Redes Sociais: Parte IIISermão do III Domingo do Advento

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

4. Pela própria estrutura das redes sociais, as informações chegam até as pessoas de modo muito superficial e sem ordem. Pouco ou nenhum espaço de tempo é deixado à reflexão, à comparação de opiniões, etc. Isso anula a vida de estudo, que exige tempo, reflexão, memorização de conceitos fundamentais e compreensão mais profunda deles, etc. Consequentemente, a pessoa fica com um padrão de pensamento sem abstrações, muito concreto e infantil. Não consegue compreender adequadamente analogias, comparações, etc.

Se alguém pretendesse conhecer medicina depois de assistir algumas matérias de jornal sobre saúde, todos veríamos o quanto essa pessoa é superficial e não sabe do que está falando. Na internet e nas redes sociais vemos um comportamento igualmente pretensioso em questões importantíssimas de filosofia e, sobretudo de Teologia. Pessoas sem qualquer formação, que têm a pretensão de dar soluções a problemas graves da Igreja. Quantas vezes as opiniões pessoais publicadas ou as soluções apresentadas são incoerentes, insustentáveis teologicamente, e capazes de levar a consequências práticas absurdas. E a pessoa nem sequer se dá conta, simplesmente porque não tem qualquer base para dar opinião, quanto mais para refletir sobre o que está dizendo. E o pior é que depois de ser advertida das coisas erradas e perniciosas que defende, ela permanece obstinada na própria opinião, porque é egocêntrica e, sem se dar conta, tem muitos modos errados de pensar, que adquiriu por viver no mundo moderno, e que não foram corrigidos por uma boa formação intelectual e espiritual. Sem se dar conta, adquiriu uma estrutura moderna, e não católica, de pensamento. São cegos guiando cegos.

Além disso, a vida de oração e a vida intelectual andam de mãos dadas. Afinal de contas, quando nos recolhemos para meditar e rezar, se não temos nada em mente que veio pelo estudo e pela leitura atenta a séria, sobre o quê meditaremos? Iremos nos apoiar em quê para elevar nossa alma a Deus? Como é possível ruminar verdades em nossa inteligência se temos o estômago da memória vazio de conteúdo?… Aqui também, o uso imaturo das redes sociais prejudica muito a oração, e sem oração é impossível adquirir virtudes, se reformar, amar mais a Deus  e se salvar.

5. As redes sociais destroem a separação que deve existir entre a esfera privada e a esfera pública. Esta separação é uma condição necessária para existir qualquer sociedade civilizada. Mesmo na vida privada há coisas mais íntimas ainda do que outras: os quartos ficam mais escondidos numa casa, depois da sala e da cozinha. A lavanderia fica numa parte menos visível da casa. São os selvagens que vivem sem separação entre o público e o privado. Em muitas tribos de índios, todas as famílias viviam numa só oca, grande o suficiente para todos. É óbvio que isso partia de um funcionamento defeituoso das inteligências (de como as pessoas devem se comportar umas com as outras, etc.) e levava a todo tipo de problemas morais.

É a filosofia moderna, aplicada na arquitetura e no urbanismo das cidades, que prega o fim dessa separação entre o público e o privado: as fachadas das casas devem ser transparentes, de vidro, e o interior da sala deve ser visível para as pessoas que passam na rua. Os arquitetos modernos chamam isso de arquitetura sincera… oposta à hipocrisia das fachadas que não expõe o interior das casas… Um absurdo. Outro exemplo bem atual é o das academias de ginástica. Em si, as academias de ginástica já são uma vergonha. É evidente que são tão condenáveis quanto às praias e piscinas. Os mesmos princípios se aplicam. Tudo nas academias, como nas praias, cheira a um “naturalismo visceralmente anticatólico”. E agora suas fachadas são de vidro, para que todo mundo possa ver da rua o que se faz nas academias.

A consequência disso é que a vida pública não é mais o lugar onde acontecem as grandes discussões e debates sobre a política, o bem comum da sociedade, as grandes questões que determinarão os rumos da vida social e do país. A esfera pública tornou-se a vitrine da vida privada, e nossa sociedade se comporta como os selvagens. Expomos em público nossa vida privada. Uma selvageria. E os grandes problemas que dizem respeito à vida política do país são ignorados pela maioria da população, porque está interessada em falar de futilidades privadas, sobre simulacros ilusórios criados pelas pessoas. As pessoas ficam vazias de princípios que permitem julgar os fatos da política por um olhar católico. É fácil, assim, iludir o povo com um discurso pronto vindo da direita ou da esquerda, e fazer as pessoas irem a manifestações nas ruas, lhes dando a aparência de que se preocupam com o futuro do país, que estão participando do governo e achando que estão realmente informadas dos problemas e mudando a política… ao mesmo tempo que não se reformam a si mesmas e são conduzidas à esquerda e à direita como gado.

6. Quanto aos problemas morais mais comuns das redes sociais, eles são:

a) Vaidade, porque o que se coloca na página é para que alguém veja, comente, concorde, goste. Procura-se colocar algo que as pessoas aprovem e te deem razão; curiosidade sobre a vida alheia, perda de tempo, ócio. Consequências: preguiça espiritual, grande chance de impureza, superficialidade, não cumprimento dos deveres de estado.

b) Atenta muito contra a mansidão. Muitas vezes leem-se coisas que não agradam e entra-se sempre em discussões infrutíferas, nas quais ninguém será convencido, mas no mínimo se perderá a paz. Frequentemente terminam em desavenças e ofensas contrárias à caridade, produzindo inimizades e ódios. Ocorre principalmente com publicações contra a Igreja, nos meios católicos. Mas com as pessoas não católicas as rixas acontecem a respeito das questões mais deploráveis.

c) Dá para a pessoa a ilusão de que ela é corajosa. Na internet a pessoa escreve tudo o que pensa sem critério, sem respeito pela autoridade, sem reflexão. Acha que está sendo sincera, grande defensora da verdade, da doutrina, corrigindo os erros, esclarecendo as pessoas, etc., etc. Ao mesmo tempo, são pessoas que sequer rezam uma dezena do terço por dia, não fazem oração da manhã, nem da noite, nem se dão conta de como o tempo que passam na internet prejudica os deveres mais básicos de estado como pai e mãe, esposo e esposa.

d) Ofende a pureza: Não tem como controlar o que é visto. Ao rolar a página, tudo pode ser visto, mesmo que limite os contatos a um grupo confiável.

Os escândalos que foram dados permanecem, ainda que a pessoa que os publicou tenha se arrependido e, no que depende dela, os tenha apagado. Muitas vezes as fotos e comentários antigos, de uma vida passada e ruim, ficam gravados em outros lugares, replicados por terceiros, onde o conteúdo não depende de nós, e por mais que façamos o possível para apagá-los, muitas vezes nossa vida passada permanece para sempre exposta.

e) Perde-se muito tempo mantendo a página atualizada, observando o que os outros publicam, lendo o turbilhão de informações que aparece, mas sem de fato se aprofundar em nada. Horas desperdiçadas.

f) A curiosidade é sempre provocada. Uma foto, uma informação, algo mínimo, te leva a querer investigar mais e mais sobre algo que nem se conhecia antes e que não tem porquê conhecer.

g) As redes sociais nivelam por baixo. Quem usa nem consegue perceber o quanto pode estar sendo imodesto, porque as demais pessoas estão tão fora do padrão que não enxergamos nossos erros mais claros.

h) Contato com pessoas de uma vida passada, sendo tentação para achar que elas são felizes com a vida não católica que levam e que ao nos convertermos abandonamos a aparente felicidade que vemos nas publicações. Surgem tentações de desânimo e a vontade de voltar à vida ruim que tínhamos antes. Já comentamos o quanto essas publicações são, na verdade, simulacros e falsidades.

Uso necessário: trabalho, estudo (há professores que passam a matéria por meio de redes sociais), divulgar eventos de uma paróquia ou grupo, por exemplo; ainda assim, a pessoa precisa ter bem claro que ela precisará usar as redes sociais fazendo força para ir no sentido contrário ao qual elas estão inclinadas; Outro uso justificável é a divulgação de eventos de apostolado – não se enganar: o apostolado se faz, de fato, homem a homem. A divulgação e presença de muitas pessoas não é um apostolado consumado. É necessário ensinar, dar princípios, convicções, exemplo, a pessoa precisa mudar de vida, abandonar os maus costumes, adquirir bons hábitos, etc. Isso só pode acontecer por uma ação homem a homem. Só a internet não converte ninguém. Ainda mais quando tudo permanece num mundo virtual com todos os defeitos que falamos.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Os comentários estão fechados.

Navigate