Sermão do II Domingo depois de Pentecostes

Um certo homem fez uma grande ceia, e chamou a muitos. (…) E todos ao mesmo tempo começaram a se desculpar. (…) Peço que me dispense.

(S. Lucas 14, 16-19)

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria.

Antigamente a Festa de Corpus Christi era seguida de uma oitava. Assim como na Antiguidade, entre os judeus, as festas de casamento duravam uma semana, durante uma semana a Esposa de Cristo continuava a honrar seu Esposo presente na Santa Eucaristia. É neste contexto que a parábola de hoje foi escolhida pela Igreja.

Compreendemos facilmente, também nesse contexto, que a grande ceia preparada pelo homem da parábola de hoje, e à qual muitos foram convidados, é vista pela Igreja como figura da Santa Missa, instituída por Deus e à qual ele deseja que todos nós estejamos presentes.

Nos domingos e festas de preceitos somos obrigados a assistir à Missa sob pena de pecado mortal. Muitas pessoas já não compreendem porque o fato de deixar de assistir à Missa aos domingos e dias santos sem ter motivo sério é uma falta grave e acham isso um exagero. Infelizmente, muitos já não sabem ou não querem compreender que a Santa Missa é o maior bem que nós temos na terra.

Na Quinta-feira Santa, antes de começar a sofrer na sua Paixão, Nosso Senhor disse aos apóstolos: “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco antes de sofrer” (S. Lucas 22, 15). Os termos que São Jerônimo usa na sua Vulgata são ainda mais eloquentes: “Desejei com desejo“. Estes termos, usados por Cristo para exprimir o desejo dele de celebrar a primeira missa, mostram a grandeza do valor que ela tem aos olhos de Deus. Toda a vida de Nosso Senhor foi voltada para instituir este sacrifício.

Jesus Cristo morreu para fazer um padre e instituir a Santa Missa. Não era necessário que o Redentor morresse para salvar o mundo: uma gota de sangue, uma lágrima, uma prece lhe bastava para salvar todos os homens; porque, sendo esta prece dum valor infinito, era suficiente para salvar, não um mundo, mas milhares de mundos. Pelo contrário, foi necessária a morte de Jesus Cristo para fazer um padre e instituir a Santa Missa. De outro modo, onde se encontraria a Vítima que os padres da lei nova oferecem hoje a Deus, Vítima santíssima, sem mancha, só por si suficiente para honrar a Deus duma maneira condigna de Deus? O sacrifício da vida de todos os anjos e de todos os homens não seria capaz de prestar a Deus a honra infinita, que lhe presta um padre com uma só missa.

O sacrifício da missa é a obra mais santa e agradável a Deus. É a obra mais capaz de aplacar a cólera de Deus contra os pecadores e de abater as forças do inferno; é a obra que obtém graças mais abundantes para os homens na terra e maior alívio para as almas do Purgatório; é, finalmente, a obra a que está ligada a salvação do mundo inteiro.

Tendo compreendido isso, é fácil compreender porque somos obrigados, pelo terceiro mandamento do decálogo e pelo primeiro mandamento da Igreja a assistir à Missa aos domingos e festas sob pena de pecado mortal. Pela Missa nos vem todas as graças como acabamos de dizer. Deixar de assistir à Missa aos Domingos sem ter uma razão séria, sem ter uma razão proporcional, traz para nossas almas grandes prejuízos. Deixamos de honrar Deus como lhe é devido. Deixamos de agradecer-lhe como lhe é devido. Deixamos de obter graças abundantíssimas para a nossa salvação. Deixamos de obter graças imensas de verdadeiro arrependimento. Trocamos um tesouro de valor infinito por uma criatura, pela preguiça, por uma diversão ou outra coisa.

Numa palavra, segundo a expressão do profeta Zacarias, é a missa o que há de mais excelente e belo na Igreja: “Que há de bom, que há de belo, senão o pão dos escolhidos e o vinho que gera virgens? (Zacarias 9, 17)”. No sacrifício da missa, dá-se Jesus Cristo a nós, mediante o sacramento do altar, que é o fim e consumação de todos os outros sacramentos, como ensina Santo Tomás. S. Boaventura tem razão em chamar a missa de o resumo de todo o amor divino e de todos os benefícios de que Deus encheu os homens. Eis por que o demônio sempre se tem esforçado por tirar do mundo a Santa Missa por meio dos hereges, como por tantos outros precursores do Anticristo que, antes de tudo, cuidará de abolir e de fato abolirá, em punição dos pecados dos homens, o sacrifício do altar, segundo esta profecia de Daniel: “Por causa dos pecados, ser-lhe-á dada força contra o sacrifício perpétuo” (Daniel 8, 12). O Concílio de Trento tem muita razão em exigir que os padres ponham todo o seu cuidado em celebrar a missa com a máxima devoção e pureza de coração que seja possível.

Para manifestar o valor que a Santa Missa tem, a Igreja veste o padre com todos os paramentos que ele usa na missa, pedindo que eles sejam, tanto quanto possível, muito belos; ela pede que os fiéis recebam Nosso Senhor de joelhos e na língua – afinal de contas, se ao nome de Jesus todo joelho deve se dobrar, quanto mais diante de Nosso Senhor em pessoa; que o padre faça repetidas genuflexões durante a missa, após a consagração; pede que ele toque na hóstia com todo cuidado, só com o polegar e o indicador, e não use estes dedos para tocar mais nada depois da consagração até o fim da missa, quando ele os purifica com vinho e água. Da parte dos fiéis, a Igreja pede que eles se aproximem da comunhão não tendo pecados graves na alma (o que seria um sacrilégio), e vestidos conforme a modéstia católica, o que inclui ter os ombros e joelhos sempre cobertos pela roupa que usam – o véu não basta – e tudo o que está entre os ombros e joelhos. Ao determinar um modo de se vestir para receber a comunhão, a Igreja quer ensinar seus fiéis com que reverência eles devem se aproximar da Sagrada Comunhão, na qual recebemos Deus, mostrando isso também na roupa que usam.

O católico que deixa de ir à Missa, ou que a assiste sem devoção alguma, deixa de receber inúmeras graças, prejudica muitíssimo a sua vida espiritual e ofende gravemente a Deus, que quer ser honrado come lhe é devido, pela participação dos fieis à renovação do Sacrifício de Cristo. Assistir à Missa não é um fardo insuportável, mas é um grande bem para nossas almas e para a sociedade. Deus nos dá tudo e nós não somos capazes de lhe dar um momento na semana para ele? A Missa é o que há de mais importante na terra, é o nosso maior tesouro, pois é em virtude dela, em última instância, que nos santificamos. Nosso Senhor já preparou tudo e nos convida com insistência a assistir à Missa e a assistir bem à Santa Missa. Basta aceitarmos o convite, sem desculpas vãs como as dos convidados para o banquete.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

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