Sermão do II Domingo do Advento (2017)

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Lemos no Evangelho de hoje Jesus descrevendo a si mesmo aos discípulos de São João Batista: relatem a João o que viram e ouviram; os cegos veem, os mancos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. Vejam bem a preocupação de Jesus com os pobres, que eles sejam evangelizados. Jesus não se preocupa com a conta bancária deles, mas com a Verdade que deve ser conhecida por todos, inclusive pelos pobres.

Quando alguém fala dos pobres apenas no sentido de pobreza material, não temos um seguidor de Jesus, mas um seguidor de Judas Iscariotes que é quem sempre pensava em dinheiro. Jesus já dizia: “porque sempre tereis pobres convosco, mas a mim não me tereis sempre” (Jo 12,8). A pobreza sempre existirá no mundo enquanto houver o pecado, aliás, a pobreza e a injustiça na distribuição de renda são fruto do pecado. Atacar o efeito sem atacar a causa é perder tempo.

Frequentemente quando um pobre vê um padre de batina na rua, não lhe pede conselhos, bênçãos ou confissão, mas pedem dinheiro. Eles infelizmente confundem padre com banqueiro, pois não é próprio do padre andar com notas de 100 no bolso para fazer aviãozinhos de dinheiro com elas, mas sim com um terço. Esse comportamento dos pobres existe, pois o Brasil foi infectado pela Teologia da Libertação que apenas fala de dinheiro e nada da vida espiritual ou do Evangelho. Ao contrário, ainda possuem a audácia de distorcer o Evangelho como se lá apenas se falasse de problemas materiais e nada das realidades espirituais. Como toda heresia, é feito um corte do Evangelho mostrando apenas um lado e omitindo outros.

Um católico de verdade o qual segue a Igreja de 2000 anos, e não o simulacro criado pelos hereges depois do Concílio Vaticano II, sabe que o objetivo do católico não é ter uma vida de conforto nem proporcionar o conforto a todos, pois nosso exemplo de vida é Jesus, cuja vida não foi nada confortável. Devemos antes de tudo buscar a verdade, para tê-la tanto na inteligência quanto nas ações, isto é, uma vida virtuosa, a qual, secundariamente, consiste em aliviar a pena dos outros. Se não praticamos os mandamentos e damos dinheiro para os pobres, enganamo-nos a nós mesmos, achando que tais práticas irão bastar para nos salvar sem haver antes a conversão do coração e a penitência pelos pecados.

Maldito daquele que usa a prática da esmola para se achar bonzinho e não abandonar os seus pecados. São Luiz de Montfort já fazia antes tal análise para os falsos devotos de Nossa Senhora que usam das práticas externas de devoção para se manter no pecado presumindo-se seguros do inferno.

São Paulo é bem enfático: “ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, nada (disto) me aproveitaria” (1 Cor 13,3).

De modo algum a conclusão de tudo isso é para que não ajudemos os pobres e o abandonemos nos seus sofrimentos, mas devemos respeitar a ordem das coisas. Primeiro buscar a caridade numa vida santa e, em seguida e por causa dela, ajudar o próximo, sejam eles pobres ou não. Como é possível haver a caridade num suposto católico brasileiro que tanto fala dos pobres e participa de “pastorais sociais”, se ele mesmo não se confessa pecador há vários anos, enquanto que a Igreja diz que é pecado grave ficar mais de um ano sem se confessar?

A missão da Igreja Católica é continuar a obra de Jesus de ensinamento e santificação dos homens. As últimas palavras de Jesus, por serem as últimas registradas no Evangelho de S. Mateus, denotam algo de singular importância justamente por serem as últimas. E o que dizem elas? “Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei” (Mt 27,19). Vejam a importância do verbo ensinar pelo uso dele várias vezes nessas frases. Por isso, reduzir a Igreja a uma ONG é negar a Palavra de Jesus, pois o conhecimento precede a prática, como nos ensina o bom senso e a teologia católica. Não há ortopráxis sem antes haver ortodoxia.

Nosso inimigo é, portanto, o pecado, pois se fosse a pobreza, não faria sentido a Igreja louvar a criação de ordens cujo centro está justamente no voto de permanecerem pobres. Aliás, o dinheiro, sobretudo no mundo atual, é um poderoso veneno, principalmente para os mais simples que não sabem usá-lo corretamente. É preferível dar alimento diretamente aos pobres do que dinheiro, pois eles podem trocá-lo por drogas ou outras coisas que lhe farão mal. Ao dar alimento para um pobre desconhecido, convém dar com a embalagem aberta, pois até nisso eles podem usar mal revendendo o objeto em troca de dinheiro para usos ilícitos. Aliás, se um pobre reclamar que o saco de arroz está aberto, é sinal que não é um pobre de verdade, o qual aceita até um grão de arroz com alegria.

Enfim, aproveitemos esse tempo do Advento para nos prepararmos bem para o Natal, abandonando nossos apegos terrenos, sobretudo materiais, e como forma de penitência (para os que ainda estão apegados) ou forma de caridade (para os que estão inebriados pelo amor divino) gastemos uma parte do nosso tempo em prol dos necessitados, seja ajudando-lhes materialmente, seja espiritualmente. Há várias paróquias em São Paulo que possuem uma lista de famílias pobres cadastradas que necessitam de comida, podemos muito bem nos inteirar de tal prática e contribuir de alguma maneira, assim calamos os hereges que criticam, com razão, alguns católicos que ficam só na Palavra e não a transformam nunca em ação.

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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