diferencial daquilo que se vê comumente no mundo. O homem moderno não sabe para que vive, age de modo impulsivo e irracional, e se desespera diante da realidade, principalmente ao ver quão grande são as próprias misérias, mesmo tentando escondê-las a todo custo.

Nós, católicos, possuidores da luz, temos a certeza da nossa razão de existir e temos a força em Deus para vencer todo e qualquer obstáculo. Por isso, ao invés de lamentarmos nossas misérias e as misérias do mundo moderno, o católico deve estar confiante em Deus que tudo podemos superar. Quanto mais pensarmos nas nossas forças e menos em Deus, mais triste ficamos. Por isso, como ensina o “fazer o contrário” de Santo Inácio, devemos pensar mais em Deus e menos em nossas forças quando nos deparamos com algo triste.

Quanto mais forte a luz da fé brilhar em nós, tanto mais não devemos temer o que os outros pensam de nós. Estamos convictos, não há lei humana, livros ou maus exemplos que podem nos convencer do contrário. Os maus nos perseguirão, mas não devemos temê-los, mas ajudá-los a ver a luz da verdade. Nosso único real inimigo e único motivo de tristeza é o pecado, mas o Natal lembra justamente Aquele que veio para nos salvar.

No deserto deste mundo, Jesus virá no Natal como o maná que caiu do Céu.

Peçamos no presépio ao menino Jesus a graça de não sermos indiferentes à sua vinda, mas que Ele nos auxilie aumentando em nós a fé, esperança e caridade, para podermos levar essa luz a tantos quantos ainda vivem nas trevas.

Todos estão convidados a permanecerem após a Missa para meditar conosco o último dia da Novena.

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

 

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