Sermão do XVIII Domingo depois de Pentecostes

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Hoje terminamos aquelas considerações que nos parecem necessárias quando se trata de constituir uma família, mais voltadas para as moças, porém perfeitamente aplicáveis aos rapazes. E gostaríamos de terminar hoje com três pontos.

Primeiramente, os noivos não devem simplesmente se contentar em não fazer dano a quem amam: é preciso buscar fazer todo o bem possível. Uma casa de uma família é uma escola de virtude, de santidade, de vida católica. O Catolicismo deve ser a vida dessa casa. Uma das finalidades do casamento é a ajuda mútua, entre os esposos, dos pais para com os filhos, dos filhos para com os pais, dos irmãos entre si. Este trabalho de aperfeiçoamento moral entre os esposos precisa começar durante o noivado. Lembrem-se: Deus fez a mulher para ser uma ajuda ao homem, e o demônio pretende fazer com que ela seja uma armadilha para ele.

A prática de piedade mais recomendada para os noivos é a freqüência aos sacramentos, confissão e comunhão. São a melhor garantia de um noivado cristão. Que eles busquem fazer isso juntos, tanto quanto possível, todos os dias se possível, ou ao menos nos domingos. Alguns noivos costumam rezar uma Ave Maria antes e depois de se encontrarem. Evidentemente, essas conversas serão abençoadas por Deus, no instante mesmo, e para o futuro. Que os noivos e esposos rezem juntos, isso é uma prática propriamente católica. Esposos que rezam juntos permanecem juntos.

Em segundo lugar, há certos defeitos nas esposas que chegam a ser assunto de brincadeiras, e que merecem algumas linhas aqui. Antes de mais nada, faço questão de homenagear as numerosas mães de família que merecem nossa admiração pela preocupação em não desperdiçar o salário que o marido lhes entrega e que deve sustentar a família até o próximo pagamento, e que fazem as “coisas” durarem até o próximo pagamento. Sei de um padre que contava como via muitas vezes sua mãe sair de casa, com um cansaço infinito, para ir suplicar às Madres superioras ou aos Padres reitores que lhe concedessem algum abatimento na conta do colégio. Sem dúvida, elas estão bem próximas da Santíssima Virgem no pobre lar de Nazaré. Não é verdade que todas as mulheres sejam gastadeiras sem juízo. Além disso, outro exagero a evitar é o dos maridos avarentos, que regulam até mesmo os centavos de modo excessivo, e nem percebem que trabalham ativamente contra o amor. Dito isso, é verdade que há esposas incapazes de se dar conta de que sucumbem diariamente ao pecado da prodigalidade. Gastam a torto e a direito e acham ainda que estão fazendo boas pechinchas.

Outro defeito, que se esconde sob a aparência de zelo, é o de ficar exageradamente preocupada com a ordem e a limpeza na casa. Evidentemente, é preciso bom senso… nada de camisas precisando de conserto, em cima da mesa da cozinha cheia de migalhas de pão… Mas o sentido da ordem e da limpeza não deve ser confundido com o culto louco do polimento. Uma vez o Pe. Sertillanges visitou um convento de freiras. Ele achou tudo novo demais, limpo demais. Ao felicitar a Madre superiora, ele falou: “Sua casa está quase perfeita. Só falta uma coisa: um pozinho aqui e ali”. Numa casa esses exageros podem levar aos maiores problemas: a superlimpeza é colocada acima do sossego, da paz e da tranquilidade, o marido chega do trabalho e recebe uma saraivada de censuras, críticas e observações saturantes. Ela nem percebe que trabalha ativamente contra o amor, e que faria muito bem para seu casamento se deixasse de lado o espanador e criasse um ambiente humanamente mais agradável.

Outros problemas semelhantes são causados por tantas esposas que mantém um estado de espírito do tipo: “Que azar ter um marido como o meu. É um bom homem, sem dúvida, mas tão sem graça, tão comum!” Igualmente aquelas que se arrumam para que estejam apresentáveis e belas (e têm todo o direito e fazê-lo, lógico), mas que encenam um drama caso o esposo não se dê conta do novo visual… (talvez porque esteja com a cabeça em preocupações certamente maiores e justificáveis); ou aquela que busca amar o seu marido demais, com um amor extremamente aderente… porque sempre desconfia do esposo. Do mesmo modo que alguém profundamente feliz não fica esbanjando loquacidade para provar para todos que é feliz, e do mesmo modo que uma pessoa não pensa sempre que respira quando o ar é puro, também o amor entre os esposos. Quando se fica constantemente preocupada com a existência de motivos para amar, é sinal de um problema…

E aqui entramos na terceira consideração, que soluciona todos esses exageros possíveis de existir num casal. Nós falamos da última vez que o cavalheirismo e a dignidade devem se manifestar por uma sinceridade mútua total  e completa, para que os noivos se conheçam a fundo e vejam se podem unir suas vidas numa nova casa que eles vão fundar. Esses defeitos são todos corrigidos se olhamos para a finalidade da existência humana e do casamento: povoar o Céu.

Pois bem, este exame prévio do modo como cada um pensa deve ser sobretudo e primeiramente quanto aos grandes problemas morais que fazem parte de qualquer matrimônio, em dúvida. Cada noivo deve “obter” do outro (de modo espontâneo, vendo o que o outro pensa, como age, seus comentários, que educação recebeu, de que família vem, etc.) a segurança total e convicta de que nunca atentará contra a Lei de Deus no matrimônio. Sem essa garantia prévia, obtida por convicção autêntica, não poderia haver um só instante de vacilo em acabar com o noivado, renunciando a um matrimônio que levará a uma vida contínua de pecado e de angústia e, finalmente, com grandíssima probabilidade, à condenação eterna.

Quantas jovens esposas se vêem obrigadas a chorar lágrimas de sangue durante toda sua vida porque não se asseguraram, antes do matrimônio, quanto ao modo de pensar e quanto às verdadeiras intenções de seu futuro esposo em torno de problemas morais tão básicos quanto fundamentais! Essa lágrimas agora vêm tarde demais. Era melhor que tivessem terminado a tempo o noivado e o convívio tão querido com o noivo e chorado, sem dúvida, por um tempo maior ou menor, porém limitado. Agora chorarão por toda a vida sem esperança de remédio.

Muitas moças casaram porque queriam “resolver suas vidas”. Por causa disso, fecharam os olhos voluntariamente (essa é a verdade) para problemas fundamentais do noivo que tinham. E a verdade também é que elas agora são totalmente responsáveis pelo que fizeram, bem como antes, durante o noivado.

Se há algo que eu pudesse dizer para resumir tudo o que foi dito ao longo desses sermões, é que ao casarem, vocês, rapazes e moças, vocês serão os novos chefes da sociedade, cada um na sua esfera familiar. Da capacidade humana e da virtude de vocês dependerá toda a sociedade. Não se iludam: a beleza e a vitalidade da juventude de vocês existem para trabalhar em adquirir o que será necessário à futura família (virtudes, habilidades humanas, etc). Não ajam como a cigarra, que passou apuros no inverno. Ao casar, (assim como ao ser ordenado sacerdote ou tornar-se religiosa) vocês não estão entrando em um estado de vida para resolver problemas pessoais, levar a própria vida e não assumir responsabilidades. Vocês assumirão responsabilidades eternas. O tempo da diversão e da infância acabou. Vocês serão chefes, e a História será escrita por cada um de vocês, na medida em que Deus quiser. Tenhamos valentia, humildade, amor por Deus e confiança nele.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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