Sermão do XIX Domingo depois de Pentecostes

Ao cantarmos o Tantum ergo, em honra de Nosso Senhor na Eucaristia, terminamos dizendo que Deus nos deu o Pão dos Céus, que tem em si todo deleite: “Panem de caelis praestitisti eis: Omne delectamentum in se habentem“. Mas é por falta de conhecimento que nosso amor é tão fraco para com o Santíssimo Sacramento, e por isso não o tratamos como deve, nem desejamos com ardor que venha em nosso peito, e ficamos sem recebê-lo.

São Felipe Neri conta o caso de uma mulher que tinha algumas colmeias, mas que não lhe davam mel porque as abelhas estavam doentes. Por conselho de uma pessoa simples e que não compreendia o absurdo que aconselhava, foi comungar e, sem engolir a hóstia, levou ocultamente o Santíssimo e o colocou dentro de uma das colmeias. A doença das abelhas acabou; e vindo o tempo da colheita do mel, ao abrir a casinha, ela viu que as abelhas tinham construído uma igrejinha de cera com suas janelas, torres e sinos; e no altar havia um cibório, e dentro dele a sagrada hóstia; ao redor da qual andavam todas voando, e zunindo mansamente. O milagre foi tornado público e o Santíssimo foi levado até a Igreja numa procissão solene.

É interessante notar como Santo Ambrósio chama o Ssmo. Sacramento de mel recolhido das flores de várias virtudes. E para que Nosso Senhor não fique tão bem honrado pelos animais irracionais, mas ignorado por nós, ao longo de alguns sermões veremos certas verdades sobre o Ssmo. Sacramento que são tão desconhecidas de muitos, mas que são verdadeiramente extraordinárias. A Presença real de Nosso Senhor na hóstia é o mistério da fé, e há muita falta de fé sobre este mistério: em uns, porque está morta por não terem a caridade e viverem em pecado; em outros porque está fria, sem exercitá-la.

Ela se chama Comunhão, porque une os fiéis com Cristo, cabeça do Corpo místico ao qual pertencem, e assim une os fiéis entre si. E quando olharmos os muitos fiéis que se aproximam juntos da sagrada mesa da Comunhão, e o sacerdote vai passando e lhes dando Nosso Senhor, compreendam que isso é a mesma coisa do que Jesus Cristo usar do sacerdote como uma agulha e ir passando um por um pelo fio vermelho de Sua carne e de Sua caridade, lhes colocando em comum união.

São João Damasceno, partido da verdade de que Deus é por natureza infinitamente bom, afirma que Ele é também infinitamente comunicativo dos bens que tem, tanto quanto o permitimos e o quanto a sua providência quer. Pela Encanação, Deus se comunicou pessoalmente à natureza humana singular de Cristo. Este dom foi infinito, mas foi dado somente a uma única natureza humana singular. Para estender este dom a todos os homens, do modo como era possível recebê-lo e do modo como sua providência via que era mais glorioso para Ele, resolveu que o receberíamos no Ssmo. Sacramento, e assim ficaríamos nós nele, e Ele em nós, como se fôssemos deuses menores por participação, ou como se fôssemos outros Cristo. Por isso os Santos Padres chamam a Sagrada Eucaristia de extensão da Encarnação: porque a divindade, que na Encarnação se comunicou singularmente só à humanidade de Nosso Senhor, nos é comunicada na Sagrada Comunhão e nós participamos dela por graça.

Já estas duas ponderações bastam para vermos o quanto Deus nos ama e sua caridade é infinita, e como Ele nos criou para coisas tão elevadas e divinas que se não nos fossem reveladas, nossa inteligência jamais conseguiria suspeitar que seriam coisas possíveis de existir; quanto mais de acontecerem conosco. E se juntarmos a estas verdades mais alguns afetos e pedidos, é um bom ponto para se fazer oração mental. O tempo não me permite, hoje, fazer mais considerações, mas todos nós podemos suprir o que falta aqui com um pouco de oração, cada um em sua casa e durante a missa e, assim, desejar mais nos aproximar de Nosso Senhor na hóstia, porque se é verdade que Deus nos dá seus bens com generosidade, é também verdade que nós os aproveitamos na medida em que os desejamos.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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